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Luciano Pires -

Jovem Deputado Federal pelo partido Novo, cuja atuação tem chamado atenção pela garra na defesa das ideias liberais. Neste LíderCast, um pouco de sua história e visão para a construção de um Brasil melhor.

Luciano Pires: Bom dia, boa tarde, boa noite. Bem-vindo, bem-vinda. Mais um LíderCast, o podcast que trata de liderança e empreendedorismo, com gente que faz acontecer. No programa de hoje, temos Marcel Van Hattem, jovem deputado federal pelo Partido Novo, cuja atuação tem chamado atenção pela garra na defesa das ideias liberais. Olha, esse rapaz vai longe, viu?

Marcel Van Hattem: “Senhor presidente, nobres colegas deputados e deputadas, prezada assistência nas galerias, imprensa, e autoridades presentes. Com muita honra assumo hoje, uma cadeira no parlamento gaúcho. Com muitíssima honra sim, mas também com muita preocupação. Vivemos tempos sombrios, enfrentamos três graves crises. Diferentes, mas relacionadas. A primeira crise política, é alarmante. Os partidos políticos, e os parlamentos, estão nos dois últimos lugares na credibilidade nas instituições, na opinião dos brasileiros. Para piorar, fomos governados até há pouco no Rio Grande, ainda somos governados em Brasília, por amigos de ditadores. Por defensores de uma ideologia Marxista, que não deu certo em nenhum lugar do mundo. E por tampouco, poderia dar certo por esses pagos. O Brasil vive os efeitos do casamento do Marxismo, com a corrupção, cujos principais rebentos, são o desrespeito às leis, e aos nossos valores mais caros, no ataque permanente as nossas instituições. A democracia representativa, e o Estado de Direito, agonizam, clamam por salvação.

A segunda crise, econômica, revela-se claramente com a alta dos preços, e a redução do poder de compra do salário de cada cidadão trabalhador. Sofremos com impostos extorsivos, incompetência de maus gestores públicos, roubalheira descarada do dinheiro dos pagadores de impostos, e excesso de amarras que o Estado historicamente elefante, inchado, e excessivamente burocratizado impõe a todos nós indivíduos. A livre iniciativa, meu caro líder, Deputado Frederico Antunes, o mérito, a transparência e a eficiência suplicam por uma chance. Por fim, uma crise moral nos assola. Vimos governos inchados por companheiros que sugam o dinheiro dos nossos impostos, enquanto não recebíamos nem o mais básico em serviços públicos.

Vemos criminosos impunes, e repletos de direitos, transitando armados e tranquilos pelas ruas, entrando em nossas propriedades, tomando nossos bens, enquanto o cidadão honesto refugia-se com medo em casa, desarmado, desamparado. Leis são desrespeitadas, por quem deveria dar o exemplo. A mentira virou estratégia vitoriosa de campanha eleitoral, instrumento de governantes para iludir a população. A inversão de valores é total. Nós, agentes públicos senhor presidente dessa casa, devemos respeito ao direito de propriedade, a transparência, a ética, e a moralidade no trato com o que é público, de todos, não de nossa propriedade particular. O Rio Grande, o Brasil, clamam por um basta, senhor presidente. Felizmente, há muita esperança. Desde o início do ano, contamos aqui no Rio Grande, com um desses sopros de esperança. O governador, José Ivo Sartori, cujo governo a bancada progressista integra, tem mostrado que não limitará seus horizontes a preciosismos ideológicos, ou a demagogias baratas. Nem vitimismo, nem derrotismo, nem bairrismo, disse nessa tribuna o senhor governador, em contundente fala, contra a burocracia excessiva, e os gastos públicos desnecessários.

Apoiarei toda a proposta de redução do tamanho do Estado onde ele não deva atuar. Não é moralmente aceitável que um governo se imiscua, em atividades atinentes unicamente a iniciativa privada. Ainda mais, quando policiais, professores, médicos, bombeiros e enfermeiros são mal remunerados, e pouco valorizados. Privatizar o que não deveria estar nas mãos do Estado, não é apenas uma convicção ideológica. É também dever moral, com quem tem compromisso e respeito com pagador de impostos, empreendedores, profissionais liberais, trabalhadores, aposentados, estudantes, enfim, com o povo gaúcho e brasileiro, representado por quem se encontra nessas galerias, e que está pagando a conta.

É, no entanto, senhor presidente, um trabalho que não se faz sozinho. Sou muito grato pelo suporte familiar, a minha família que está aqui presente. Dos meus amigos, e pelo amparo divino nessa trajetória. E sou grato a cada um dos 35.345 eleitores, que me dão hoje, essa oportunidade, alegria e honra de ocupar uma cadeira nesse parlamento. Com a minha voz nessa tribuna, e atuação nessa sociedade, buscarei com todos os meus esforços bem representá-los, com coerência, correção, transparência e eficiência. Quero também pedir e contar com apoio da minha bancada progressista, e de cada um dos senhores, nobres colegas deputados, e deputadas, para juntos, recuperarmos nosso Estado, dessa preocupante situação de crise que se encontra.

Ouço com frequência, senhor presidente, e aqui concluo. Diversas pessoas, que não dá mais para viver no Brasil. Já ouvi de muita gente, que na primeira oportunidade que surgisse de viver, estudar, ou empreender em outro país, deixariam o Brasil. Até há pouco mais de um ano senhor presidente, eu, eu, era um desses gaúchos, e brasileiros. Eu vivia, estudava e empreendia no exterior. Morei em países verdadeiramente democráticos, e que respeitam as liberdades individuais. Fiz o caminho inverso, no entanto. Retornei ao Brasil, e contei com apoio decidido de amigos e voluntários, estrada afora, que foram se somando a uma campanha por princípios e valores. Essa imensa força voluntaria e idealista, que me trouxe aqui, quer contribuir para as mudanças diárias para o nosso Rio Grande, e no nosso Brasil. E agora, tenho eu a oportunidade, de daqui do alto dessa Tribuna, ser a voz de muitos outros gaúchos e brasileiros, que no fundo também estão dizendo para si mesmos, eu não quero viver em outro país. Eu quero viver em outro Brasil. Um Brasil próspero, democrático, um Brasil livre!

Muito obrigado senhor presidente, muito obrigado a todos!”

 

Luciano Pires: Muito bem, mais um LiderCast jácomeçou diferente. Você ouviu aqui uma fala da pessoa que tá comigo aqui hoje. Deixa eu contar um pouquinho da história aqui, como é que ela começou. Lá para 2011, 2012, não vou me lembrar muito bem a data, eu recebi um texto que era um depoimento de um brasileiro que morava na Holanda, e que lá ele comentava a diferença entre você abrir um negócio na Holanda, e abrir um negócio no Brasil. E era uma coisa assim, impensável, em termos de burocracia, de custo, de papelada. E ele dava um panorama lá, do que era um país liberal, de um país onde era muito fácil você empreender, contra a dificuldade aqui no Brasil.

Eu usei aquele texto, em um Café Brasil, publiquei, foi muito legal. Passado algum tempo, eu recebi um e-mail dele agradecendo por ter usado o texto. Ele estava lá na Holanda ainda. Pouco tempo depois, ele volta para o Brasil, e aí começa uma loucura que não termina, mas pega fogo nesse trecho dessa fala emocionada que você ouviu aqui. E era emocionada, porque era o dia da posse dele como deputado estadual no Rio Grande do Sul. E a gente se falou bastante. Passou um pouco de tempo, a gente não se falou mais, e eu falei, bom, agora que ele não vem nunca mais, porque agora o bicho virou deputado federal, e com destaque. Mas, acabou que deu certo, ele teve a gentileza de reservar na agenda maluca dele, um dia para vir aqui. Chegou aqui, puxando a malinha, sozinho, de Uber, sem frescura, sem aquele monte de puxa-saco. Sentou aqui, nós vamos trocar a nossa ideia.

Três perguntas fundamentais que abrem nosso programa, que são as únicas que você tem que seguir ao pé da letra. Depois, pode chutar à vontade, tá? Seu nome, sua idade, e o que você faz.

Marcel Van Hattem: Muito bem, Luciano, muito feliz de estar aqui. Meu nome é Marcelo Van Hattem, 33 anos, sou jornalista e cientista político, mas nesse momento, sou político. Deputado Federal.

Luciano Pires: Deputado Federal Marcelo Van Hattem, que legal. Nasceu onde?

Marcel Van Hattem: Quem diria, eu diria, aliás.

Luciano Pires: Olha.

Marcel Van Hattem: Com o perdão da repetição, porque quando você leu aquele texto lá da Holanda, eu estava na Holanda, recebi até visitas do Brasil. Às vezes, de um conhecido que estava passando pela Europa, ou na Holanda. E perguntava, “ah, você foi vereador, e tal, concorreu…”. Já tinha concorrido 2 vezes a deputado estadual. “Quando é que você volta ao Brasil? Vai ter eleição ano que vem, ou em dois anos”. Eu disse, “não volto para a política. Se eu voltar, é para trabalhar”. Eu estava com a minha empresinha, começando esse empreendimento, justamente. É uma consultoria pequena. E a diferença foi enorme. Aqui no Brasil, eu tinha uma consultoria para as mesmas finalidades, que era consultoria de relações internacionais, comunicação. Aqui eu levei quase 4 meses para poder começar o negócio, emitir nota fiscal, custo enorme para juntar papelada, etc. Lá na Holanda, foi por isso que repercutiu tanto aquele post no meu Facebook, só precisei do meu documento de identidade. Em meia hora, saí de lá com a empresa aberta. Em 4 dias, eu tinha o equivalente ao CNPJ no Correio.

Então, eu não imaginava em 2012, que eu, primeiro concorreria de novo a deputado estadual, que foi o que aconteceu. Segundo, que eu me elegeria deputado estadual. Na verdade, fiquei a 351 votos, fiquei na primeira suplência, mas assumi como deputado estadual efetivamente. Muito menos que eu estaria hoje em Brasília, como deputado federal eleito, empossado, líder da bancada do Novo, e deputado federal mais votado do Rio Grande do Sul. O mundo dá voltas.

Luciano Pires: Tem uma bela trajetória, e que eu tenho certeza que não para aqui. Tem muito que… isso é meio que UFC cara. Você tá no UFC, você tá com 30 anos. Dá para ir bem até os 40, e quebrar todo mundo, viu. Vamos lá. Você nasceu onde?

Marcel Van Hattem: São Leopoldo. Por uma questão de hospital. Porque meus pais são de Dois Irmãos, desde 1979 meu pai. Eles se casaram meu pai e minha mãe em 83, se não me engano. Nasci em 85. Então, hoje são separados, mas eu nasci em São Leopoldo, que é a cidade a 30 quilômetros de Dois Irmãos, mas sempre morei em Dois Irmãos, fui criado lá, estudei lá. E depois fui fazer faculdade em Porto Alegre, na UFRGS.

Luciano Pires: O que seu pai e sua mãe faziam, fazem?

Marcel Van Hattem: Engenheiro Civil pai, mãe arquiteta. Assim, nada com política.

Luciano Pires: Você cresceu em uma casa de um engenheiro e uma arquiteta.

Marcel Van Hattem: Exatamente. Os dois filhos de pastores, meu pai filho de Holandês, por isso a ligação com a Holanda, né? Meu avô imigrou da Holanda em 1963 para o Brasil. Veio em um navio com a esposa e os 5 filhos.

Luciano Pires: Com uma mão na frente, outra atrás.

Marcel Van Hattem: É, mais ou menos isso. Na verdade, ele era pastor lá, e veio para o Brasil com enfim, o que ele tinha lá, não voltou para a Holanda mais. Ficou em Carambeí, no Paraná, onde ele foi pastor da igreja reformada na colônia holandesa. Depois, por uma questão de convenio coma igreja luterana, acabou indo para Dois Irmãos. E minha mãe, é filha também de pastor, luterano de origem. O meu avô não era da igreja reformada antes, meu avô materno. Foi professor de seminário, muito reconhecido, faleceu faz pouco tempo. Muito reconhecido na igreja, e para mim é um dos grandes ídolos que eu tenho – intelectuais – o maior que eu tenho. O meu avô paterno, infelizmente, não conheci, faleceu um pouco antes de eu nascer. Mas o meu avô materno sim. Então muitas vezes tive oportunidade de sentar com ele, estudar inclusive alemão, grego. Gostava de, por esporte, sentar com o avô e destrinchar os livros dele. Ele era formado em Teologia, Línguas Clássicas e Línguas Neolatinas. Línguas Clássicas é grego, latim, traduzia inclusive do aramaico. Neolatinas: francês, italiano, enfim, um verdadeiro poliglota, intelectual.

Luciano Pires: Tem irmãos?

Marcel Van Hattem: Quatro.

Luciano Pires: Quatro?

Marcel Van Hattem: Eu sou o mais velho. Sim.

Luciano Pires: Você é o mais velho?

Marcel Van Hattem: Todos homens.

Luciano Pires: O que o Marcelzinho queria fazer quando crescesse cara?

Marcel Van Hattem: Pois é. Hoje talvez eu tenha que admitir que tinha alguma coisa a ver com política. Mas na época não pensava muito sobre o meu futuro, o que eu faria. Tanto é assim que eu cedo comecei a ganhar concursos de redações. E eu fui jornaleiro de um jornal local. Eu fui para os Estados Unidos participar de uma competição de robótica com um time da minha escola, do Pio XII, no ensino médio. E enquanto eu estive lá – porque eu tinha amizade com o editor do jornal, por ser jornalista e jornaleiro – eu perguntei para ele se eu poderia mandar textos de como era a vida nos Estados Unidos e tal. Posso mandar para o jornal? Ele gostou. Principalmente, os leitores do jornal gostaram. E quando eu voltei, eu recebi uma oferta de trabalhar lá como repórter no jornal da cidade. Então eu comecei como jornalista, como repórter; sempre me vi assim – pelo menos na adolescência em diante – e a partir do momento que eu assumi como profissão, essa de repórter, eu seguiria no Jornalismo. Mas com um ano de profissão, eu me filiei – antes disso ainda – eu já me filiei a um partido político e concorri a vereador.

Luciano Pires: Começou cedo lá? Você chegou a fazer faculdade de jornalismo ou coisa assim?

Marcel Van Hattem: Fiz mestrado agora. Eu terminei. Quando eu estava na Holanda, lá em 2011, 2012, primeiro eu fiz Ciência Política. Eu não tinha dinheiro para fazer curso de Jornalismo, porque era mais caro.

Luciano Pires: Você fez onde? Lá?

Marcel Van Hattem: Fiz Ciência Política lá na Universidade de Leiden e Jornalismo foi meio a meio: metade na Dinamarca – por isso que era um curso mais caro e eu não pude fazer inicialmente – e o segundo era na Holanda. Mas bem no meio do primeiro para o segundo ano – eu já tinha terminado o primeiro – eu voltei para o Brasil, as manifestações de junho de 2013. Aí fui convencido por amigos – eu voltei de férias, eu não voltei para ficar – eu fui convencido por amigos: talvez seja o momento. Aí eu tranquei o curso.

Luciano Pires: E vamos embora.

Marcel Van Hattem: E vamos embora. Fiquei um ano aqui investindo nisso. E deu certo. Depois – porque eu sou tão teimoso – eu queria tanto a educação formal em Jornalismo, porque eu tinha feito Relações Internacionais na graduação. Eu voltei para a Holanda durante o mandato de deputado estadual, eu tirei uma licença não remunerada – meus assessores também acabaram todos sendo exonerados – para eu poder terminar o curso. Três meses com licença não remunerada. Mas três meses durante os quais, uma parte eu ia e voltava da Holanda quase toda semana, um troço bem louco mesmo. E concluí o mestrado em Jornalismo em 2017.

Luciano Pires: Aqui nesse programa a gente faz umas voltas, de vez em quando.

Marcel Van Hattem: Eu estou vendo.

Luciano Pires: A gente vai e volta. Eu vou dar uma volta agora. Vem cá cara, Ciências Políticas na Holanda é igual Ciências Políticas no Brasil?

Marcel Van Hattem: Não. É bem diferente. Primeiro: pelo tempo do curso em geral. Se você vai fazer um mestrado – e isso é na Europa de forma geral – um mestrado sem uma finalidade e depois seguir realmente vida acadêmica, de pesquisa, que é o caso da maior parte dos mestres no Brasil também. Tem muito mestre que dá aula e tem muito mestre que se forma e vai para a iniciativa privada ou vai tratar de outro assunto. Então você faz um curso de um ano e não de dois anos. Na Europa hoje, a maior parte dos estudantes sai com graduação e mestrado em quatro anos.

Luciano Pires: Quatro anos?

Marcel Van Hattem: Na Holanda, quase todos os cursos assim. Medicina, talvez cinco ou seis. Mas não que nem aqui, oito. Que você junta o período de Medicina mais especialização. Então quer dizer, é muito mais compacto. O estudante, ele realmente é estudante full time. No Brasil, a maior parte dos estudantes precisa trabalhar durante o contraturno para poder pagar o seu estudo. A maior parte estuda em escolas privadas, porque é muito difícil o acesso à federal. E mesmo quem consegue entrar na federal também tem dificuldade muitas vezes, de conciliar estudos com o trabalho. Então essa é uma diferença muito grande. Sem contar do método científico, que é muito rigoroso na Europa. No Brasil tem realmente escolas de ponta. Mas infelizmente, a gente tem o marxismo como base de muitos currículos. E o marxismo, em muitos países da Europa, muitas instituições no mundo todo é muito sério sim, é visto como algo que deve ser estudado, principalmente para não se repetir os erros de quem tentou implementar como política de governo a ideologia marxista. Mas não como método científico propriamente dito.

Luciano Pires: Ele é classificado no lugar que ele ocupa: uma ideologia antiga, uma coisa do século 19, etc. e tal.

Marcel Van Hattem: Exatamente.

Luciano Pires: Que já ficou para trás. Isso era uma coisa que eu queria te perguntar, você fala da diferença dos dois, sabe? De Holanda com o Brasil. Eu imagino que o escopo, ou seja, você deve ter estudado autores lá que nunca se ouviu falar no Brasil. E vai passar um bom tempo sem que eles sejam sequer citados aqui, porque aqui realmente tem esse viés. E tem muita coisa realmente nova, que a gente foi conhecendo agora, nos últimos anos.

Marcel Van Hattem: É. Eu tive bons professores de Introdução à Ciência Política 1 e 2, na Faculdade de Relações Internacionais da UFRGS, um deles inclusive, o professor Carlos Arturi, ele tratava de alguns autores. É pena que nesses currículos é tudo muito compactado. Mas grande parte dos autores que ele falava – Giovanni Sartori – enfim, que depois foram aparecer no meu mestrado, ele já tratava no curso, os contratualistas, tudo que precisa saber do básico. Mas assim, ler mais aprofundadamente, aí depende muito do próprio estudante em conjunto com o seu professor poder, enfim, conhecer melhor o conteúdo, do que efetivamente os currículos que são disponibilizados.

Luciano Pires: Que idade você tinha lá na Holanda, quando você estava lá?

Marcel Van Hattem: Eu fui em 2011, eu tinha 26.

Luciano Pires: 26 anos.

Marcel Van Hattem: 25 para 26.

Luciano Pires: 25 para 26?

Marcel Van Hattem: Eu fui ao fim do ano, novembro.

Luciano Pires: Sozinho, solteiro?

Marcel Van Hattem: Sozinho, solteiro.

Luciano Pires: Novo.

Marcel Van Hattem: Isso.

Luciano Pires: Garotão.

Marcel Van Hattem: Garotão tinha concorrido duas vezes a estadual…

Luciano Pires: Etc. e tal. E se mete num campo que você tem que mergulhar e estudar que nem um alucinado. Porque lá, se você levar na flauta, você toma uma bomba…

Marcel Van Hattem: Isso mesmo.

Luciano Pires: E não passa.

Marcel Van Hattem: Exatamente.

Luciano Pires: Ou seja, isso deve ter desenvolvido uma disciplina. Um senso de: cara, se eu não cumprir o horário, se eu não prometer e fizer, não tem choro. Não tem acabou a luz…

Marcel Van Hattem: É. A leitura semanal. Tinha uma aula, a Redemocratização da Ucrânia e da Rússia. Tinha uma cadeira que era sobre isso. Um professor super renomado até na Holanda, sobre esse tema, professor [00:19:48]. Essa cadeira especificamente, para essa cadeira, a gente lia um livro por semana. E apresentava um trabalho sobre o livro na semana. Assim, todos tinham que escrever o resumo do livro e entregar para o professor. E a média de leitura é isso, não baixa de 100 páginas por semana. E não é assim, leitura… não é romance. É uma leitura de Ciência Política, de qualquer artigo acadêmico. É uma leitura que você tem que parar, tem que anotar. Não é fácil não.

Luciano Pires: Eu estou batendo nessa tecla aí, porque eu brigo muito com essa questão da disciplina. Alguém já perguntou para mim aqui. E eu digo o seguinte: se você perguntar para mim hoje em dia qual é o atributo número um para você ter sucesso em qualquer coisa que você se meter a fazer na vida? Para mim hoje é disciplina. Há um tempo atrás talvez fosse outra coisa. Hoje é disciplina para tudo, até para a moral. Você tem que ter disciplina, entendeu? E quando a gente pega essa história que você conta de ser obrigado durante um período… e traz para uma realidade da molecada que está acostumada com supérfluo cara, com textinho curtinho. Eu não tenho saco de ler o texto. Eu preciso entregar um trabalho, alguém faz para mim. Eu baixo de algum lugar. No final, a resultante é um empobrecimento intelectual, de espírito e tudo mais, que traz a realidade que nós estamos vivendo no Brasil, que é muito pouca gente com capacidade de fazer uma análise que não seja de fofoca, que não seja de ti-ti-ti, que não seja de nhém-nhém-nhém. Sabe? Eu não gostei da tua cara e vou te analisar pela tua cara. E não pelo conteúdo que você traz aí. Entendeu? Bom, terminei a volta. Vou voltar para o caminho. Você então vai parar… você foi para a Holanda?

Marcel Van Hattem: Isso.

Luciano Pires: Já com uma ideia de que: eu vou para lá para estudar, para passar um período, para experimentar, para visitar? Qual era a ideia?

Marcel Van Hattem: A ideia. Como meu pai era holandês, eu tinha um amigo muito grande que era o [inint 00:21:39], agora falecido, que me incentivava muito. Ele dizia: você tem que vir para a Holanda. Aqui é muito legal. Tem cursos. Você, por ter cidadania holandesa, você vai ter mais facilidade de acesso. Aproveita essa oportunidade. Ele insistiu muito. Mostrou os caminhos. Inclusive, fiquei morando na casa dele quando eu estive lá. Então tinha essa facilidade. E é claro que isso me chamava a atenção. Eu já queria ter ido na graduação. Quando eu fui para os Estados Unidos naquela competição de robótica, eu tinha 17 anos de idade. Eu cheguei lá e o mundo se abriu na minha frente. Eu falava inglês porque eu ouvia rock and roll. Dali que eu aprendi o inglês. Mas falava bem já naquela época. E também, porque por falar holandês em casa, com o pai e com a avó, essa sim faleceu, a avó paterna, quando eu tinha 14 anos de idade. Então eu tive mais contato com ela. A facilidade com idiomas vem quando você já tem de casa um segundo idioma. E o holandês, ele fica assim, bastante entre o alemão e o inglês. Quando eu cheguei lá nos Estados Unidos, eu disse: eu quero ficar por aqui. Eu já pesquisei cursos. Eu queria muito fazer Jornalismo. Então eu pesquisei. Tinha a Columbia University lá do estado do Missouri. Era uma das… é a mais antiga escola de Jornalismo no mundo. Daí brilharam meus olhos. Eu fui para a Holanda naquela mesma viagem, fiquei três meses fora do país. É bem a época das[inint 00:22:58], eu lembro bem disso, como as pessoas… [inint 00:23:00] e a guerra do Iraque junto. As passagens estavam lá embaixo. Eu paguei acho que 290 dólares para viajar ida e volta dos Estados Unidos para a Holanda. Aí aproveitei, fui para lá, conheci um pouco mais o sistema. Estava decidido – se fosse possível, ficar lá – liguei para o pai e para a mãe: não, antes de fazer 18 anos, esquece. Não tem jeito. Então acabei voltando para o Brasil, então, aos 17. E fiquei um ano no jornal lá da cidade. Voltei, recebi essa oferta de trabalho por causa dos textos que eu escrevia. Tive um ano assim, sabático, parado, que eu não cheguei a cursar nada na faculdade. E eu acabei aproveitando aquele ano para trabalhar e estudar por conta. Depois passei no curso de Relações Internacionais na UFRGS e em Jornalismo na UNISINOS. Eu optei pelo da UFRGS por ser na federal. E Relações Internacionais me chamava muito a atenção. Continua sendo uma área que eu gosto muito. E na metade do curso, no segundo semestre eu concorri a vereador em Dois Irmãos.

Luciano Pires: Então você… isso antes de ir para a Holanda?

Marcel Van Hattem: Antes de ir para a Holanda. Isso foi em 2004. Eu concorri a vereador. Eu fui para a Holanda depois, só em 2011. Então você imagina: eu fiz todo o curso de Relações Internacionais. Terminei o mandato de vereador. Concorri duas vezes a deputado estadual. E aí quando eu vi assim: poxa, agora… as duas vezes que eu concorri eu cheguei a aumentar votação. Assim, eu fiz 35… eu precisava de 35 mil votos. Na segunda vez eu fiz 14 mil. Eu estava muito longe da eleição. E aí eu falei assim: já fiz minha parte. Eu fiz o máximo que pude. Estava jovem. Continuo jovem. Mas jovem mais ainda naquela época. Eu disse: não. Eu vou aproveitar, vou estudar. E realmente não tinha na minha ideia retornar para o Brasil e retornar para a política.

Luciano Pires: Deixa eu voltar ali atrás. Com que idade você concorreu a vereador?

Marcel Van Hattem: 18.

Luciano Pires: 18 anos.

Marcel Van Hattem: Tem uma história que eu queria contar antes, quando eu estava falando, que eu nunca contei. Não em público assim, ainda mais num podcast. Que eu falei que talvez eu tenha que admitir que quando criança, eu tinha essa ideia de ser político. A minha madrinha estava me contando – não faz muitos dias atrás – que na casa dela – eu gostava de dormir na casa dela, criança gosta de dormir fora de casa – ela disse que uma noite, eles fizeram a noite da eleição. Que eu tinha sugerido de fazer uma noite de eleição. E aí cada um tinha que fazer um discurso. Ela mora com a irmã. Então ela e a irmã e eu estávamos na sala fazendo lá, cada um fez o seu discurso de candidato. E aí o discurso de candidato de cada um foi feito e depois veio a votação. Cada um votou no seu candidato. Imagina, três pessoas, três votos. Foram contar os votos. A Neusa, a Marlene e o Marcel. A Neusa é a irmã da minha madrinha e eu. Aí foram contar os votos: Neusa, um voto. Lá abrindo. Marlene um voto. E Marlene dois votos. Aí a Marlene olhou assim para mim: Marcel, você não votou em você? Aí eu disse: não, achei o teu discurso melhor. E aí já naquela época, claro, criança gosta também de brincar de muitas coisas. Não é isso o determinante para o que eu escolhi para a minha vida. Mas é uma anedota, que pelo menos demonstra que já naquela época, algum interesse eu tinha pela coisa.

Luciano Pires: Então cara, o que faz um garotão de 18 anos de idade, bicho, se meter em política, que é uma coisa de velho, cara. É um negócio ultrapassado. É um saco. Tem que botar gravata. Cara, que merda que é isso. Porra, 18 anos de idade, eu tenho um mundo. Eu tenho as meninas na rua, cara. Tem futebol, cara. Tem a balada. Porra, política, bicho? O que leva um cara para escolher?

Marcel Van Hattem: É. Colocando nesse contexto, às vezes é difícil responder. Mas é…

Luciano Pires: O teu grupo em volta de você, a garotada de 18 anos, os teus amigos todos. Era um grupo que te empurrava para isso ou você era fora da curva?

Marcel Van Hattem: Não. Eu acho que sempre me apoiaram. A maior parte dos meus amigos sempre me incentivou. Votou em mim, apoiando campanha e tal. Mas eu realmente tinha um interesse muitas vezes, diferentes dos demais. Política é algo que vai surgindo quando você também conversa com pessoas, com quem você se aconselha; você conversar com pessoas com mais experiência. Talvez isso tenha influenciado. O fato de sempre gostar de ler muito. Principalmente a partir dos meus 13, 14 anos de idade. O meu pai me apresentou alguns textos na época, Percival Puggina, lá do Rio Grande do Sul.

Luciano Pires: Grande Percival.

Marcel Van Hattem: Renato de Carvalho. Naquela época, alguns poucos que escreviam na imprensa sobre o problema da esquerda, o Diego Casagrande, jornalista lá do Rio Grande do Sul. Então eram vozes… o Políbio Braga. Vozes solitárias, muito solitárias, numa época em que a esquerda estava começando a vencer de fato. O Lula tinha sido eleito presidente em 2002. Então eu estou falando aí de 99, 2000. Então aqueles textos começaram a me impactar. Eu falei: essa ideologia não pode prosperar no Brasil. A gente precisa fazer alguma coisa. Me interessei muito por isso. E de outro lado, porque meu pai era empreendedor, é empreendedor, uma empresa de construção civil. Chegou a ter uma incorporadora pequena. Fechou. Decidiu não se incomodar mais. Porque na realidade tem muito empreendedor no Brasil. Então o cara emprega. E aí precisa lidar com justiça do trabalho, com burocracias mil. Aliás, nem justiça do trabalho. Eu vi muita injustiça sendo cometida contra o meu pai na empresa dele. Gente muito boa que trabalhava para ele, sendo prejudicada por poucos maus funcionários; que iam lá inventavam um monte de história. E botavam meu pai na justiça. Então a gente via muita frustração em casa, para quem é empreendedor. Falta de pagamento do poder público. Então quando você começa a juntar uma coisa à outra. E como repórter do jornal, eu acompanhava as sessões da Câmara de Vereadores e via que eu poderia…

Luciano Pires: Você já vivia aquela atmosfera, daquela…

Marcel Van Hattem: Eu vivia um pouco, porque como repórter eu cobria.

Luciano Pires: Eu tinha uma pergunta aqui para colocar para você. Que, talvez, pelo fato de você ser repórter você tenha uma visão diferente. Que era o seguinte: o garoto com 18 anos, cheio de ideais. Com 18 anos de idade eu sou avenger, eu sou invencível, cara. Com 18 anos de idade eu não morro. Eu faço tudo. Eu ganho do mundo, porque ninguém pode comigo. E a pergunta que eu faria para você: quando você entra naquele ambiente, já eleito, senta naquela cadeira e olha em volta, você pensa o quê? Meu, é isso? Ou você já esperava por aquilo que você viu? Quando você chega num lugar onde a lógica não se sobrepõe. Onde um pensamento lógico não cabe. Você bota lógica e tem quatro neguinhos lá falando o absurdo dos absurdos. Vira uma gritaria. Como…

Marcel Van Hattem: É complicado. Eu sempre tive embates, principalmente com a esquerda. Nós tínhamos, olha só: o PT tinha dois vereadores lá na Câmara de Vereadores, que eram oposição nossa inclusive. Eu era de um partido que apoiava o governo. Cheguei a ser líder do governo municipal dentro da Câmara de Vereadores.

Luciano Pires: Qual era o partido?

Marcel Van Hattem: O governo era do MDB e o vice era do PP. E o PP era o meu partido. Eu tinha escolhido lá no município por questões muito locais. Eram os empreendedores da cidade, pessoas que durante muitos anos construíram a cidade. São pessoas que são filiadas até hoje, inclusive, no PP. O Novo, meu partido agora, tem meia dúzia de filiados lá. Municípios pequenos, a política tradicional tende a ficar um tempo ainda. Mas deixa eu… eu perdi a minha linha de raciocínio agora.

Luciano Pires: Você estava dizendo que você estava lá tendo os embates.

Marcel Van Hattem: Ah sim, os embates. Os petistas ali. Então imagina: um era professor de História e outro era sindicalista. Tinha na bancada deles os dois perfis mais radicais, digamos assim, que normalmente são vistos como ligados ao PT. Então ali sim o embate era muito grande. Mas obviamente que no lado que representava o governo, que representava aqueles vereadores estavam interessados em fazer uma política mais construtiva. E existiam também embates dia a dia. Precisava saber conversar para poder construir. Mas a experiência anterior, mesmo só com 18 anos, ajudou, de eu ter sido vice-presidente de um Grêmio Estudantil, no Colégio Pio XII, que era na cidade vizinha. E outras experiências de liderança na infância, assim, liderança de turma. Apesar de não ter sido algo assim, tão frequente. Mas eu já tinha exercido alguns papéis de liderança, que acabam fazendo com que você saiba ouvir mais.

Luciano Pires: Você gostou?

Marcel Van Hattem: De ser vereador?

Luciano Pires: Da experiência de estar lá como vereador? Como um político representando o povo?

Marcel Van Hattem: Claro, claro que sim.

Luciano Pires: Você gostou daquilo?

Marcel Van Hattem: Com certeza. Foi uma parte muito importante da minha vida e me ensinou a ver a política um pouco com outros olhos. Conhecer o eleitor. Eu acho que isso é muito importante de dizer. Nós falamos muito da corrupção dos políticos. Mas tem muita corrupção no eleitorado. Eu concorri a vereador sem pagar uma rodada de cerveja, sem pagar um jantar, sem nada disso. A gente sabe que muito vereador se elege assim, mas pior do que isso: no comitê de campanha, recebíamos pedido de tudo que era tipo, inclusive pessoalmente. Para mim, dependendo da casa que eu chegava, a pessoa me pedia telha, me pedia dentadura, pedia óculos, pedia para pagar conta de gás. E depois como vereador também, volta e meia alguém cruzava a rua, me via: vereador vem aqui. Aí levantava a conta de luz. Não levantava no meio da rua, mas chegava de uma maneira constrangedora, próximo de mim, para apresentar a continha. Óbvio que eu não ia pagar. Mas são coisas que infelizmente acontecem e muito.

Luciano Pires: É uma cultura antiga, isso vem de muito tempo. E precisa… para limpar vai demorar um bocado ainda.

Marcel Van Hattem: Fica exacerbado na campanha, que o eleitor pensa: eu vou te ajudar. Mas como é que você pode me ajudar? A pessoa não pensa como ajudar o bem comum. Não. É aquele interesse individual. Você daqui a quatro anos você, vai estar lá, vai estar de boa, vai ter seu salário de vereador ou de deputado, que seja. Eu nunca mais vou te ver. Então me ajuda agora, porque é a minha chance, poder me agarrar em alguém para conquistar alguma coisa.

Luciano Pires: É uma relação complicadíssima. Ela não considera o que é esse momento da democracia representativa. O que eu estou fazendo? Eu estou passando a você uma procuração para que você tome decisões em meu nome.

Marcel Van Hattem: Exatamente.

Luciano Pires: Quer dizer, nesse momento eu estou entregando a você um mandato. Estou dizendo a você: pode tomar decisões em meu nome. E eles tratam como mercadoria. Eu vou te dar uma vantagem cara. Você vai ser eleito. E para ter meu voto para ser eleito, me dá um saco de alguma coisa. Me dá uma graninha aí, que você vai levar o meu voto. É completamente diferente. Quer dizer, essa função inicial; que é a pessoa que eu vou colocar lá, estou colocando para falar em meu nome. Parece que isso não existe. Existe um: eu vou dar alguma coisa. Esse cara quer ganhar isso aí, então…

Marcel Van Hattem: Exatamente.

Luciano Pires: Vira uma troca de favores cara.

Marcel Van Hattem: E só tem quem venda, porque tem quem compre.

Luciano Pires: Exatamente.

Marcel Van Hattem: Então isso precisa mudar. E uma das formas de melhorar seria garantir o voto facultativo. Eu sou a favor. Vota quem quer. Vota quem quer participar. A responsabilidade que é exercida no momento do voto, ela é muito grande. Então a pessoa que não vai exercer com responsabilidade não precisa participar desse processo. E os países avançados, nenhum deles obriga o eleitor a votar.

Luciano Pires: Eu me lembro que o argumento contra o voto facultativo, que até tem algum sentido, é aquele de que se você fizer o voto facultativo, o cacicão lá da região vai pegar 300 ônibus, vai pegar pão com mortadela, vai pegar etc. e tal e vai botar todo mundo para votar para ele. E ele vai acabar comprando todo mundo.

Marcel Van Hattem: Existe isso também. Aliás, é o que muito acontece nas eleições para o Conselho Tutelar. É uma vergonha. O Conselho Tutelar é voto facultativo. Tem muita gente que carrega o pessoal para votar. Só que a eleição para o Conselho Tutelar ainda é muito restrita, sabe? As pessoas, infelizmente… aliás, fica mais um alerta aqui: infelizmente dão pouco valor para o Conselho Tutelar, que cuida das nossas crianças. E hoje, lamentavelmente – não vou generalizar – grande parte dos Conselhos Tutelares são cabos eleitorais de luxo de vereadores. Essa gente está lá ganhando um salário gordo para representar interesse político partidário, muitas vezes. E não para cuidar das nossas crianças. Mas saindo do exemplo do Conselho Tutelar, que é um exemplo importante até para a gente trazer para essa discussão, o voto facultativo, por outro lado, encareceria muito o custo do voto. Então…

Luciano Pires: O facultativo?

Marcel Van Hattem: O facultativo. Claro. Porque o obrigatório é barato. Você tem que votar de qualquer forma mesmo. Então a pessoa que está disposta a vender voto, vende baratinho. Se eu tenho que votar de qualquer forma, eu vou vender baratinho. Agora, se o voto é facultativo não. Eu tenho que fazer a opção de ir votar. Para o cara comprar o voto da pessoa, levar e tal, o custo desse voto vai encarecer muito. Mas são todas teorias. Nós não temos como chegar numa solução ideal ou num resultado ideal sem testar. Mas por princípio, eu sou a favor do voto facultativo. De dar liberdade para as pessoas.

Luciano Pires: Eu não era. Mas há um tempo atrás eu mudei essa coisa.  Me fala uma coisa aqui: naquele momento em que você está lá como vereador, passou pela tua cabeça que aquilo poderia ser a tua vida, sabe? Encontrei política, eu acho que é legal. Daqui eu vou seguir, eu vou continuar. Isso não fazia parte do teu escopo?

Marcel Van Hattem: Não. E confesso que até hoje não faz. É muito engraçado isso aí. Agora finalmente eu cheguei à resposta que eu queria dar para as pessoas quando me perguntavam: como que é? Onde que você quer chegar? Aí eu digo: eu quero fazer o máximo possível em quatro anos para não precisar voltar. Política é o que a gente exerce por sentimento de missão mesmo. E quando eu fui vereador sempre houve pessoas: ah, você vai ser prefeito da nossa cidade. Alguns mais malucos disseram: você vai ser presidente da República. Nunca pensei nessas coisas. Onde eu vou chegar. E agora também, fui eleito deputado estadual primeiro, fiquei na primeira suplência, mas assumi. E ao longo do meu mandato havia quem dissesse que a trilha que eu estava seguindo era uma trilha radical, que eu estava batendo demais, eu estava querendo ser o Joãozinho do Passo Certo. E isso não vai te levar a lugar nenhum. Só que eu comecei a crescer. As pessoas nas minhas redes sociais me ajudaram muito. Isso é fundamental. Redes sociais. O fato de pessoas como você, aqui em São Paulo. Imagina: um deputado estadual lá do Rio Grande do Sul, usando a tribuna um dia e fazer um discurso. Isso não existia no passado. Então isso ajudou muito a que eu me tornasse conhecido. E aí até por março, fevereiro do ano passado, eu estava com uma relevância enorme antes das eleições, antes de fevereiro, março de 2018. E eu decidi tomar o passo de sair do PP para ir para o Partido Novo. Bom, daí os mesmos que diziam lá atrás, que eu não iria ter sucesso por causa da postura que eu estava tomando, mas que já estavam admitindo: ele vai acabar conseguindo se eleger com uma boa votação. Mas disseram: agora ele jogou tudo fora. Porque saiu do PP, que era um partido com maior número de diretórios registrados, mais de 450 diretórios, 200 mil filiados no estado do Rio Grande do Sul, maior número de vereadores, mais de mil vereadores. Enfim, um partido que realmente tem muita gente boa lá. Eu não saí por causa do PP do Rio Grande do Sul. Muito por causa do PP nacional. E porque sempre estive alinhado aos princípios e valores do Novo, que não existia até eu concorrer a deputado federal. E eu tomei a decisão de ir para o Partido Novo, que tinha 2 mil filiados no Rio Grande do Sul, um único diretório em Porto Alegre e um único vereador. Aí esse pessoal dizia: agora sim, você estava indo bem até aqui, mas jogou a eleição fora. Acabei sendo o deputado federal mais votado do Rio Grande do Sul. O dobro de votos quase, do que o segundo colocado.

Luciano Pires: Foi fascinante cara.

Marcel Van Hattem: Foi muito bacana.

Luciano Pires: Você falou uma coisa importante aí, esse papel que as redes sociais fazem nesse processo todo. Porque elas não têm controle cara. Então, o que circula e o que viraliza, viraliza pelo mérito. Pelo mérito que ele tem. E eu me lembro dos teus vídeos. Aquele vídeo de você lá no Parcão, brigando com os caras no Parcão, enfrentando sindicalista e: pode gritar. Xinga mesmo. E aquela coisa toda que mostrava que tinha uma voz sendo ouvida.

Marcel Van Hattem: E isso tudo sempre foi espontâneo de mim, assim, eu me surpreendo. Quando eu vejo os meus vídeos e tendo a não acreditar. Eu digo: mas eu não acredito que esse cara está fazendo isso aí. É meio maluco, porque realmente, a gente tem essa visão de que esse pessoal é perigoso – e de fato, alguns são – esse pessoal vai atentar contra a nossa integridade física. Mas no fundo, quando eu estou reagindo a isso, eu estou tão indignado. Eu não estou espalhando ódio. Não. O ódio quem espalhou foram eles primeiro, dividindo o país entre nós e eles. A gente, a sociedade brasileira começou a reagir com indignação. É tudo tão espontâneo, tão natural que…

Luciano Pires: Sim. Que eu me vejo ali, de repente. Você está falando o que eu queria falar.

Marcel Van Hattem: Sim. Que muita gente diz isso para mim.

Luciano Pires: Está ali gritando o que eu queria gritar. Eu acho que aí é que está… vamos extrapolar, vai. É assim que um sujeito do baixo clero, sem partido, sem televisão, sem nada, ganha uma eleição para presidente da República.

Marcel Van Hattem: Tendo feito quatro votos para presidente da Câmara.

Luciano Pires: E o que é isso? Nada mais é que esse cara estar falando coisa com coisa. Eu estou ouvindo o que eu penso. Aí 57 milhões vão lá e votam no cara. Uma coisa que seria impensável há seis, sete anos atrás.

Marcel Van Hattem: Perfeito.

Luciano Pires: Tem um impacto grande aí das mídias sociais. E uma coisa que precisa ser eu acho que até, melhor estudada e mais valorizada do que tem sido. Está virando uma rinha selvagem. Está bem complicado aquilo lá.

Marcel Van Hattem: Não é só no Brasil. É no mundo todo.

Luciano Pires: É no mundo todo.

Marcel Van Hattem: Eu estava hoje num outro compromisso mais cedo. A gente estava falando sobre polarização e tal. Porque quem não gosta dessa disputa política – e muitas vezes é viciosa – eu também não gosto quando ela fica muito radical e virulenta. Bota a culpa numa suposta polarização. É o jargão da violência. Agora, eu costumo olhar o lado positivo das coisas. O que significa positivamente a questão da polarização? Que antes dessa polarização havia o quê? Uma hegemonia. Havia a ditadura do politicamente correto. Se você não falasse de acordo com o que eles pensavam que você tinha que falar, você estava fora do jogo. Estava fora da turma. A polarização é o primeiro passo para a pluralização. Isso que eu gosto de dizer. Então tem polarização? Tem. Mas agora pelo menos tem direita e esquerda mais ou menos bem definida. Nós temos que passar para o espectro da pluralização. Que são diferentes ideias sendo discutidas democraticamente no país.

Luciano Pires: Eu diria que a minha visão é a seguinte: é que há um tempo atrás, uma minoria dominou o centro de geração de discussão. Onde nascia a discussão, onde é que se pautava a discussão, o que era na mídia, o que era na universidade. É uma minoria. Eram 30% que dominavam aquilo. E a gente olha e fala: dá impressão que era maioria. Quando você abre uma janela para que todo mundo se manifeste, a gente descobre que tem um monte de gente pensando diferente. E eu não consigo brecar essa minoria. E acontece o que aconteceu. De repente, quem está gritando tanto assim é meia dúzia, cara.

Marcel Van Hattem: É isso.

Luciano Pires: Vamos lá para a tua arena de batalha hoje? Você entra lá naquela comissão, você entra lá no plenário cara, quem grita? São 10, 12, 15 cara. Mas tem 400 que não estão gritando ali. E quem olha e vê os 15 gritando fala: esses caras não são. Eles são mais barulhentos. Depois nós vamos chegar lá. Então você não tinha essa visão lá atrás que aquilo podia vir a ser o teu futuro. Você esteve vereador durante algum tempo. Só não conseguiu seguir adiante por que não participou da eleição para deputado estadual?

Marcel Van Hattem: Não. Elas foram intercaladas. Então eu fui… eu concorri a vereador, fui eleito. Em 2006 concorri a deputado estadual, fiz 11 mil votos. Em 2007 eu fui eleito presidente da juventude do PP no estado. E com aquela eleição, eu me comprometi pessoalmente com todos os que seriam candidatos a vereador nas eleições seguintes, em 2008, de não concorrer a vereador. Eu disse: eu não vou concorrer. Eu vou apoiar, vou viajar o estado. E eu tinha já planos de estudar fora do país naquela época. Aí um mandato de vereador estava bem cumprido. Apoiei dois candidatos jovens do PP lá da cidade a vereador. Os dois se elegeram. Um hoje é… eles por méritos deles. Apoiei, mas obviamente eles são pessoas que têm méritos próprios e são muito competentes. Um deles é vice-prefeito, deve vir a ser candidato a prefeito na próxima eleição. E a outra foi a vereadora mais votada na eleição seguinte. Então eu gosto de ver que você deixa um legado. Em 2008 não concorri a vereador. Mas cheguei a passar na convenção do PP local para ser o candidato a prefeito da cidade. Mas eu também achei que era cedo demais. Eu queria estudar fora e não concorri. Aí fui para os Estados Unidos, fiz aquele curso em Georgetown. Essa aí foi a segunda vez aí, que eu fui para os Estados Unidos. Foi um curso de meio ano, fantástico. Abriu mais uma vez a minha cabeça.

Luciano Pires: Curso de que, o que era?

Marcel Van Hattem: Era um curso de competitividade para liderança global. É um nome meio pomposo. Era um curso de meio ano, tinha cinco pessoas do Brasil que foram escolhidas por processo seletivo, duas do Rio Grande do Sul. Então eu e o Fábio Ostermann, que hoje é deputado estadual pelo Novo. Nós fomos os escolhidos pelo pessoal do Instituto Ling no Rio Grande do Sul, recebemos bolsa e passamos meio ano no exterior estudando.

Luciano Pires: E daí você volta e bota na cabeça: não, eu vou para…

Marcel Van Hattem: Não. Eu voltei em 2009, metade do ano. Tinha passado para o segundo curso de Administração, no ano anterior ainda, 2008. Fiz vestibular junto com o meu irmão e estava fazendo a segunda graduação. Interrompi, fui para os Estados Unidos. Retornei depois, no segundo semestre de 2009. E naquele período eu concorri pela quarta vez para o DCE da UFRGS, junto com um grupo lá, de estudantes. A maioria sem filiação partidária. Sem interesse em política partidária. Mas todos tinham uma visão liberal, visão de direito e tal. E vencemos a eleição. Depois de quatro tentativas seguidas. A primeira vez em 40 anos que a esquerda radical não vencia uma eleição no DCE da UFRGS. Foi algo assim, precursor também no Brasil. Era difícil.

Luciano Pires: Eu me lembro essa…

Marcel Van Hattem: Tinha os [inint 00:44:55] não sei. Como que era?

Luciano Pires: Eu não lembro quem era aqui. Mas se eu não me engano foi em Minas também que aconteceu a mesma coisa.

Marcel Van Hattem: É?

Luciano Pires: Foi mais ou menos na mesma época. Porque eu me lembro que alguns… estava começando uma movimentação. E de repente pintava a oportunidade. Eu acho que era alguém em Minas Gerais também. Mas eu me lembro de vocês. Eu me lembro de ter visto uma série de publicações. Eu falei: essa molecada vai levar. E vai se quebrar uma hegemonia. E prepare-se porque vai vim…

Marcel Van Hattem: Eleição do DCE era coisa assim, era Venezuela. É um troço de louco aquilo. É fraude nas urnas. As comissões eleitorais da esquerda mandam no pedaço. Esse pessoal defende democracia. Mas quando a gente vê o que eles fazem nas faculdades a gente entende que democracia eles querem. Como eles querem só urna de pano, não abrem urna nos cursos de Administração, Medicina, Direito. Só abrem urna nos cursos de Sociais, História, Geografia e tal. Nada contra. Mas tem que dar oportunidade para todos. E no fim, de 25 mil estudantes da UFRGS na época, só em torno de 3 mil votaram.

Luciano Pires: 3 mil?

Marcel Van Hattem: 3 mil. Então o que nós fazíamos? Campanha com aqueles que não costumavam votar. Então depois de 4 anos de tentativa e liminares judiciais,a gente conquistou eu acho que quase 20 nesses 4 anos. Vencemos as eleições e assumimos no final de 2009, 4 de dezembro de 2009, essa data está bem gravada na cabeça. Durante o ano de 2010 eu fui membro da gestão do DCE e me licenciei para concorrer mais uma vez a deputado estadual, pela segunda vez. E aí bom, 14.068 votos depois. Foi mais uma eleição franciscana. Não tinha muita internet, alguma coisa de campanha no Orkut. Mas longe daquilo que viraram as eleições agora, com WhatsApp e Face, etc., Instagram. Decidi que com 14.068 votos, eu precisava de 35 mil. Eu não queria usar as ferramentas da política tradicional, da velha política para me eleger. Deixa a política para lá, vamos fazer outra coisa. Eu vou me aprimorar academicamente, preferencialmente no Jornalismo, que era a minha intenção inicial, a gente volta para o início da conversa. Me candidatei para o mestrado de Jornalismo, passei na pré-seleção, assim como passei em outros sete mestrados na Holanda para os quais eu tinha me candidatado. Mas não tinha dinheiro para fazer Jornalismo na Dinamarca, fui fazer Ciência Política na Holanda.

Luciano Pires: E você chegou a fazer Jornalismo em algum momento aqui no Brasil?

Marcel Van Hattem: Não.

Luciano Pires: Você nunca fez?

Marcel Van Hattem: Nunca fiz. Não.

Luciano Pires: Só fez lá?

Marcel Van Hattem: Fiz lá. Fiz esse mestrado lá. Mas eu usei as manifestações, a cobertura da imprensa brasileira sobre as manifestações contra a Dilma para a minha dissertação de mestrado. Para mostrar como era o viés dos jornais em relação ao impeachment.

Luciano Pires: Tem um professor que disse que você foi fraquíssimo no mestrado. Que você tirou só nota baixa.

Marcel Van Hattem: Que coisa mais ridícula. Primeiro que é mentira deslavada. E segundo que tipo… bom, ele é um esquerdista lá. Foi num debate na ULBRA que eu estive junto com ele. Eles gostam de fazer exatamente isso, atacar no pessoal, inventar história e disse que eu fui fazer um cursinho de especialização que nem bem era mestrado. Depois que eu fui refletir e me dei conta que ele estava atacando – eu acho que foi isso – atacando o fato do curso ser de um ano. Enquanto que o mestrado em Ciência Política no Brasil é de dois anos. Mas é aquilo que eu disse, curso de um ano é tão intenso que vale por três ou quatro anos aqui no Brasil. Mas eu tirei 10 na monografia de graduação, de especialização. Os dois na UFRGS, no mesmo local que aquele cidadão é professor. Quem não deveria ser professor é ele. Porque método e rigor científico zero. Mas tudo bem. Aí isso infelizmente é a realidade da academia brasileira.

Luciano Pires: É o preço da democracia. Você tem que ouvir umas coisas que…

Marcel Van Hattem: É bom. Porque no fundo, no fundo, isso depõe muito mais contra ele do que contra mim. Contra mim não depõe nada. Depõe contra um professor fazer isso com um aluno. Vamos dizer, ainda que fosse verdade. Digamos que fosse verdade que eu tivesse notas baixas. Jamais um professor poderia fazer isso para um aluno. É uma falta de ética tremenda. Ainda que fosse verdade. Então, um absurdo total.

Luciano Pires: E também, isso é muito relativo cara. Eu costumo contar uma história interessante. A gente se encontra, a minha turma de formatura de quando em quando. Outro dia fizemos um encontro aí de 40 anos de formados, essas coisas todas aí. E tinha alguns colegas de classe que eram uns aviões, cara. Mas os moleques eram os melhores, o número 1, o número 2. Os caras eram feras. O cara tirava nota 10 em tudo. E 40 anos depois não aconteceu nada com esses caras. E tinha uns manés de fundo de sala de aula, que só faziam barbaridade e os cara viraram aviões. O cara tem um monte de empresa, o cara isso… quer dizer, o fato daquela nota, daquela fotografia naquele momento não tem a implicação do que aquele cara vai fazer na vida, para frente.

Marcel Van Hattem: Exatamente.

Luciano Pires: Então é muito relativo isso aí.

Marcel Van Hattem: Que é mais uma falta de rigor científico dele. Porque se ele olhasse as estatísticas, ele saberia…

Luciano Pires: Isso é para te atacar e você fica nervoso e perde…

Marcel Van Hattem: Exato. Mas é isso aí. Porque ele estava muito nervoso. Até porque eu estava falando… até para dar o contexto para quem não sabe qual o contexto. Eu acho que depois a gente pode botar uma descrição do link do Youtube para esse debate específico. A gente estava tratando da questão dos cursos contra o golpe dentro da UFRGS. E ele defendendo que a universidade realizasse os cursos contra o golpe, como se não fosse algo partidário. Como se não fosse algo doutrinário. Um absurdo. E eu comecei a contra atacar. Eu li a súmula dos cursos. Um troço vexaminoso. Não só na UFRGS, como no Brasil todo. Ele ficou nervoso.

Luciano Pires: Só para a gente ficar nessa coisa do debate aí, que eu acho que é interessante. Tem uma geração nova de uma garotada que você faz parte. Você, o Kim, Artur. Eu não estou nem falando das ideias de vocês. Eu estou dizendo o seguinte: é uma garotada aguerrida que entra na discussão. Que entra no debate e vai no pau a pau. Eu me lembro do Kim falando uma coisa interessante, que eu achei engraçadíssima, o Kim falava o seguinte: meu, sabe por que eu ganho os debates? Porque eu estudo. Agora chega na minha frente um Mané que só tem papo ideológico furado. E eu estudei o assunto.

Marcel Van Hattem: Disciplina.

Luciano Pires: Então quando ele começou… eu sei o assunto porque eu fui estudar cara. Então eu tenho argumentos para argumentar com o cara. E há essa questão toda de você bancar o debate, mas num ambiente que o debate é complicado, cara. Eu vou voltar para o teu dia a dia hoje em dia, cara. Como é que você debate com uma Gleise Hoffmann? Sabe, com uma Erika Kokay? Cara, eles vão buscar umas coisas estapafúrdias e defendem. Elas não acreditam naquilo. Sabem que não é verdade. Mas tem toda uma mecânica. É um atrás do outro, eles estão organizadinhos. Eles sentam no lugar certo. Eles quebram o teu raciocínio na hora exata. Eles gritam mais alto que você. Então, a dinâmica do debate, do ponto de vista formal, eles dominam, cara. Porque eles sabem onde quebrar, onde bater e se bobear, ela vai lá na frente e arranca o papel da mão do presidente. Então tem toda uma mecânica estudada, que no caso, aquilo é muito bem ensaiado. Eu acho que tem uma reunião anterior: como é que a gente… como é que eu vou usar. Aqui pode tá? Como é que eu vou foder o debate. Então você vai lá e senta na mesa, rouba o papel. Se alguém encostar em você, começa a gritar, diz que foi agredida.

Marcel Van Hattem: Se joga no chão.

Luciano Pires: E vira aquele circo. Onde, de repente, entra alguém daí e fala: cara, eu estou tentando botar lógica aqui. E sete horas depois vocês não saíram. Vocês continuam patinando ali. Então nada disso é de graça. Mas a gente vai voltar um pouquinho para isso aí.

Intervalo

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Luciano Pires: Tem um dos debates ali. E agora você fica tranquilo para falar nisso se quiser ou não tá? Que toca num tema muito importante, que houve um incidente na tua vida, que foi até utilizado por vários caras que são contra você e que vêm e jogam em cima uma acusação, que eu acho que seria legal se você falasse aqui. Eu já ouvi você falar, eu já vi você explicar. Eu já vi você documentar. E acho que para quem está ouvindo aqui era legal entender o que aconteceu. Você quer falar?

Marcel Van Hattem: Não. Podemos falar, claro.

Luciano Pires: Então quem te acusa…

Marcel Van Hattem: Na verdade, eu costumo não abordar muito esse assunto em respeito à própria família minha e a família envolvida no acidente. Um acidente de trânsito. Isso foi em 2006 ainda. No retorno da faculdade, era um dia de sol, de tarde. Andando pela BR116, infelizmente fui surpreendido por uma pessoa que invadiu a pista e acabou sendo atingida pelo meu carro na BR116. Foi hospitalizado, prestei socorro, tudo que se pode fazer na hora em que ocorreu o acidente.

Luciano Pires: Desculpe. Desculpe. Você desligou e eu que sou o cara do ano não desliguei. Vamos lá. Volta um pouquinho antes.

Marcel Van Hattem: Não. Tudo que eu pude fazer na hora que aconteceu o acidente. Então, na verdade, as pessoas que remexeram nessa história trágica, traumática, para quem quer que esteja envolvido, tanto de um lado como no outro fez de pura maldade. E infelizmente, meio ano depois, internada essa pessoa, ela acabou vindo a falecer. Hoje é uma história que os dois lados, nós queremos esquecer, porque é traumatizante para as duas famílias. Mas quem fica mexendo nessa história, ainda mais com fins políticos, eu acho que fala muito mais da pessoa. Fala só da pessoa e não fala de mim. Porque é lamentável que se use uma tragédia pessoal para finalidade política.

Luciano Pires: Num debate…

Marcel Van Hattem: Num debate…

Luciano Pires: Cara…

Marcel Van Hattem: Então assim, sou inocente. Nunca tive nenhum tipo de infração que se possa dizer: olha o que o Marcel está fazendo na sua vida pessoal que justifique ele ser um representante na política. Eu acho que o maior exemplo disso foi minha própria votação. Todo mundo sabendo que eu tenho uma história triste na minha vida. E aquelas pessoas que gostam de mim, me acompanham, se solidarizando, inclusive, com aquele momento.

Luciano Pires: Você volta de férias da Holanda, quando foi, 2013 que você falou?

Marcel Van Hattem: 2013. É.

Luciano Pires: 2013. E você desembarca no Brasil em plena jornada de junho. Não foi isso?

Marcel Van Hattem: Um pouquinho depois. Eu estava nos Estados Unidos, participando de alguns cursos.

Luciano Pires: Você acompanhou de lá?

Marcel Van Hattem: Eu acompanhei dos Estados Unidos pela internet.

Luciano Pires: E lá você viu a cena do povo em cima do Congresso, aquela coisa, ninguém estava entendendo o que estava acontecendo. A gente demorou muito para perceber o que significava aquilo. E que ali poderiam vir desdobramentos que… bom,  a gente olha para trás e são só seis anos cara. É impossível imaginar hoje. Porque quem olha de hoje para trás, fala: cara… imagina você que estava lá em cima do prédio do Congresso. Imagina que seis anos depois teria Jair Bolsonaro como presidente do país. Aquilo para mim foi o momento em que explode a panela. Aquilo estava tudo tenso. Aí explode a panela. E com a explosão vira uma zona. Ninguém sabe direito o que vai acontecer. Ninguém manda em ninguém. Perde-se o controle. Começa com o negócio controlado e perde-se o controle. Vira aquela bagunça. E quando termina aquela zona toda, tinham surgido núcleos com ideias próprias e gente olhando, que falou: eu acho que dá para mexer nessa coisa. E nascem os movimentos populares. Nasce… muita gente que não tinha interesse por política começa a discutir política. Molecada começa a assistir na televisão. E culmina com uma cena que para mim é a cena… para mim é uma cena icônica que acontece comigo, caminhando aqui em Moema. Eu passo num final de tarde por um boteco na esquina, tem três caras tomando cerveja e a TV transmitindo o voto do Celso de Melo, cara. Estava no canal da TV Justiça, por horas o Celso de Melo lendo um voto e quatro caras tomando cerveja e a TV ligada, transmitindo o Celso de Melo. Eu falei: cara, o que houve com esse país aqui?

Marcel Van Hattem: Afundou…

Luciano Pires: Uma mudança completa. Você assiste isso dos Estados Unidos? Pela internet? Você chegou a imaginar que podia, que era esse o momento de estouro, de panela de pressão? Você tinha feito uma análise a respeito?

Marcel Van Hattem: Dava para ver que muita coisa estava mudando no Brasil. Aquilo explodiu. As redes sociais explodiram também. É que começou com algo muito localizado, que eram os tais dos 20 centavos. Do pessoal do PSol, do Movimento Passe Livre. Que depois quis se desvincular de tudo que veio a reboque.

Luciano Pires: Perdeu o controle né?

Marcel Van Hattem: Perdeu o controle. É que perdeu o controle também porque foi a gota d’água para toda a população, que estava vendo uma Copa do Mundo sendo organizada num padrão FIFA e o resto dos nossos serviços públicos padrão… enfim, terrível. Então isso foi acabando por deixar o movimento enorme. Porque a democracia tem isso. Têm idas e vindas. Tem toda aquela movimentação, aí teve campanha eleitoral. Não houve muita renovação naquela campanha. Dilma inclusive foi reeleita. Mas ainda que seja visto como um acidente de percurso, as idas e vindas do processo democrático, ninguém fez mais pelo liberalismo no Brasil, do que Dilma Roussef. Porque ela sozinha conseguiu demonstrar para todos os brasileiros o quanto mais liberdade era necessário para o país. Ela se elegeu pedalando, gastando o que não tinha; nunca o déficit fiscal foi tão grande no país. Os gráficos mostram. Mas mais do que os gráficos, as pessoas desempregadas, a falta de dinheiro no bolso do cidadão brasileiro. E isso acabou fazendo com que o movimento anti PT e anti Dilma tomasse corpo depois do início do mandato dela. Eu fui o primeiro deputado a pedir o impeachment dela em março de 2015. Um mês depois da minha posse. E era estadual. Daí depois começou a andar. Em agosto ou setembro de 2015 eu sugeri que ela renunciasse, Temer também, todos os deputados e senadores, inclusive nós estaduais. É óbvio que ela não fez. Mas era um tipo de situação política em que nós todos vivíamos, que tinha que ter vindo para as ruas, para as pessoas que não estavam aguentando mais a forma como o país vinha sendo levado adiante. E no fim das contas o impeachment acabou sendo inevitável.

Luciano Pires: O que faz você desistir de continuar na Holanda e falar: eu vou comprar essa briga aqui no Brasil? Qual é o gatilho que… foi olhar e falar: cara, este é o momento e que as coisas estão mudando. É agora. Se tiver que acontecer vai ser agora. Foi o quê? O que foi, cara?

Marcel Van Hattem: Na verdade, disseram isso para mim, mais do que eu mesmo ter percebido. Eu fui depois confirmando isso ao longo do ano. Eu cheguei em agosto ou setembro. Setembro. Eu vim para o Brasil de férias, duas semanas. Agosto ou setembro. Não tenho muita certeza. Vim para apresentar um amigo meu deputado, que ia concorrer a deputado estadual pelo PP. Eu estava no PP. Que já tinha me ajudado nas minhas campanhas anteriores à presidência da juventude do PP. Então eu estava inclusive retribuindo a ajuda dele. Eu fui apresentando ele para uma série de pessoas durante essas duas semanas de férias. Ele mesmo me convidou, ia pagar a passagem. Como eu acabei voltando, eu disse para ele: não, deixa que eu pago a passagem agora. Mas eu vim para o Brasil para apresentar ele para determinados amigos. E a última pessoa que eu conversei foi com o fundador do IEE, o William Ling. Ele foi quem me selecionou também para a bolsa de George em 2009. E quando eu apresentei, ele estava pessoalmente com o Marcos Mussi, esse meu amigo que eu acompanhei, deputado estadual. Eu, ele e o William. Ele na mesa. Ouviu a história dele toda. Ele disse: ah, Mussi tu quer ser candidato, mas eu acho que quem deveria concorrer é você. Nós estamos em um momento que faltam pessoas com a tua qualidade de articulação para falar das ideias que fazem falta no Brasil. Você tem experiência com redes sociais. Ele nem tem rede social. Ele nem sabia que eu tinha intimidade com elas. Tanto é que você Luciano, leu um post meu naquela época. Então naquela época eu já tinha muita – bastante limitada com relação à hoje – já tinha intimidade com as redes sociais. Eu tinha formação acadêmica para isso, cursei Ciência Política e tal. E já tinha tido experiência como vereador anteriormente. Então foi uma paulada na cabeça. Porque foi assim, inesperado. Eu estava ali para apresentar outro, não para a pessoa sugerir que eu, talvez, pudesse voltar para o Brasil. Eu voltei para a Holanda. Eu estava com passagem marcada. Se não me engano, a reunião foi na sexta. Na terça eu estava embarcado no avião para ir para a Holanda. E lá conversei com os organizadores do curso. Eu mandei um e-mail para o William também explicando a situação: olha, você me fez refletir. Estou pensando. Mas primeiro eu teria que ver se realmente existe todo esse “mercado eleitoral” para uma alternativa dessas. Eu volto e a gente vê o que a gente pode fazer para ajudar a montar isso aí. Eu fui então, avisei os professores. Uma semana depois estava de volta no Brasil. Pedi, perguntei lá para o pessoal da Holanda, se eu poderia eventualmente voltar no futuro. Não tinha como trancar. Eles disseram: não. Tem. Só não podemos deixar muito tempo. Mas tenta. Então voltei, deixei um ano parado. Na minha cabeça, no ano seguinte, eu estava de volta na Holanda. Aí eu voltei. Era setembro. E fui conversando uma por uma as pessoas assim, formadoras de opinião de Porto Alegre, que eu sabia que tinham sido eleitoras minhas no passado, que poderiam vir a me apoiar nessa… pelo menos contar do contexto, envolver elas no projeto e perguntar: você acha que é hora de eu concorrer? Aí Percival Puggina, Diego Casagrande, Ricardo Gomes, que foi presidente do IEE, Fábio Ostermann, Ronald Hilbert, professor de Economia lá da UFRGS.

Luciano Pires: O Políbio…

Marcel Van Hattem: O Políbio, eu conversei com ele também. Mas ele acabou não entrando nessa primeira fase de conversas, que acabou formando um Conselho meu. E em dezembro daquele ano – eu tinha voltado em setembro – em dezembro, um pouco antes do Natal, eu reuni toda essa gente, umas 20 pessoas. E eu disse: agora chegou a hora de decidir. Eu ouvi individualmente o que cada um de vocês falou. Mas eu queria ver com vocês, o que vocês acham. E é engraçada essa história, porque 80, 90% disse: não, a gente acha que você tem que concorrer. Mas três ou quatro disseram que não. Três dos principais. Meus melhores amigos, todos disseram: não Marcel. Volta para a Holanda, vai ganhar dinheiro. Vai estudar. Termina o teu curso. Não faz uma loucura dessas.

Luciano Pires: Que você vai se incomodar.

Marcel Van Hattem: Que você vai se incomodar. Você tentou duas vezes. Quem mais sofre é quem está mais perto, ainda mais na política. Mas aí eu fui para casa, refleti. Tomei a decisão. Disse que eu ia tentar então, durante o primeiro semestre ainda, avaliar a situação. Montamos um ciclo de palestras em universidades chamado Imagina Depois da Copa. Estava todo mundo dizendo: imagina na Copa. Então nós criamos um ciclo de palestras Imagina Depois da Copa. Que coisa é essa aqui? Que costume mais feio que brasileiro tem de curto prazo. Imagina na Copa. Não, vamos imaginar depois da Copa. Que Brasil nós queremos daqui a 10, 15 anos? Imagina na Copa é muito pouco. Então a gente brincou com isso. E essas pessoas que eu consultei que fizeram parte do meu Conselho, me ajudaram. Nós fizemos um programa – se eu não me engano – de 20 universidades que eu visitei. Eu sempre ia em todos os eventos. Mas num evento era o Marcel, o Puggina e o Diego. No outro era o Marcel, o Fábio e Ronald. E assim por diante. A gente ia se revezando. Para sentir. Para eu sentir mesmo se essas ideias estavam mesmo sendo bem recebidas. E aí eu decidi concorrer em julho, ali na época da convenção, investi 100% na época. Vamos concorrer, vamos lá. Fizemos uma campanha de arrecadação de fundos também com amigos e redes sociais intensa. E chegamos a 35.345 votos.

Luciano Pires: O partido era o?

Marcel Van Hattem: PP.

Luciano Pires: PP ainda. Legal. Bom, ali você está como deputado estadual?

Marcel Van Hattem: Estadual.

Luciano Pires: Deputado estadual. Quantos mandatos foram? Dois?

Marcel Van Hattem: Um só.

Luciano Pires: Um só.

Marcel Van Hattem: Na verdade, três anos de mandato.

Luciano Pires: Estadual?

Marcel Van Hattem: Por ser suplente.

Luciano Pires: O salto para federal, ele acontece a partir de que momento? Qual é o gatilho? Cara é tipo assim: eu quero ir para lá por que lá eu posso agitar mais? Isso aqui ficou pequeno para mim? Ou acho que eu estou… eu apareci, eu estou tão bem colocado aqui que eu posso almejar um passo adiante? Como é que você amadurece essa ideia de…

Marcel Van Hattem: Certo. É. Eu acredito muito em passo a passo. Não tenho nada contra quem chegue direto a deputado federal. Eu acho que é algo que é possível. Têm vários que são deputados federais pela primeira vez e estão exercendo mandato eletivo. Mas quando eu comecei o mandato estadual já ali no terceiro, quarto mês já tinha gente dizendo: você deveria ser federal, porque a tua pauta é muito nacional. Eu ajudei a organizar os protestos contra a Dilma e tal. E eu respondi assim, muito conscientemente: se me trocassem hoje a minha cadeira de deputado estadual pela de federal, sem precisar passar por uma eleição, eu não aceitaria. Porque eu não… eu seria um em 513. Eu precisaria criar um lastro suficiente para poder chegar em Brasília com algum tipo de relevância. Porque Brasília é fácil você… eu já conhecia, eu já tinha trabalhado lá – essa parte até eu não cheguei a falar – com um deputado federal que era do PP. Eu cheguei a trabalhar um tempo com ele como assessor lá. Então conhecia um pouco a situação. Se a pessoa não chega a ter uma certa influência, relevância, é muito difícil. Até consegue, mas demora mais tempo.

Luciano Pires: Está no baixo clero. Que é uma coisa que as pessoas não entendem. O pessoal aqui não entende aquela coisa, seguinte: um sujeito que está no baixo clero, ele não consegue nem que o projeto dele suba. Para subir tem que ter um padrinho no médio ou alto clero. Quer dizer, se não tiver, o mérito do projeto, pelo mérito, dificilmente ele sobe.

Marcel Van Hattem: Isso.

Luciano Pires: Então tem todo um trabalho de bastidores, que se você não tiver relevância ali, você está no fundo da sala e ninguém vai nem te ouvir.

Marcel Van Hattem: É muito presidencialista o sistema da Câmara, no sentido de que – não é por causa do Maia, é qualquer presidente que está lá – tem poder sobre a pauta. Então ele decide. Então se eu não estiver próximo de alguma forma ou se você não tiver uma relevância que externamente te dê apoio para que as pessoas te percebam lá dentro é muito difícil fazer as coisas. Então foi isso, foi um processo de amadurecimento. Mas assim, um ano antes da eleição já, mais, quase dois anos antes da eleição, que eu descobri que o caminho era esse. E também pela própria renovação. Sempre que eu puder dar espaço para outras pessoas, melhor.

Luciano Pires: E você pula do PP para o Novo para concorrer como deputado federal. Você ficou surpreso com a votação? Ou estava nos conformes?

Marcel Van Hattem: Foi maravilhoso. Foi muito boa. Mas nós sabíamos que tinha potencial para ser um deputado bem votado. Era voz corrente logo na minha mudança. Como eu disse: houve aqueles que acharam que a minha mudança ia prejudicar também no meio. Mas em geral nós percebíamos um grande apelo nas redes. E foi uma campanha muito bem feita em redes sociais também. Então a gente controlava muito a mensagem que a gente enviava para os apoiadores. Os apoiadores também levavam adiante. E a campanha foi grande em vários sentidos. Quando ela é grande em muitas frentes, ela acaba se tornando grande no resultado também. Por exemplo: doações. Eu fui o candidato a deputado federal que mais doações teve no Brasil, em número de doações. Mais de mil pessoas fizeram doação. Nós arrecadamos pouco mais de 800 mil reais no total. Mesmo assim, esse valor, menos da metade do que em média, um deputado federal que já estava na Câmara recebeu de dinheiro público para a campanha. Os deputados tiveram dois milhões na conta para fazer campanha. Um absurdo. E a gente vê como o dinheiro apenas não faz tanta diferença. O que faz é o engajamento.

Luciano Pires: Quer dizer, só para citar. Esses caras que receberam dois milhões eram os caras que já estavam lá.

Marcel Van Hattem: Já estavam lá.

Luciano Pires: Você que é o novato chegando…

Marcel Van Hattem: Eu que sou o novato…

Luciano Pires: Não tem esse dinheiro para gastar.

Marcel Van Hattem: Não tem esse dinheiro. E o Novo se tivesse eu não ia usar. Mas tinha muito novato em partido tradicional, PT, MDB que estava tentando se eleger federal e não teve um centavo. Só ganhou dinheiro quem era ligado ao partido. Ou se fosse mulher. E aí que está esse problema dos laranjas, em todos os partidos. Das cotas. Por que o que acontece? Como mulher tinha que receber 30% dos valores da cota. Aí os candidatos faziam o quê? Você vai estadual. Então eu vou te botar como candidato estadual. Mas o dinheiro da tua campanha vai servir para a minha também tá? Vamos fazer dobradinha com você, estadual e federal. E não acontece com um partido só. É como todos os partidos. Não estou fazendo defesa de ninguém não. Eu acho que todo mundo que fez errado tem que pagar. Isso não se faz. Dinheiro público nem devia ser usado para campanha. Dinheiro está faltando para botar em hospital, educação. Sendo usado para gastar em santinho de candidato? Isso é um absurdo.

Luciano Pires: Mas os caras fazem aquela cagada suprema de proibir a doação privada.

Marcel Van Hattem: Exatamente.

Luciano Pires: Com a bola cantada.

Marcel Van Hattem: Exatamente.

Luciano Pires: A bola foi cantada cara, sim.

Marcel Van Hattem: Fizeram uma cortina de fumaça para isso, para pegar dinheiro público. Para as pessoas acreditarem. Então o que acontece? A minha campanha teve doação de gente que deu cinco reais, dez reais, duzentos reais. E essas pessoas, as pessoas que botam esse valor, ela vira um soldado.

Luciano Pires: Ela faz parte do processo.

Marcel Van Hattem: Ela faz parte do processo. É importante.

Luciano Pires: Mas tem uma coisa aí que é interessante. Eu falo até pelo meu projeto de assinatura que eu tenho aqui do Café Brasil e tudo mais. Que tem uma coisa que você não consegue botar valor, que é esse: me sentir parte do processo, entendeu?

Marcel Van Hattem: Isso. Isso.

Luciano Pires: Eu não sou só o teu fã. Eu não sou só um cara que estou torcendo por você, cara. Eu entrei, eu botei cinco reais ali. E naquele momento é como se eu tivesse comprado um ticket para estar no teu ônibus, cara. Então eu sou parte do processo. Eu estou junto, tá? Na tua eleição lá tem cinquinho meu. Você entendeu?

Marcel Van Hattem: Sabe o que nós fizemos Luciano? E a gente fez isso durante a campanha. Até é legal falar nisso. Porque eu falo pouco. Deveria até falar só sobre a campanha eleitoral. Lá pelas tantas, um mês antes da eleição, a gente montou um kit para cada doador. Não tinha 800. A gente tinha uns quinhentos e poucos doadores. E aí veio uma discussão na nossa equipe. Porque assim, aí o kit ia com cinco adesivos – se eu não me engano – vou chutar uns números. Mas uns cinco adesivos, uns 200 santinhos, explicando como que a pessoa fazia para botar nas caixinhas e tal. E aí tinha também um perfurite, que é aquele que você põe atrás do carro. Se eu não me engano, o preço de cada perfurite era 12 reais. Você imagina, só de perfurite para 500 pessoas, multiplica por 12 reais, dá 5, 6 mil reais. Então só em perfurite, 6 mil reais. Mas se a gente olhar o custo individual, tinha gente que doou cinco para a campanha.

Luciano Pires: E recebeu…

Marcel Van Hattem: Recebeu um perfurite de 12. E aí veio a discussão e terminou em mim. Que eu tinha que ser o voto de Minerva. Então uma discussão interna: vamos mandar, não vamos mandar? O custo é tal. Eu disse: quer saber? A gente manda para todo mundo. Porque quem fez doação fez para o material a ser usado. E põe junto na carta o custo de cada material. E diz que o perfurite em particular, se a pessoa achar que não pode usar por qualquer motivo, não quer se expor; o endereço para devolução, se achar interessante é esse. Vários devolveram. Se não muitos, a maioria. Eu espero até que tenham usado. A maioria usou. Mas no mínimo 10 ou 15, tem algumas cartinhas guardadas. A pessoa dizia: eu não posso me expor, mas está aqui de volta. Isso é o que mais vale. Que não é o valor da doação. Isso que é o bonito.

Luciano Pires: É o engajamento. É engajamento.

Marcel Van Hattem: Exato. Esse pessoal que é contra doação, que pensa que tem que ser tudo público e tal. Na verdade, o que eles querem é mais uma boquinha e dinheiro grátis para fazer campanha, dinheiro fácil e não estimula a pessoa a essa cultura da participação exatamente.

Luciano Pires: Hora de dar uma voltinha.

Marcel Van Hattem: Vamos lá.

Luciano Pires: Eu trabalhei durante 26 anos numa empresa gaúcha, Albarus, depois Dana, Dana Albarus no Rio Grande do Sul, 26 anos. Eu conheço com constância de ir para lá e voltar, toda hora, desde 1983, 84. Eu comecei vai e volta. Então cara, eu acompanhei o Rio Grande do Sul assim, num período interessante. E quando eu conheci o Rio Grande do Sul cara, tinha um cenário do rock, cara. Tinha um cenário de cultura. Tinha um cenário de um estado em expansão que era um negócio espetacular. Em algum momento aquilo tudo começou a se desfazer e o Rio Grande, que botava presidente da República toda hora, cara, tudo acontecia lá. Os gaúchos pintando e bordando. E começa a entrar numa descendente e vira um estado que sobe e desce, sobe e desce. Entra numa situação em que… cara ficou complicado. Anos 90, 2000. Aquilo acabou. Virou quase que terra arrasada. Tanto que um monte de gaúcho taura, um monte de gaúcho taura saiu, foi embora, veio para São Paulo, se mudou pelo Brasil afora.

Marcel Van Hattem: Centro-oeste.

Luciano Pires: E grande parte do que aconteceu lá foi por decisões políticas tomadas erradas lá. Que eu costumo dizer que tem a maldição da Ford. Começa com a maldição da Ford. No dia que alguém decide que a Ford não vai ser instalada lá. Porque queria tirar vantagem. Não quero mais. Dali para frente foi uma maldição e aquilo se desmontou. E eu vi esforços acontecendo por gente do bem, querendo botar ordem lá, cara. E vi alguns governadores assumindo cara: vamos botar… e os caras quase que arrumam. E em seguida desanda tudo. Não por acaso. Cada vez que assume um petista, o negócio cai, arrebenta…

Marcel Van Hattem: Isso.

Luciano Pires: Aquilo tudo lá. Cara, um estado educado, cheio de alemão, italiano, com uma cultura europeia, que se orgulha de ter uma personalidade, sabe, com aquela história. O gaúcho… eu consigo olhar para o Brasil enxergar. Que se fosse um país, seria um país gaúcho aquilo lá. Tem personalidade, tem cultura, tem história. E cai nessa – como diz o outro – nessa esparrela, sabe, de acreditar numas promessas. Como é que você vê isso, da tua posição de político, cara? São teus colegas, bicho.

Marcel Van Hattem: É. Têm várias coisas aí para a gente refletir a respeito. Mas talvez três principais. O Rio Grande do Sul é refém de decisões políticas erradas. E aí é muito refém disso em virtude da pressão de corporações e sindicatos para tirar dinheiro para as suas categorias e deixar a população pior. Só para vocês terem ideia, o Rio Grande do Sul hoje é o estado que tem o maior percentual de inativos sobre a folha; 54% de tudo que se arrecada para pagar folha vai para pagar aposentado. É o segundo estado no país em situação tão lamentável quanto o do Rio Grande do Sul. Pelo menos na lista, São Paulo com 27%. E São Paulo é muito mais rico. Então nós temos um problema enorme de várias corporações, sindicatos ao longo do ano, construindo vantagens para determinados setores. Uma cultura de estatismo muito grande também ainda, nesse primeiro aspecto. Nós temos ainda um banco público, que é o BANRISUL e ninguém consegue entrar numa discussão sadia sobre a privatização, que é absolutamente necessária. Todos os outros estados brasileiros já se livraram dos bancos públicos, no sentido de passar para a iniciativa privada, fomentar a concorrência, dar mais liberdade para os consumidores. Nós temos o aspecto que é esse do PT. Nós tivemos Olívio Dutra, depois nós tivemos Tarso Genro. Olívio Dutra foi o da Ford. Tarso Genro foi o que gastou tudo que tinha e o que não tinha para rolar os compromissos para o governo seguinte. Santa Catarina – eu sempre digo – uma das grandes vantagens em relação ao Rio Grande do Sul é que nunca foi governado pelo PT. Então isso aí faz diferença no estado. E o terceiro é uma cultura conflitiva muito grande. E aí já é histórico, chimango e maragato, Grêmio e Colorado. Um troço assim, muito… é muito difícil você estabelecer pontes e diálogos no Rio Grande do Sul. Acontecem muitas discussões sem base sólida de argumentos. Porque é do meu time eu estou defendendo. Se não for, estou fora. E isso, nós precisamos superar essas três questões. Tivemos a Yeda Crusius, que colocou o estado nos trilhos durante três anos. O Mateus Bandeira, que foi o nosso candidato a governador pelo Novo foi um dos grandes responsáveis pelo déficit zero. Conseguiu equilibrar as contas durante três anos. Daí entrou o Tarso Genro. Ela entrou depois do Rigotto e do Olívio Dutra. E aí vem o Tarso Genro, entregou as contas depauperadas e ainda estabeleceu, aprovou na Assembleia Legislativa, no último ano de mandato, aumentos escalonados durante os quatro anos seguintes. Então aumentou a despesa do funcionalismo público, enquanto o outro governo estava acontecendo, do José Ivo Sartori. Ele tentou ajeitar as contas ainda. Mas no final não se reelegeu, entrou o Eduardo Leite. Pelo menos não é do PT, é um governador que tem demonstrado uma boa…

Luciano Pires: Articulação…

Marcel Van Hattem: Articulação política. Eu espero que… ele acabou de conseguir retirar o plebiscito para as estatais no Rio Grande do Sul. Nós temos jabuticaba na Constituição, que é a seguinte… jabuticaba dá bastante no Rio Grande do Sul. Que é o seguinte, para poder privatizar certas empresas tem que ter plebiscito. Ou seja, para criar ninguém precisa perguntar para o povo. Mas para descriar, para extinguir ou para privatizar precisa fazer plebiscito. Ele retirou da Companhia de Energia Elétrica, conseguiu aprovar na Assembleia. A gente espera que o estado possa logo vender a CEEE e parar com esse prejuízo que está na casa do bilhão de reais por ano.

Luciano Pires: É quase que o microcosmo do Brasil cara. Eu consigo olhar o Rio Grande do Sul como o microcosmo do Brasil.

Marcel Van Hattem: Exatamente. Exatamente.

Luciano Pires: Bom, vamos lá cara. Você chega em Brasília. Ok? Ganha a eleição: eu vou para Brasília.

Marcel Van Hattem: O Rio Grande do Sul é como a Grécia na verdade. Só que não tem a União Europeia para salvar.

Luciano Pires: Então você chega em Brasília e agora você está na Câmara dos Deputados. Quinhentos e?

Marcel Van Hattem: 13.

Luciano Pires: 513 deputados. Todo tipo de gente possível, imaginável lá dentro. O que, de certa maneira, em alguns momentos me bate, quando o pessoal vem reclamar: pô, aquilo é um horror. Não sei o quê. Eu falo: cara sabe o que me deixa assim, mais angustiado? É olhar para aquela Câmara e imaginar que aquilo é o melhor que nós podemos fazer. É olhar para aquilo e falar: isso é o máximo que dá para fazer. É só isso que o Brasil consegue. Porque aquilo representa o que nós somos aqui. Alguém botou o cara lá. Esses malucos que estão lá foram eleitos para estar lá. Portanto, aquilo somos nós. A gente não vai conseguir muito mais do que aquilo. E aí vem um processo de renovação que foi interessante, não foi uma renovação no volume que a gente gostaria que fosse. Mas na qualidade eu acho que foi legal. Porque entrou uma moçadinha lá do balacobaco, que tem de tudo ali. Então tem desde o carnavalesco. Eu vou pegar… entrou uma moçada. Vou botar o rótulo porque não tem outro jeito de falar. Mas é mais fácil de entender. Entra uma moçada de direita. E ali dentro tem um saco de gato cara. Tem um maluco carnavalesco, tem o cara sério. E essa turma toda chega lá com todo tipo de discurso. Mas pela primeira vez a gente consegue ver uma reação quando entra um sujeito falando uma bobagem, alguém está na outra ponta e fala: espera um pouquinho. A gente começa a assistir algumas mudanças ali. Você esteve uma época lá como assessor parlamentar. Você viu mais ou menos como é que funcionava. Porque eu vi você perder a paciência duas ou três vezes ali, tipo assim: cara seis horas discutindo, a gente não sai do zero aqui. Essa coisa é uma sacanagem o que estão fazendo. Vamos fazer esse negócio andar. Foi surpresa para você encontrar esse tipo de… como é que eu vou dizer? Esse tipo de processos que existem lá dentro? Onde – de novo, vou voltar para o começo do programa – onde a lógica não predomina? Onde um mais um não dão dois? Tem gente dando volta. Tudo isso sendo aceito, transmitido pela televisão. E tratado como: sempre foi assim. O que se pode fazer?

Marcel Van Hattem: É. É. Tem duas coisas aí. Eu acho que a primeira delas é que existe uma lógica sim, por trás do diálogo que é necessário em qualquer ambiente. E sociedade é uma vida de diálogo. Em casa a gente faz política toda hora também, na nossa família. Um quer uma coisa, outro quer outra coisa. A gente chega num meio termo. Tenta achar uma forma de conciliar todos os pontos de vista. E isso algumas pessoas estão aprendendo agora, ao longo do caminho. Muita gente eleita pelas redes sociais, que não teve experiência parlamentar antes, chegou lá, continua fazendo seus vídeos para buscar likes e tal. Mas está percebendo que isso aí não é o que basta. Para o seu público externo, tudo bem. Mas para poder realizar uma coisa é preciso ter esse diálogo interno. Então tem esse aspecto que precisa ser levado em consideração. Mas o outro é exatamente esse que tu está dizendo: também tem certas tradições ali dentro que precisam ser alteradas. Não é possível mais continuar com um regimento interno que foi construído, foi escrito numa época que tinha só dois partidos, são agora 25 na Câmara. Qualquer partido pequeno lá consegue obstruir a votação durante horas a fio com uma série de requerimentos, o conhecido kit obstrução. Entram com requerimento lá, mandam para a mesa: eu quero um requerimento de adiamento de discussão, por duas sessões. E aí você discute durante uma hora aquele requerimento, que é só uma forma de atrasar, de protelar para não votar. Falando de mil outras coisas. Usa o microfone, que é anti regimental. Que também é anti regimento. Você não pode fugir do tema do debate. Está debatendo adiamento de discussão por duas sessões? Vai falar desse assunto. Não. Começa a falar da morte da bezerra, de um monte de outras coisas, só para ganhar tempo. Aí você finalmente votou esse requerimento de adiamento. Derrotou ele. Ou seja, parte da Câmara quer trabalhar. Vota contra para poder seguir. Aí você acha que vai votar o projeto? Não. Acabou de ser rejeitado de duas sessões. Adiamento de duas sessões. Agora eles vão votar o requerimento de adiamento por três sessões.

Luciano Pires: Aí começa…

Marcel Van Hattem: Aí começa todo o debate de novo ba-ba-ba. Aí terminou o debate, depois de uma hora. Agora vem o requerimento de adiamento para quatro sessões. Então tem uma série de… não é infinito. Mas tem uma série de artimanhas que os partidos podem usar. Partidos pequenos têm esse direito de obstruir as votações. Então isso tem que mudar. E, infelizmente, ainda não há uma mobilização forte suficiente para mudar isso. Espero que isso possa acontecer no ano que vem.

Luciano Pires: Vocês discutiram sobre uma… uma coisa é você ter o regimento e mudar o regimento. Outra coisa é o seguinte: há uma total indisciplina no obedecer o regimento. Você não pode ir lá na frente e meter o dedo na cara do presidente da mesa.

Marcel Van Hattem: Não.

Luciano Pires: E os caras vão e metem o dedo na cara. E não acontece nada.

Marcel Van Hattem: Não. Eles esculhambaram a coisa. Isso é coisa do PT, do PSol. O pessoal vai lá para esculhambar mesmo uma instituição que deveria ser séria, que é o parlamento. Eles vão lá para fazer barraco e para tirar a atenção. Então isso é muito triste. Porque a Câmara dos Deputados deveria ser visto justamente como aquilo que é uma casa de respeito. As pessoas que conversam, respeitam a ordem, respeitam o presidente, respeitam o relator, respeitam quem está sentado lá. Mas eles fazem isso exatamente para tumultuar. Para ganhar tempo. Para chamar a atenção dos seus eleitores. É aquilo que eu costumo dizer: para mudar isso precisamos votar diferente. Noutros candidatos e não nesses que fazem esse tipo de atividade.

Luciano Pires: Você acabou de jogar no meu colo. Você está no meu colo. [inint 01:24:57]

Marcel Van Hattem: Todo mundo está ouvindo tudo. Exatamente.

Luciano Pires: Vamos caminhar já para o caminho final aqui. Qual é a pauta do momento no Brasil? Tem a pauta da mídia. A mídia botou, elegeu e colocou a pauta como a reforma da previdência.

Marcel Van Hattem: Perfeito.

Luciano Pires: Que até um ano atrás não era. Era outra coisa. De um ano para cá a pauta é a reforma da previdência. E a gente sabe que tem a reforma tributária e tem uma atrás da outra, todas engatilhadinhas, que estão andando ali. E aquilo virou quase como uma panacéia hoje em dia. Aprova a reforma da previdência e está tudo resolvido no Brasil. Vai entrar dinheiro no dia seguinte, etc. e tal. E do outro lado um tsunami de desinformação, com mentira em cima de mentira. Ou seja, vira essa zona aqui. Onde eu não tenho nem saco mais de comentar na mídia social. Porque o cara entra com uma mentira, põe lá e fica aquilo lá mesmo.

Marcel Van Hattem: É um saco isso mesmo.

Luciano Pires: Qual é a pauta do momento lá dentro de vocês, fora desse barulho todo da mídia.

Marcel Van Hattem: É. Vamos lá. Na verdade, a reforma da previdência, ela não é panacéia para todos os nossos males. Precisa ficar bem claro para todo mundo, porque senão a gente vai vender uma ilusão. É preciso uma reforma tributária, é preciso uma reforma trabalhista mais aprofundada do que a gente tem hoje. Continua sendo muito caro para contratar e por isso tem tanta gente desempregada. É preciso uma reforma política. E é preciso também uma reforma das nossas leis no sistema penal. Enfim, é um absurdo hoje nós termos um país com 70 mil homicídios. Não é à toa que o Moro encaminhou logo nas primeiras semanas de governo já, o projeto. Está, infelizmente, parado. Mas deveria já estar sendo discutido pelos deputados. Quando me perguntam: ah, mas não dá para discutir dois temas ao mesmo tempo? Previdência e… alguns jornalistas já me perguntaram: previdência e o pacote do Moro. Será que não são temas demais para discutir? Eu disse: olha, são 513 deputados. Se 513 não conseguem debater dois temas ao mesmo tempo, por favor, para isso nós temos várias comissões. Aliás, temos demais. Tem 25 comissões temáticas. Agora, a reforma da previdência não é panacéia, não é a solução para todos os males. Mas ela é essencial para poder discutir os outros assuntos. Sem reformar o sistema previdenciário não tem como. As outras vão ser inócuas realmente. Porque a reforma tributária que, aliás, provavelmente essa semana vai ser discutida no Congresso Nacional já, na CCJ. O que é muito bom, porque já anda no conjunto também. A reforma tributária, ela é importantíssima para tirar a complexidade do sistema. Agora, sem reforma da previdência, o que hoje nós gastamos com aposentadoria, que está em 52%, daqui a quatro ou cinco anos, pode subir para 80% do gasto público. É insustentável. Não tem da onde tirar dinheiro. O Brasil vai no rumo da Venezuela realmente. Para poder recuperar a credibilidade e ter uma chance de crescimento nos próximos anos tem que fazer a reforma da previdência, tem que corrigir os problemas de distorção do déficit e andar – você tem toda razão – junto com as outras reformas que o Brasil precisa. E o Partido Novo é muito comprometido com essa parte, com a pauta econômica e também com a pauta do combate à corrupção e do crime violento. Então nós, os oito deputados federais do Partido Novo, já estamos trabalhando muito nessas pautas. Por isso a gente está chamando a atenção. O Partido Novo faz processo seletivo dos seus candidatos. Quem se elegeu passou por um processo rigoroso para entender quais são os pontos que o partido defende. Hoje nós temos essa – apesar de ser uma bancada pequena – que os oito estão caminhando para o mesmo lado. E todos com bons argumentos para defender os seus pontos de vista.

Luciano Pires: É. Vocês têm uma turminha diferenciada lá viu? Dá para saber, dá para ver no próprio debate, na colocação que vocês fazem lá. Que é um povo diferenciado lá. Eu tenho muita simpatia também pelo Novo. Não sou agregado a partido algum, nenhum. Trouxe, nessa cadeirinha aqui sentou o Amoedo.

Marcel Van Hattem: Ah, que legal.

Luciano Pires: Sim, fiz um LiderCast com o Amoedo. Foi muito legal na época. Foi bem legal. Acabei que eu não votei no Amoedo na hora H. Foi meu candidato até a reta final.

Marcel Van Hattem: Ah, que pena.

Luciano Pires: Na reta final, eu…

Marcel Van Hattem: A maioria dos meus eleitores disseram isso: na reta final…

Luciano Pires: Não é cara. Mas sabe o que é? Não. É aquela postura né bicho? E agora? E se a gente for e levar o outro? Sabe? Então é aquela história do voto útil. Ganhou… a eleição foi a eleição do voto útil. O que de certa maneira, coloca uma expectativa interessante para as próximas…

Marcel Van Hattem: Claro. Claro. Claro.

Luciano Pires: Eleições. Que eu acho que vocês vêm com uma força bem grande aí. Tomara que a coisa…

Marcel Van Hattem: Já com um trabalho realizado. Esse pessoal quer credibilidade.

Luciano Pires: Sim. Eu acho que vocês que estão lá vão ter uma eleição, vão ter uma votação muito mais expressiva. Vão botar mais gente para funcionar. Porque estão com uma pauta que serve para muitos brasileiros. A gente olha isso aí com bastante… aliás, parabéns por manterem essa coerência. Tem uma certa discussão nesse momento, que agora eu não vou nem botar no programa isso aqui, mas está uma quebrada de pau aí por causa da posição do Alexis.

Marcel Van Hattem: É. Sim.

Luciano Pires: Aquela história, o negócio. Eu até troquei uma ideia com ele. Depois a gente fala isso. Eu não vou botar no programa isso aqui.

Marcel Van Hattem: Tá.

Luciano Pires: Meu caro: tem um garotão de 26 anos de idade ouvindo a gente aqui, está no carro, está no busão agora. Está nos ouvindo e fala, etc. e tal. Ele está pensando: esse cara aí está pintando, está querendo fazer acontecer. Qual é o recado que você mandaria para essa garotada? Eu não quero saber dos velhos, eu quero saber da molecada. Essa molecada que está gritando, que está xingando, que está batendo e tudo mais. E que no fundo, gostaria de fazer alguma coisa mais efetiva. Além de votar no meu candidato? Você que passou por isso cara, como um garoto lá atrás que tomou uma escolha. O que você… que recado você passa para essa moçada?

Marcel Van Hattem: Olha só: é possível sim. É algo que eu fui fazendo na minha vida. Porque eu ia acreditando em cada passo que eu dava. E para quem está pensando agora: poxa, mas será que eu tomo atitude? Eu participo da política de uma forma mais… será que eu vou realmente ter sucesso? O sucesso, ele é consequência do teu trabalho. Mais importante do que ter o sucesso eleitoral é você estar preparado para exercer eventualmente um mandato, alguma posição de liderança. Então leia bastante, se informe, procure textos que façam sentido para você, estude, saiba como funciona a economia. Não acredite na primeira coisa que digam, que disserem para você. Tente se informar com gente que tem condições de raciocínio e que… que nem o Luciano faz, os podcasts dele. Conversa com o pessoal aí, extrai o melhor das pessoas. Isso aí é fundamental. Então é muito importante quando… me perguntam muitas vezes: poxa vida, você tem só 27 anos, você começou com 17. Foi vereador. Você defende que todo mundo que é jovem tem que começar na política? Eu disse: não. Não defendo todo mundo que é jovem tenha que começar na política. O que eu defendo é que todo mundo que tenha uma vontade de ajudar sim, mas ao mesmo tempo, tenha um mínimo de conhecimento de como funciona a política, de como funciona a economia, sim, participe da política. Porque muitas vezes a gente quer ajudar, mas não tem o conhecimento necessário e acaba piorando as coisas. Então é isso, eu diria: informe-se, vá atrás, leia bastante. Nós temos uma cultura da leitura muito precária no Brasil, precisamos melhorar isso. E cada um de nós pode fazer a sua parte onde quer que seja: no nosso bairro, na nossa escola. E esse é outro recado que eu gostaria de passar: a gente às vezes se queixa muito do presidente da República. Ele pode ser do partido A, do partido B. Ou do governador ser do partido A, do partido B. Mas a gente tem que se lembrar que todas as pessoas que estão lá começaram um dia lá embaixo, em alguma associação de bairro ou como vereador da cidade. Mesmo que ele tenha começado como deputado. Mas antes teve algum tipo de atividade política local. Pode ser…

Luciano Pires: Muito próxima de você. Muito perto de você que está ouvindo.

Marcel Van Hattem: Só não pense assim: ah, eu vou deixar para os outros fazerem. Se a gente terceirizar, a gente vai continuar só reclamando. O importante é a gente fazer.

Luciano Pires: Eu tenho uma historinha interessante que eu acho que tem a ver. Eu acho que você já ouviu. Eu acho que você já conhece. A Soninha Francini.

Marcel Van Hattem: Sim. Era DJ da MTV não era isso?

Luciano Pires: Ela era DJ da MTV. Depois virou vereadora, etc. e tal. E a Soninha uma vez deu uma entrevista que eu nunca mais esqueci essa entrevista. Ela dizia o seguinte: eu me dediquei a trabalhos sociais. Então eu ia para a comunidade, ia para a favela e juntava a garotada. Eu fazia programas de artes. Eu fazia uma pancada de coisa. E aí eu ia embora. Quando eu voltava lá, um mês depois, um ano depois, a situação era o mesmo horror. Não tinha mudado nada na vida de ninguém. E foi quando eu olhei para aquilo e eu falei: cara, eu tenho que ir para um… pegar essa minha energia e levar para um lugar onde eu possa mudar a vida das pessoas. Foi aí que ela dedicou. Ela resolveu ser política. Ela falou: eu vou fazer política, porque eu como vereadora, eu posso imprimir ou botar um processo qualquer e gerar uma lei, onde se essa lei for assinada eu mudo a vida de milhões de pessoas. Eu como um ser humano aqui, único, a professora, indo lá e ensinando a molecada a fazer arte, eu vou poder fazer pouco com isso aí.

Marcel Van Hattem: É isso.

Luciano Pires: Então… e ela pagou a conta. Ela comprou o bônus e o ônus. Acabou que… virou… ficou uma confusão na vida dela lá. Deu um monte de encrenca lá. Mas eu admirei essa coragem dela. Ela falou: eu vou me expor. Eu vou botar a cara para bater. E aí cara, no momento que virou político começa a tomar pedrada.

Marcel Van Hattem: Eu ia dizer mais uma coisa.

Luciano Pires: Diga, por favor.

Marcel Van Hattem: Não. Tu quer concluir o raciocínio anterior?

Luciano Pires: Não. Depois.

Marcel Van Hattem: Desconfie sempre, inclusive do Marcel.

Luciano Pires: Isso mesmo.

Marcel Van Hattem: Ah, estou falando aqui. É um cara legal. Gostei de tudo que ele está falando. Cara, vai lá pesquisar ver se é verdade mesmo. Não, na boa. Eu acho que é muito importante a gente desconfiar. Não é uma questão… nós temos uma cultura de desconfiança no Brasil. Não é isso que eu estou dizendo. Que é cartorial. A gente não acredita na boa fé das pessoas. Não é isso. Mas intelectualmente é importante a gente sempre exercitar a mente para o contraditório. Ir buscar o que o outro pensa. Qual é o contraditório daquilo que o Marcel está dizendo. É importante sim, porque isso faz a gente crescer.

Luciano Pires: É um ceticismo nutritivo.

Marcel Van Hattem: Sem dúvida. Ainda mais de político. Porque político tem essa tendência, que é ficar no poder. Então político em geral vai querer falar as coisas que as pessoas gostam de ouvir, porque ele precisa dos votos das pessoas para se eleger depois. Então é muito difícil você, na política dizer as coisas como elas são e não como elas de fato deveriam… dizer as coisas como elas são é muito difícil. E é muito mais fácil você dizer como elas deveriam ser para agradar A ou B. Então é muito importante a desconfiança.

Luciano Pires: Marcel, a nossa última pergunta aqui. Agora eu quero que você dê uma receita do bolo para nós. Para a gente saber como que é. Cara, você como um político toma porrada de todo lado. E toma porrada. A gene sabe que toma. Essa porrada vai desde o sujeito que entra, que solta um tweet te xingando. Até, se bobear, uma ameaça de morte, alguma coisa que chega para você com um peso, que não chegaria para uma pessoa que está no seu dia a dia normal ali. Você tem que desenvolver uma… eu chamo de armadura emocional. Se você não bota a tua armadura emocional você está ferrado cara. Na quinta porrada você já vai desmontar. E imagino você lá naquela posição onde você está exposto. O público está te vendo. Você está subindo na tribuna e falando. E ao falar, você está desagradando toda aquela corriola que é do contra e que vai buscar no passado, que vai puxar coisa e vai jogar em cima de você. Se bobear vai atingir tua família. Então, qual é o truque dessa armadura emocional cara? Que eu sei que alguns têm e outros não conseguem ter. No teu caso, me parece que tem.

Marcel Van Hattem: É. Eu não sei se é truque. Mas é sempre ter ao meu lado, convicção. E um homem acompanhado da sua convicção nunca está só. Então você saber que aquilo que você está falando faz sentido, que é a verdade, ou pelo menos aquilo que você está entendendo que é a verdade, é fundamental. Subir numa tribuna para falar algo que eu não acredito não tem o menor sentido para mim. Então, sempre que eu falo uma coisa, que eu sei que pelo menos vai ter uma pessoa ali fora ou mesmo que não tenha ninguém. Mas que eu sei que é verdadeiro, eu estou tranquilo. E pode dizer o que quiserem de mim. Eu vou fazer o quê? normalmente mentiras, inclusive. Eu acho que isso diz muito mais de quem está espalhando do que de mim. Então, eu acho que basicamente é isso: é estar convicto, é estar tranquilo com a própria consciência e defender aquilo que a gente acha que é correto.

Luciano Pires: Perfeito. Quem quiser te acompanhar?

Marcel Van Hattem: Tem no Facebook, tem no Youtube. Facebook.com/marcelvh. Instagram, Marcel Van Hattem. Aliás, eu cresci muito no Instagram. Eu tinha 50 mil seguidores no dia da minha eleição, 7 de outubro. Passou para 100 mil uma semana depois. Eu acho que por causa do tamanho da votação. As pessoas querem saber quem é. E hoje estamos passando de 180 mil seguidores.

Luciano Pires: A própria rede em si. O Instagram ganhou muito espaço.

Marcel Van Hattem: Muito.

Luciano Pires: Agora, não se preocupa não, que o Zuckerberg vai detonar o Instagram, porque já meteu a mão, já estão fazendo um monte de coisa lá…

Marcel Van Hattem: É. Isso tudo é substituível. Que é outra coisa que eu digo: o mais importante… claro, eu quero que vocês todos me sigam, hein? Mas o mais importante não é em qual rede social você está. Mas como você usa ela. E rede social é lugar para você ser você mesmo. Tem muito político que quer – de novo – a receita do bolo, o ingrediente, quer contratar assessoria. É importante. Eu também tenho no meu gabinete, eu uso. Mas acha que alguém vai ensinar o cara a usar rede social. Isso é algo que… você sabe melhor do que eu né Luciano? É algo que você precisa fazer de forma genuína. As pessoas têm que sentir que quem está falando é o Marcel, quem está falando é o Luciano. Quem está falando é realmente aquela pessoa e não alguém que é artificial. Isso que eu acho que é o mais importante, independentemente se for Instagram. Já foi Orkut. Hoje o Facebook também está perdendo. Logo vai ser outra rede aí. Mas o mais importante é manter sempre essa linha.

Luciano Pires: Para terminar de vez mesmo…

Marcel Van Hattem: Vamos lá.

Luciano Pires: Uma vontade minha aqui, é pessoal. A gente fica falando para os caras: meu, fale com o teu deputado, fale com teu senador, etc. e tal. Quando alguém te manda uma mensagem chega em você?

Marcel Van Hattem: Chega. Chega. Em geral assim, bom, na verdade, nós temos milhares de mensagens. Tem algumas mensagens que não chegam. E-mails são demais. Nós não temos muita gente trabalhando com a gente. Eu poderia contratar até 25 pessoas. No Novo a gente tem o compromisso de não contratar mais que 12, a metade. Eu tenho oito. Seis em Brasília e dois em Porto Alegre. E sinceramente, eu já acho bastante coisa isso, oito pessoas. Mas nós recebemos mais de dois mil e-mails por mês, sem falar em mensagens e Facebook, comentários. Agora, eu leio todos os comentários que têm no Facebook. Todos os comentários que fazem no Instagram eu sempre estou olhando. Eu mesmo faço os posts que vão ao ar. Então eu acompanho tudo que vem. Não consigo responder tudo. Mas tudo aquilo que chega na minha assessoria, o meu chefe de gabinete, o Cláudio Damin, ele encaminha para a pessoa responsável. Se não é dentro do gabinete, se é alguém que vai na liderança, o Novo dá um encaminhamento. Vai receber. Então, sempre vai ter uma resposta. Às vezes não é minha pessoal. Porque é impossível humanamente. Mas alguém vai dar resposta com certeza.

Luciano Pires: Eu acho isso importante. É saber que você leu.

Marcel Van Hattem: Isso.

Luciano Pires: Porque mais até do que responda é saber que leu.

Marcel Van Hattem: Às vezes pede: eu quero que passe para o deputado ler. O pessoal está orientado. Na hora que diz isso na mensagem eu vou ler.

Luciano Pires: Meu caro, que baita desafio, que grande história. Parabéns pela tua coragem. Sabe? Uma coisa é você ter conteúdo. É você conseguir falar em público, etc. e tal. Outra coisa é ter coragem de chegar lá na frente e trombar como todo mundo. E você trombar com coerência. Sabe? Porque não é: o vento mudou de lado, ele mudou também. Não bicho, o cara está seguindo uma coerência a ponto de mudar para um partido onde você está mais coerente. E eu queria ver isso continuar cara. Eu quero te ver continuando bicho, o mais para cima, mais para cima. E conte com a gente aqui, cara. A gente tem muita simpatia. São ideias parecidas. Sabe? Aquela turminha que você falou que era o teu Conselho no Rio Grande do Sul é um pessoal com quem eu mantenho muita simpatia com eles lá. Eu acho que a gente tem essa visão um pouco liberal, um pouco conservadora, um pouquinho de cada um, tudo misturado ali. Mas que para mim é a única receita para esse país aqui dar certo. É muito legal saber que tem gente como você lá, segurando a peteca. Seja bem-vindo e muito obrigado pelo tempo desprendido comigo aqui.

Marcel Van Hattem: Imagina. Que é isso? Eu agradeço Luciano. E até fico muito feliz. Demorou um pouquinho, mas cheguei. E teu trabalho é fantástico, parabéns. Está chegando a muita gente essa notícia, esses anos todos aí. E o pessoal realmente precisa disso: ouvir opiniões diferentes e conduzidas por alguém… é uma conversa, não é bem uma entrevista.

Luciano Pires: É isso.

Marcel Van Hattem: Uma conversa boa, franca. Legal.

Luciano Pires: Parabéns. Seja bem-vindo.

Marcel Van Hattem: Obrigado.

Luciano Pires: Um abraço.

Marcel Van Hattem: Valeu. Abração.

Luciano Pires: Muito bem, termina aqui mais um LiderCast, a transcrição deste programa, você encontra no lidercast.com.br. O LiderCast nasceu da minha obsessão pelos temas: liderança e empreendedorismo. É em torno dele que eu construí minha carreira, com mais de mil palestras, nas quais distribuo iscas intelectuais para provocar equipes e indivíduos, ampliar seus repertórios e sua capacidade de julgamento e tomada de decisão. Elve o fitness intelectual para sua empresa. Acesse lucianopires.com.br e conheça minhas palestras.

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Marcel no Parcão: https://www.youtube.com/watch?v=R6vk34p9hnc

Marcel sendo atacado em entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=000b7AFo5h8

Marcel sendo atacado pelo professor: https://www.youtube.com/watch?v=SaZQbKe3Rho