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Ciça Camargo -

Luciano          Mais um LíderCast. Como já está virando hábito eu sempre costumo dizer como é que as pessoas surgem aqui para fazer a participação no programa. Essa aqui foi uma indicação que veio de dentro da Confraria Café Brasil, os vídeos dela começaram a viralizar, começaram a aparecer, o pessoal publicou acho que um ou dois vídeos ali, com um conteúdo muito interessante e um deles me deu a dica, se não me engano foi o Josué: Luciano, porque você não fala com a professora? Eu falei vamos ver, tem o contato com ela? Ele encontrou o contato, passou para mim, de repente aqui estamos, direto de Brasília, nesta manhã, quase fria de São Paulo. São três as perguntas, as únicas perguntas fundamentais do programa são as três da abertura, então vamos a elas aqui: eu quero saber seu nome, sua idade e o que é que você faz?

Lúcia              Meu nome é Lúcia Helena Galvão Maia, tenho 53 anos, trabalho com uma atividade voluntária numa associação internacional chamada Nova Acrópole. É uma escola de filosofia, mas que também trabalha com cultura e voluntariado e isso já vão 28 anos na ativa, trabalho bastante intenso, todos os dias, é uma proposta bem interessante, eu não sei se você já ouviu  falar desse trabalho?

Luciano          Já ouvi, a gente vai especular bastante sobre ele aqui, porque eu tenho uma grande curiosidade sobre ele. Você nasceu onde?

Lúcia              Eu nasci no Rio de Janeiro, sou uma carioca meio brasiliense já, cheguei aos nove anos em Brasília.

Luciano          Seu pai fazia o que? Sua mãe e seu pai eram o quê?

Lúcia              Meu pai era um servidor público, minha mãe era do lar. Meu pai foi transferido para Brasília. Meu pai era bancário e era aquela época muito incentivado que as pessoas fossem a Brasília, Brasília era outra coisa, era muito precária.

Luciano          Nós estamos falando de 44 anos atrás, é isso?

Lúcia              Exatamente.

Luciano          Brasília estava no comecinho, o que é que tinha lá?

Lúcia              Nós morávamos no último bloco da Asa Sul, da 116 Sul, então para o meu ponto de vista de carioca só tinha barro e eram uns redemoinhos de barro, eu ficava assustada, porque ele mandava fotografias para a família, os redemoinhos de barro em volta do nosso prédio, foi meio difícil.

Luciano          Já era uma cidade complicada, porque Brasília é o tipo da cidade que se você não tiver um automóvel, é complicado Brasília, porque se locomover pela cidade lá, é tudo longe, é tudo muito longe e imagino naquela época então que você… ela não estava toda construída, aquilo era o começo de tudo, um dia eu quero trazer alguém que participou da feitura daquela cidade lá para contar como é que foi aquela loucura de desbravar aquilo lá. Mas você chega lá com nove anos, numa cidade que está começando a acontecer, no núcleo do poder do país e com ideia de quando crescer ser o quê?

Lúcia              Engraçado, eu sonhava em ser veterinária, eu queria mexer com cachorros e gatos, até hoje eu gosto muito e tenho mania de pegar bicho na rua, isso é uma mania que eu nunca perdi, mas Brasília naquela época não existia cursos de veterinária, tinha que ir para Viçosa, meus pais não deixaram, aí fui ficando, acabei entrando numa área, relações internacionais porque eu sonhava em conhecer o mundo, uma coisa engraçada, eu tinha a ilusão de que em algum lugar no mundo tinha uma coisa extraordinária que eu tinha que conhecer, e algum lugar do mundo o ser humano era muito diferente, ainda bem que antes de ir para fora eu fui para dentro, quando eu fui para fora não me decepcionei tanto, porque mais ou menos o ser humano é o mesmo em tudo quanto é lugar.

Luciano          Você tem irmãos?

Lúcia              Tenho.

Luciano          Tem irmãos.

Lúcia              Somos cinco, eu sou a caçula já assim bem temporã, naquela hora que os pais não esperam mais filho.

Luciano          Muito bem, aí você faz então relações internacionais, até consigo entender uma escola dessa em Brasília, formando as lideranças, o pessoal que vai ajudar a tocar esse país aqui. Você se forma lá e vai fazer o quê? Vai trabalhar com o quê?

Lúcia              Como na verdade eu acabei ficando um pouco frustrada, não era exatamente o que eu queria, eu já era servidora pública, eu era quase todo brasiliense, não digo todos, mas uma grande  parte se dedica ao serviço público e acaba sendo uma direção mais tranquila, maia segura, então eu me dediquei ao serviço público e comecei a tentar procurar, bom agora que eu já tenho diploma para oferecer aos pais, vamos procurar o curso que eu gosto, aí fui para economia, porque eu achava que economia misturava matemática com história, aquilo devia ser legal, porque eu gostava dos dois, não deu, não era o que eu gostava, aí foi para filosofia, achava que sei lá, ia encontrar Sócrates na porta de entrada, também não achei o Sócrates, não era exatamente o que eu queria, aí desisti de cursos acadêmicos, foi mais ou menos a época, 24 anos, que a Nova Acrópole chega em Brasília, vinda de São Paulo, chega em Brasília.

Luciano          Você falou uma coisa super interessante aí, você colocou depois que eu ofereci os diplomas aos pais, aí eu fui procurar fazer o que eu gostava.

Lúcia              Era mais ou menos a lógica, pelo menos no meu meio a lógica erra isso daí.

Luciano          Não é diferente de muita gente que chega aqui, o pessoal chega, como é que é? Tinha aquela pressão de fazer e papai e mamãe naquela história vai ser engenheiro, vai ser médica, vai ser doutor, eram poucas opções, precisava ter o diploma que na verdade era quase que uma conquista dos pais na nossa época, tudo o que o pai queria era que o filho tivesse o diploma e fosse encaminhado na vida e de repente não era bem aquilo que o filho queria fazer, ele tinha que procurar uma opção e você então foi buscar opções dentro do que existia ali da escola tradicional e não achou, o que era essa incomodação que você, que quando você fala assim eu ia lá tentando encontrar o Sócrates na porta, o que você estava buscando?

Lúcia              Pois é, eu não fazia a mínima ideia, não sabia que isso tinha nome e aliás até hoje eu tenho dúvidas se isso cabe dentro de um nome, mas eu me recordo de uma cena que foi muito interessante, significativa assim na minha adolescência, eu tinha 15 anos, eu estava assistindo um filme de faroeste americano na seção da tarde com a minha mãe e aí os índios começaram a fazer uma dança em torno do fogo invocando a chuva, eles abaixavam, levantavam, batiam o tacape no chão, rodavam, aquela coisa bem hollywoodiana, que nem sei se aquilo existiu daquela forma em algum momento, mas era um movimento circular e aí de repente eu virei para  a minha mãe e falei, eu sou igual a esses índios. Por que minha filha? Sim, eu sou igualzinha a esses índios, acordo de manhã, tomo café, vou para o colégio, volto do colégio, como, faço o dever de casa, assisto televisão durmo, acordo, vou para o colégio… movimento circular, só que tem uma coisa, eles sabem porque eles estão fazendo isso, eles estão invocando o espírito da chuva, eu não sei que espírito que eu estou invocando, eu não sei porque eu estou fazendo isso. Ela olhou para mim, isso me rendeu uma visita ao psicólogo, foi gratuito e imediato, mas realmente eu sentia isso, ninguém me explicou para onde? Por quê? Para quê? Isso foi um ponto que ficou bem marcado. Quando eu tenho, às vezes, dúvidas, será que é filosofia? Toda vez na minha vida eu volto a esse ponto, mas eu era, eu já era, já estava buscando algo assim.

Luciano          Interessante, isso não se explica de onde vem esse tipo de coisa. Vamos chegar lá, vamos chegar lá. Aí de repente como é que você encontra…  deixa eu ver se eu consigo fazer de uma forma inteligente. Como é que você encontra a Nova Acrópole, não me conta o que é ainda, eu quero saber se o momento em que você tromba com aquilo e fala ué, tem alguma coisa interessante aí, como é que isso acontece? Algum amigo te leva lá? Você ouve o chamado? Como é que foi?

Lúcia              Não, na verdade alguém me levou lá e foi uma coisa curiosa, porque eu tinha já de adolescente algumas vivências familiares com religião e eu tinha uma certa percepção, não tenho nada contra, mas não é na religião o que eu estou procurando, aí alguns amigos me levaram para partido político, esquerda na minha época em universidade era  uma coisa forte, vamos lá, mas eu já também estava com aquela ligeira impressão de que não  era bem o que eu estava procurando, mas já tinha passado  por todas essas ideologias, isso tinha gerado alguma influência, aí um amigo me convidou para ir a uma aula de um curso de filosofia que ele estava fazendo, aquilo era insólito para mim, o que é filosofia, para que serve isso? E mais curioso que essa pessoa já tinha começado o curso, já estava pela metade e ele não me levou para o começo de um curso, me levou para a aula dele e era uma aula já adiantada que falava sobre república de Platão e as concepções de forma de governo de Platão, aquilo era tão chocante com o que eu tinha aprendido dentro de militância política, sabe o que é um soco no estômago? A possibilidade de eu ir embora dali e não voltar nunca mais era de 99%, mas eu cheguei e pensei, bom, ou esse Platão é louco ou sou eu, eu não posso  ficar nessa dúvida, tenho que checar, não posso viver com essa dúvida o resto da vida, eu continuei mais por teimosia, tenho que checar, porque são dois pensamentos tão incompatíveis, que um dos dois está louco e se for eu? Tem essa dúvida, que eu acho que já era algo de filosofia é que me fez continuar.

Luciano          Essa aula que ele te levou era aonde? Na escola?

Lúcia              Era na Escola Nova Acrópole e era já…

Luciano          Ah já era na Nova Acrópole então?

Lúcia              … era na Nova Acrópole, era metade do curso de primeiro nível já.

Luciano          Ele te contou o que era aquilo? Estou te levando numa escola que chegou aí?

Lucia              Ele me disse que era uma escola de filosofia, não soube, porque ele também não tinha muito tempo, tinha uns três meses de aula, fazia o primeiro nível, que tem cinco meses, então ele devia estar há uns três meses na escola, não soube me explicar, vamos lá que você vai ver e me levou para a aula dele, que já era um curso bem adiantado.

Luciano          E aí você curtiu aquilo e falou vou continuar?

Lúcia              Não curti, fiquei chocada, porque Platão é bastante chocante quando você vê pela primeira vez, não é nada que esteja assim dentro das tuas premissas de mundo, é uma coisa muito fora, então você diz, se existe isso, ele é louco, ou eu sou louca? Tenho que ver. A dúvida que você não pode carregar pelo resto da vida.

Luciano          É a caverna, não é? Muito bem, me conta o que é então, o que é Nova Acrópole, eu estou falando você de fora, o que eu conheço de Nova Acrópole, muito pouca coisa de dar uma olhada rapidamente mas esse é daqueles movimentos que ganha uma dimensão que se a gente olha de fora parece que é um culto, parece que é um grupo especial, eu consigo olhar, vejo a maçonaria num canto, vejo a Nova Acrópole aqui, eu vejo várias dessas coisas que são muito parecidas, como eu não me aproximo delas eu não consigo entender o que é, vou aproveitar a tua vinda aqui para contar o que é. O que é Nova Acrópole?

Lúcia              Pois é, isso é uma coisa que é minha motivação para começar a gravar palestra e colocar no Youtube, isso deu um medo no início que você não faz ideia, deu um medo terrível, você faz, pois é, isso me deu um medo muito grande, mas foi exatamente tentar criar uma identidade que eu sei que é impossível numa pessoa ter, de fora, exatamente porque eu não podia imaginar Platão antes de conhecer, também não dá para imaginar uma filosofia da maneira como a gente faz sem conhecer, porque não está muito dentro do nosso menu de opções, imagina o seguinte, a minha história, que eu contei para você, entrei numa universidade, estava procurando alguma coisa que eu não sabia o que era o nome, saí batendo cabeça até que num determinado momento achei alguma coisa que me satisfez. Volta no tempo  para 1957, aí vem  um rapaz, em Buenos Aires, chamado Jorge Ángel Livraga Rizzi que também fez a mesma coisa, foi para a universidade procurando Platão, aí chegou lá, bate aqui, bate ali, chegou a ir até para a medicina, fez um monte de coisas, um pouco de filosofia e bom, está bem, mas não era bem isso e aí alguém deu para ele a ideia insólita, começou a ler quem? Platão. É sempre o Platão, ele é realmente um perversor e começou a ler Platão e começou a ter as suas ideias a respeito do que era que ele esperava, do que era que ele gostaria, aquela ideia de que só é útil conhecimento que te torna melhor e um dia alguém confrontou ele com uma pergunta: bom se você não achou, por que você não faz? Ele diz que foi um dos maiores frios na espinha que ele já teve na vida. Como assim eu faço? Filósofos são buscadores da sabedoria, não é um sábio, você não está buscando? Estou. Então faz, rapaz. Aí compilando aquelas coisas básicas que ele aprendeu, que ele conhecia, que ele recebeu, estruturou um módulo básico de ensinamento baseado nessa ideia, que o cidadão que fez filosofia pela primeira vez, como dizia Sócrates, é o útil conhecimento que nos torna melhores, ele queria acoplar condição humana a um manual de instruções, quando você não controla as tuas emoções, tem jeito de controlar? Ou emoção é uma coisa que vai te arrastar pela vida a fora? Quando você não confronta a preguiça, não consegue dominá-la, tem alguma postura psicológica que te ajuda a dar resposta para isso ou você tem que ser preguiçoso pelo resto da vida? Você é um produto feito ou você pode construir a si próprio? Porque a ideia da filosofia é que dá para construir, que você pode não ser produto do meio, pode ser produto de si mesmo. Então, você pega lá o Aristóteles, pega lá o Platão, vai um pouco para a filosofia oriental também, pega um Sankara Sharion, um Confúcio e é isso que eles estão dizendo, olha eu era assim, fiquei assim porque eu quis, eu sou um produto da minha vontade, é o símbolo do Lotus branco, você leva acima das águas fica branco, a água está apodrecendo mas ele fica branco, por que? Porque ele quis, é produto de si mesmo, então muita gente na história falava sobre isso e ele acreditou e criou um módulo de estudos e depois foi aprofundando, foi detalhando, hoje são sete módulos de estudo e o trabalho todo voluntário, todo mundo em Nova Acrópole não ganha um centavo pelo que faz, eu tenho 28 anos fazendo isso praticamente diariamente e isso foi expandindo e de repente uma pessoa só. Eu gostaria de levar isso para o Uruguai, eu sou de lá, eu acho que o pessoal aceitaria bem, bom, vamos abrir uma filial no Uruguai. Ó eu gostaria de levar para o Peru, está bom, vamos abrir uma filial no Peru, foram os dois primeiros países. Um dia alguém mais ousada foi para a Espanha, Madri e aí começou, a Europa e hoje tem em cinquenta e quatro países. Mas qualquer lugar que você vá, digamos, você começa a fazer um primeiro módulo aqui, pode continuar no Japão, porque é o mesmo material didático, é a mesma  lógica e sempre uma mesma ideia. Uma vez um aluno chegou para mim e perguntou,  se eu ficar sentada aqui nesta cadeira fazendo essa filosofia que você está ensinando por cinco anos, eu vou me tornar o quê? Eu virei para ele e falei olha, só ficar sentado nessa cadeira ouvindo o que eu estou falando, é só isso, vai ficar cinco anos mais velho, talvez ganhe um pouco de peso, perca cabelo, não vai acontecer nada. Agora, se você pega esse conhecimento e acopla com a tua vida e tenta usar isso como manual de instruções checando, deu, não deu, usando, recriando esse ensinamento na tua vida, olha, dá para fazer muita coisa, mas isso é mérito teu, não meu, não estou dando nada de graça, estou te dando um manual de orientações.

Luciano          Então a Nova Acrópole é uma escola?

Lúcia              Sim.

Luciano          Posso entender como uma escola e nada de seita, não tem nada…

Lúcia              Nenhuma ligação com nenhuma religião.

Luciano          … nenhuma religião.

Lúcia              Se você pegar o nosso primeiro início você vai ver que o nosso estudo é Confúcio, estuda Egito, estuda Aristóteles, estuda Ghandhi, se for uma religião é muito eclética, não tem nenhuma ligação, nem com religião, nem com política, nem com nada.

Luciano          Ótimo. E a pessoa que entra lá, entra e se matricula para fazer os cursos, é isso? Você falou que são cinco anos para fazer todos os módulos?

Lúcia              Não é bem em cinco anos, porque não tem como você determinar um grupo, a ideia, a aula fica boa quando todo mundo começa a dar palpite, só que tem um pequeno detalhe, quando todo mundo começa a dar palpite, você não tem prazo para terminar, então à medida que os níveis vão avançando, as pessoas vão ficando mais à vontade, portanto a duração fica mais variável. No primeiro nível ninguém fala nada, cinco meses, em geral demoram cinco, seis meses acaba, ainda está naquela fase de inibição, mas a partir do momento que as pessoas começam a vir, comentar, interagir, aí a duração é muito variada.

Luciano          Você está fazendo eu me coçar inteiro aqui, eu estou cheio de coceira aqui, o meu trabalho eu defino como sendo, o que eu faço aqui no Café Brasil e tudo mais, no LíderCast e tudo mais, eu chamo de fitness intelectual, é mexer no teu cérebro para ele ficar em forma, você pode ser barrigudo, você pode estar caindo aos pedaços mas o cérebro tem que estar tanquinho, o cérebro tem que estar tinindo e aí eu proponho fazer isso, então eu ofereço iscas intelectuais para a pessoa ficar com a cabeça agitando e você está me contando que é muito parecido, que a ideia é essa, eu lanço um estímulo, recebo de volta da plateia, devolvo, vou e vou, de repente vira um grupo se auto alimentando ali de conhecimento, vou lá.

Lúcia              E tem duas vertentes que são importantes, que é o voluntariado social, que a gente faz também porque também é um bom exercício, também mexe com o cérebro você começar a se ver como mais do que vida pessoal, então a gente trabalha com voluntariado social forte também, trabalha com cultura, porque é a percepção da beleza, desenvolvimento da estética, muito associada à ética, então de vez em quando um recital de música, fazemos um trabalho de uma pequena orquestra com crianças carentes, então temos essas duas vertentes de atividades, mas o centro é o curso de filosofia.

Luciano          As pessoas pagam para fazer o curso?

Lúcia              Na verdade, vou te dizer, uma escola como a de Brasília, ela tem uma taxa de contribuição de 100 reais, aí o pessoal diz, mas vocês não são voluntários? Somos, mas a água não é voluntária, a luz não é voluntária, o IPTU não  é voluntário, então nós temos despesas, mas nós temos um sem número de modalidades de bolsas, então dentro dessa massa de alunos que a gente tem, tem desde aquele que paga dez reais àquele que não paga nada, aquele que paga noventa e aqueles que pagam 100, porque se não for assim, não tem  como viabilizar trabalho nenhum, então nós temos uma taxa de contribuição muito flexível.

Luciano          Esses cursos que você tem lá, agora vou explorar um pouquinho o teu tempo que você está lá, eles são dinâmicos, eles mudam conforme o tempo? Aparecem coisas novas para acontecer ali, ou você tem aquela linha para seguir, vou dar cinco módulos, vão durar o tempo que tiver que durar, mas amanhã pinta uma discussão na sociedade nova, sobre um tema, vou jogar um tema qualquer, está se discutindo transexualidade agora, é o assunto número 1 da Rede Globo é transexualidade, vocês adaptam o programa de vocês para essas coisas que acontecem novas  por aí que estão surgindo  agora? Ou vocês traem aquilo para dentro para um programa que está pronto lá? Será que eu me fiz entender nessa pergunta?

Lúcia              Sim, entendi sim. Imagina o seguinte, você tem uma cátedra para dar de ética, o que não cabe aí dentro? Sem precisar mudar o nome da cátedra, como se trata de uma discussão, você não só cumpre aquele programa, porque é necessário explicar o que se pensou sobre ética na história, mas também cabe ali dentro o hoje, a ideia da filosofia como a gente faz é trazer a filosofia para a vida das pessoas, então o hoje não pode ficar de fora, como os temas são sempre muito, digamos assim, metafísicos, são temas filosóficos, não é necessário você mudar o nome da cátedra para discutir qualquer assunto que seja atual.

Luciano          O professor puxa, olha, abriu uma janelinha, vocês estão vendo o que está acontecendo aqui? Põe lá dentro, legal isso, isso é importante.

Lúcia              Com certeza é uma capacidade a amplitude do tema, cabe o que for necessário lá dentro.

Luciano          Me conta como é que foi isso então, você depois que você saiu de lá com aquele Platão socado no estômago, foi para a casa e ficou com a cabeça voando lá, você pensou o seguinte: vou voltar lá e vou fazer esse curso? Como é que você seguiu a aproximação à Nova Acrópole?

Lúcia              Eu tive que continuar de onde eu estava, porque não tinha como sair daquele ponto, tinha que esclarecer aquele ponto, mas ao mesmo tempo eu tive que fazer uma outra turma para pegar o início, porque não tinha feito, então eu ficava em dois lugares ao mesmo tempo até coincidir com o ponto que eu entrei e uma das providências que eu fiz foi exatamente ler Platão, “Os Diálogos de Platão” e isso teve que ir quebrando meus esquemas mentais, por isso que eu acho muito natural quando você diz: olha, hoje a gente tem algumas modalidades dentro da sociedade e encaixa a nova Acrópole ali, porque tem uma determinada forma de pensamento que não está dentro das nossas modalidades atuais, não tem como imaginá-la antes de conhecê-la. Ler o Platão, ele vai quebrando os teus estereótipos todos, ele te alfabetiza de novo e não  é só ele, estou dando um exemplo, que foi o primeiro que me impactou.

Luciano          Uma coisa importante que eu costumo dizer isso, já escrevi isso, um monte de textos para o pessoal que está aí discutindo, eu falo tudo o que você está discutindo aí, volta dois mil anos no tempo, volta três mil anos no tempo, alguém lá atrás já falou a respeito, já elaborou essa história toda e provavelmente esse cara estava na Grécia, esse cara estava em Roma, esse cara estava na China e ele já falou dessa situação, como você não sabia está achando que  é coisa nova, essas discussões já estão atrás e volta lá para estudar um pouco mais. Mas me conta um pouco mais, aí você falou voltei, fiz esses módulos todos. Quando é que deu aquele “é isso”, achei o que eu estava procurando, foi nesse momento, no soco do Platão ou depois que você começou a estudar lá, você falou é isso que eu estou procurando, é aqui que eu vou ficar. Como é que foi?

Lúcia              Normalmente leva um pouquinho mais de tempo, alguns meses, algumas leituras algumas reflexões e aí vem aquele momento que você diz bom, é uma coisa interessante porque quando você tem alguma coisa que você sente que é válido, mesmo o primeiro impulso é passar para a frente, sabe? Gibran, ele tem uma frase que eu acho muito bonito, que nós somos postos de enriquecimento dos dons da vida. Acho que toda pessoa que tem algo de idealismo, como a criança achou um brinquedo na rua, a primeira coisa que ela quer é mostrar para o coleguinha, compartilhar e você começa a se tornar um propagandista, olha isso que Platão diz, olha isso que fulano diz e alguns anos depois isso me fez começar um curso para professora, aí comecei a mastigar tudo aquilo, interessante, é muito interessante, porque quando você começa a se preparar para dar aula, e que você começa a elaborar o elemento intelectual da coisa, você percebe que quando você ouviu pela primeira vez, o choque foi mais emocional do que racional, você não entendeu muita coisa, aí é que você vai perceber que nós somos mais intuitivos do que nós pensamos, porque normalmente numa situação dessa a gente fica mais pelo que as pessoas são do que elas estão dizendo, você vai entender direitinho o que elas disseram, um ano depois, naquele momento é aquela impressão, puxa, essa pessoa está jogando limpo e tem algo, você praticamente só tem isso.

Luciano          E não existe melhor maneira de você aprender do que ensinar para os outros, no processo de você elaborar, o Olavo de Carvalho, você já deve ter ouvido falar, ele tem um negócio que ele diz que é uma delícia, ele fala o seguinte, ele fala enquanto você não conseguir exemplificar para uma pessoa um conceito que você está dizendo para ela, você não sabe do que você está falando, você só pode dizer eu sei o que eu estou falando quando eu consigo exemplificar, deixar claro para a pessoa com forma de exemplos aquilo que eu estou estudando aqui, até então eu não consegui entender o que era e esse é o processo, você s e preparar para ensinar.

Lúcia              Você conhece aquela história do Ghandhi, né?

Luciano          Qual delas?

Lúcia              A gente nunca sabe quais são reais, quais não são, portanto eu não garanto. Mas diz que uma mãe chegou para Ghandhi e disse meu filho está com excesso de peso, está com obesidade, come muito doce, diz para ele comer menos doce? E ele vira para a mãe e diz, traz seu filho daqui uma semana. Uma semana depois ela chegou com o menino lá, ele disse meu filho, não coma tanto doce. Ela ficou chocada, leva uma semana para o senhor dizer só isso? Por que precisou tanto tempo? Porque nessa semana eu não comi doce. Percebe? É muito difícil você chegar diante de uma turma e dizer só é útil o conhecimento que nos torna melhores, esse conhecimento é para tornar você um melhor cidadão, um melhor ser humano e você não está tentando fazer isso? Parece que a consciência te persegue o dia inteiro apontando, olha isso aqui não vai te dar coerência para dar tua aula hoje a noite. Isso aqui, olha, isso não vai te deixar encarar as pessoas, você cria uma vigilância perpétua, diária, porque fica dentro de você que  nem uma coruja pousada no teu ombro, ó tal coisa, você não vai ter como encarar o público.

Luciano          Olha, eu acho que até inconscientemente o teu interlocutor, ele captura essa tua verdade, se você tem ou não tem. Eu costumo dizer o seguinte, por que quando eu chego na frente de uma pintura, da Monalisa, por exemplo, que está lá, paro na frente dela e fico quarenta minutos hipnotizado por aquele olhar que está me olhando lá, a pintura de uma mulher, que não é a mulher mais bonita do mundo, é uma pintura de uma mulher que está lá, mas quando eu bato o olho nela eu não0020consigo sair da frente dela e fico hipnotizado ali, um lado é a carga de eu estar vendo aquele quadro famoso, mas o outro lado é o seguinte, o sujeito que pintou aquilo lá, ele transmitiu naquelas pinceladas dele, uma energia que eu não sei como é que funciona, tão forte, aquilo impregna aquele quadro e quando eu olho vem para mim, me captura também. Tem um ator que está fazendo uma peça e eu choro quando estou ouvindo esse cara? Porque tem cantor? Essas coisas que eu estou passando para você são reais, eu vou lá assistir o show do Cauby Peixoto, no Auditório Ibirapuera, eu estou sentado, de repente eu estou chorando que nem uma criança porque tem um cara cantando na minha frente. O que ele passou para mim ali, como é que ele captura essa emoção? Por que ele me destrói desse jeito? É porque ele tem uma energia que vem dele e que se tivesse um outro cantor fabuloso cantando igual ao Cauby eu não choraria, mas com o Cauby eu choro porque o Cauby tem essa coisa, eu enxergo nele essa verdade. E eu acho que a mesma coisa se aplica, quando eu pego um professor diante de mim, um político, quando eu pego algum interlocutor diante de mim que veio falar e não tem essa corujinha, não estou vendo essa coruja que você comentou ali, não  passa essa verdade, não vem, o cara que lê um livro lá fora, está tentando me passar esse livro aqui e a verdade não veio junto, ele não tem o walk the talk, ele não pratica aquilo que ele está dizendo que faz e nunca experimentou aquilo, então acho que aí tem uma coisa que até inconscientemente, eu que estou sentado na lateia, eu não percebi direito o que está acontecendo aqui, mas esse cara não é isso que ele está falando, eu acho que é essa coisa que você colocou aí, de você viver aquilo que eu estou tentando ensinar, experimentar essa receita que eu estou passando para você, eu fiz a receita antes, experimentei, quebrei a cara, eu achei bom então consigo trazer para você essa verdade. Tem uma metafísica nessa história, não tem não? Essa coisa dessa energia que uma coisa é eu transmitir par você aquilo que eu consigo codificar em palavras, números, isso é fácil, é o formal. Mas tem uma outra carga emocional que vem aí que você não codifica de jeito nenhum, ela passa do jeito que nós estamos aqui, um olhando para o olho do outro e tentando entender essa verdade. É verdade isso que eu estou falando?

Lúcia              Sim, com certeza. Aliás você está bom para fazer curso de filosofia na Nova Acrópole, está inspirado…

Luciano          Eu vou.

Lúcia              … tem uma passagem de Beethoven, você já ouviu falar do testamento de Helinger Stadt?

Luciano          Não.

Lúcia              Beethoven já estava completamente surdo e se recolhe para o sítio do irmão e aí ele começa a escrever uma carta que é muito tocante, dizendo de ver as pessoas, parece que conversando entre si e cantando e não ouvir nada e a dor que aquilo era para ele e que ele só não terminava com a sua vida naquele momento porque ele tinha uma mensagem que Deus tinha mandado ele entregar aos homens e ele não  tinha terminado de dar esse recado. Então você ouve uma música de Beethoven, imagina que ele está dando um recado, isso dá uma necessária humildade, o homem se sente um canal entregando o recado, ele não se sente dono da obra, ele tem um conteúdo, ele tem algo a dizer. Tem uma passagem do Dama Pada budista que diz mais do que mil palavras sem sentido, vale uma palavra que traz consolo a quem a ouve e o nosso sentido de vida é pronunciar essa palavra, você já pronunciou a sua palavra? Já disse o que veio a dizer? Já desempenhou o seu papel? Tem uma palavra que só pode ser pronunciada por você. Marco Aurélio, desculpe tanta citação, mas é que tem coisas sensacionais na história, você não faz ideia, Marco Aurélio ele era imperador romano, da filosofia estoica e ele dizia, cada ser humano que morre sem que eu tenha conhecido, é um universo ímpar e irrepetível com o qual eu deixei de travar contato, ele tinha um recado para dar ao mundo que só ele poderia dar, ele realizou isso ou não, ele foi ou não um canal? Taoísmo também fala sobre isso, imagina você como um cano de bambu, a luz entra, se eles está desobstruído, chega luz lá embaixo, se ele está obstruído, chega sombra, ou seja, a ideia do Taoísmo é seja um cano de bambu desobstruído, não  tome para si a propriedade da luz, mas deixa ela passar, seja simplesmente puro, simplesmente não atrapalhe para que as coisas passem através de você.

Luciano          Você tocou num tema interessante aí que é um negócio que eu tenho me… eu fico muito interessado nesse tema porque tem muito a ver com o trabalho que eu faço até porque eu recebo muito insight desse tipo e vivo isso no dia a dia. Eu tenho outro podcast, é o Café Brasil onde eu falo do Brasil, falo da vida, é um texto lido, é um texto trabalhado, eu tenho música brasileira, eu tenho um monte de coisa colocada ali e são temas que são sempre feitos para dar, olha, eu vou trazer um tema qualquer e ali pode ir de Platão a Aécio Neves, não importa o que eu vou usar ali e eu costumo passar para as pessoas a mensagem dizendo o seguinte: olha eu encontrei tal coisa, achei super interessante, pensei isso e agora você, por favor, termine aí, faça você a conclusão, eu não vou concluir nada, eu só te disse o que passou pela minha cabeça a respeito, agora é com você e tem muita gente ouvindo e o pessoal que me ouve fala o seguinte: é super difícil eu apresentar o teu programa para outras pessoas, porque eu chego lá com o maior tesão, eu ouvi o programa, eu estou com o olho cheio de lágrima, eu chego na pessoa e falo escuta isso aqui e o cara bota no ouvido e fala: não gostei, ai que saco,  pô não vou ouvir isso aqui, que saco. Eu trago isso para o meu dia a dia, estou lá eu na cama, do meu lado está minha esposa, eu estou lá com meu celular ali, ouço um negócio maravilhoso, uma música fabulosa, que coisa genial, escuta isso aqui, bota não gostei, ah não tem nada a ver, que saco, não gostei e aquilo me dá uma frustração gigantesca porque todo aquele tesão que eu estava de  fazer aquilo que aquela criança fez, vou mostrar o brinquedo para alguém hoje, que coisa maravilhosa, a pessoa pega e pô, não gostei, não entendi, não  saquei, não me interessa, eu volto frustrado porque eu não consegui que ela estivesse na mesma sintonia que eu ali. Isso é o bambu entupido? É a pergunta que eu faço a você agora com essa tua carga de conhecimento aí, essa frustração que a gente sente, eu estou num nível, estou numa sintonia, eu estou vibrando aqui a mil e quinhentos por hora,  encontro uma pessoa, falo para ela e ela não vibra na mesma sintonia, ela não saca a mesma coisa que eu saquei, ela olha para aquilo e fala não gostei disso que você me mostrou e não quero saber e aquilo me dá uma carga de frustração.  O que é isso aí? Eu errei ao tentar mostrar para alguém alguma coisa que ela não está preparada para ouvir? Eu falhei na maneira de explicar ou é assim que funciona mesmo? Se não estiver na sintonia as coisas não são assimiladas?

Lúcia              É difícil responder isso de uma maneira muito peremptória, porque as três hipóteses que você colocou podem ser verdadeiras, mas existe uma passagem de  Sócrates que eu acho linda, que um dia chegaram para ele e disseram Sócrates, você é tão bom rapaz, você ensina filosofia de uma maneira tão fantástica, se eu pegar um daqueles trinta tiranos lá de Athenas, amarrar nessa cadeira aí e você falar duas horas para ele, quando eu soltar, ele virou filósofo? Aí Sócrates respondeu assim: olha, a minha mãe Fenarete era parteira, era de verdade, ele era um homem muito simples, minha mãe era parteira e uma ótima parteira, mas tem uma coisa que ela nunca seria capaz, que era dar à luz a uma mulher que não estivesse grávida. Você entende isso? Você não pode dar à luz alguém que não esteja grávido, alguém que não esteja naquela expectativa, naquele umbral querendo ver, porque não existe essa possibilidade, o homem tem uma coisa chata e boa ao mesmo tempo chamada livre arbítrio, ele vai ver, mas na hora que ele quiser ver, ninguém pode forçar isso, ele queria dizer que ele, Sócrates, não poderia forçar isso, muito menos podemos nós, então existe aí um determinado momento que no mito da caverna, que você conhece, o cidadão começa a remexer na cadeira, se ele está confortável e curtindo o espetáculo de sombras, vai dar para você forçar, porque existe toda uma garantia nas leis da  natureza, você pode dar apoio, mas o homem caminha na hora que ele quer, eu, atualmente tenho feito uma experiência que eu acho muito bonita, que é o “tao te king” num grupo de leitura, a gente está lendo em capítulos o taoísmo e tem uma passagem da tradição taoísta que pergunta a um sábio o que um estado poderia fazer para que o homem fosse grande, para que o homem se humanizasse. Ai esse sábio responde assim: olha, se eu tivesse com um pássaro aqui na minha mão, eu poderia evitar que ele voasse sem segurá-lo, simplesmente, cada vez que ele dobrasse as patinhas para voar, eu baixaria a mão e ele não daria impulso, cada vez que ele dobrasse as patinhas, eu abaixava a mão e ele não dava impulso. Agora, se eu quisesse que ele voasse, eu dava uma base firme para ele, mas só isso não é garantia de que ele ia voar, depende dele, mas eu fiz o máximo que pode ser feito, dar uma base firme para alguém. Se ele vai voar ou não, depende da disposição dele, mas ele tem as condições para isso, entende? Então quando eu chego e falo de filosofia para alguém, às vezes a pessoa vira as costas e me larga falando sozinha, isso já aconteceu muitas vezes, você nem sabe, já vivi situações engraçadas, são vinte e oito anos…

Luciano          Eu sei, e eu não falo de filosofia, mas eu sei o que é. Sabe que eu tenho uma passagem interessante que também acho que estava num texto que eu usei num programa, que é aquela história da… isso já aconteceu comigo também várias vezes, a mulher com o marido dentro de um museu, passeando num museu, de repente ela para diante de um quadro qualquer, de um daqueles pintores renascentistas e fica maravilhada naquele quadro e acha aquilo o máximo e o marido do lado, escuta vamos embora, que demora, vamos embora, quero ir para o shopping e não sei o quê, aí o marido vira para ela e fala escuta, não sei o que você ficou olhando esse quadro, não tem nada aí, um monte de rabisco, não tem nada para ver aí. Ela vira para ele e fala você não consegue ver o que você não tem dentro de você, você não consegue enxergar aquilo que não existe dentro de você, que eu acho que é isso que nós estamos falando aqui, quer dizer, se ele não estiver preparado, não estiver treinado para aquilo, ele não vai conseguir sentar na frente de uma orquestra sinfônica e chorar ouvindo aquilo lá e tem gente que chora e senta e se debulha em lágrimas, você olha para o lado e fala o que está acontecendo aqui? Por que você está emocionada desse jeito? Que frescura. Ela entrou na sintonia daquela obra e talvez o Beethoven chegou nela, ela conseguiu entender o que estava acontecendo ali sem se dar conta do que estava se passando ali, isso é fascinante, para quem trabalha com liderança e empreendedorismo isso é fascinante, imagina um líder que entender isso e consegue trabalhar essa história do passarinho que você contou aí.

Lúcia              Agora, é fundamental para a gente, como filósofos, um ponto de partida, todos têm isso desperto ou adormecido, eu não acredito que o ser humano seja destituído disso em nenhuma condição, acredito que nesse momento não é o momento de despertar, ou ele não quer despertar, não é que um nasça com um potencial e outro sem, claro que a  esposa deve ter ficado irritada e foi justo o que ela disse, mas não é que ele não tenha dentro de si, é que nesse momento ele está com esse olho interno fechado…

Luciano          Ou é um ogro mesmo e não vai abrir nunca aquilo porque o negócio dele é ver futebol na televisão e dane-se. O que de certa forma explica um outra coisa que é muito cara para mim, esse trabalho todo meu começou em 2003, 2004 quando eu volto a desenhar e escrever e resolvo começar esse caminho aqui todo e o insight para mim vem a partir de um domingo, se não me engano foi 9 de fevereiro de  2003, eu assisto na TV, no SBT, num domingo, 8 horas da noite, num programa do Gugu Liberato uma apresentação do Mc Serginho e Lacraia cantando “Eguinha Pocotó” duas vezes seguidas  e eu olho para aquilo e falo, a segunda maior rede de televisão no país, no domingo, oito horas da noite, que é o horário nobre da televisão só tem isso para mostrar, é isso que vai ficar?  É isso que dá audiência? É isso que o povo quer ver? Pô, o Brasil ficou burro, o Brasil acabou, esse país emburreceu, alguém tem que fazer alguma coisa, eu vou comprar essa briga, eu vou ajudar a desemburrecer o Brasil e foi lá que nasce tudo, escrevo um livro chamado “Brasileiros Pocotó: reflexões sobre a mediocridade que assola o país”, e ali eu começo a bater muito nessa questão das  pessoas que tendo a chance de colocar para as outras um conhecimento mais, digamos assim, nutritivo, ela se retém a colocar o mais básico do básico, mostrar gente em situação constrangedora, mostrar baixaria, mostrar bunda girando, etc e tal para dar um volume de audiência grande e a gente chega num momento como esse aí, domingo eu ligo a televisão, eu tenho um programa que nem o do Faustão, que está preocupado em atender gente de 15 a 90 anos e tem que fazer o mínimo divisor comum ali, não posso sofisticar demais que cai a audiência, então eu tenho que qual é o quadro de maior audiência? É pegadinhas ou é mostrar cenas do cara caindo da moto, o outro batendo em não sei quem, a celebridade entrando em fria, etc e tal, que é o básico do básico, aquilo que apela para os instintos mais básicos do ser humano, no momento em que eu sofistico aquilo, cai a audiência e aí o patrocinador não paga. Portanto não sofistique porque isso não vai dar resultado e você cria essa coisa que a gente viu hoje, quer dizer, eu tenho um canal de comunicação, talvez seja a coisa mais preciosa da humanidade, uma televisão que consegue pegar o país inteirinho, eu consigo do norte do Pará passar a mesma mensagem até o sul do Rio Grande do Sul, com o mesmo idioma, a mesma coisa, ao mesmo tempo para todo mundo e uso aquilo para ter o tipo de audiência mais rápida, mais fácil de ter. Não transmito naquilo o conhecimento que poderia ajudar a mudar a história da sociedade. O que é isso aí? É quando o homem se deixa levar pela questão econômica, quer dizer, vale aquilo que me der resultado em termos de grana e dinheiro para poder ter mais dinheiro e fazer mais e ter mais poder? Não estou preocupado em fazer a cabeça de ninguém, não estou preocupado em ensinar nada para ninguém, quer aprender vá para a Nova Acrópole, não venha ligar a televisão, não venha ouvir essas coisas que aqui eu não vou ter o que a Nova Acrópole tem porque se eu tiver eu não vou ter dinheiro, então é o dinheiro que manda, é o comércio que manda. Como é que você vê essa coisa? Te angustia de alguma forma?

Lúcia              Com certeza, aliás isso é… a angústia, uma das angústias fundamentais do ser humano, tem um escritor moderno chamado Steven Pressfield, eu gosto muito dele, não sei se você conhece ele…

Luciano          Como é o nome dele?

Lúcia              … Steven Pressfield, um dia ainda vou te presentar esse livro, fantástico, se chama “Guerra da Arte”, ele fala de uma coisa chamada packing order, a ordem de ciscar mesmo, ele diz que existem duas formas do homem organizar a sua mente, ou é essa ordem horizontal, packin order, ou é uma ordem territorial, a ordem horizontal é aquela que para você se satisfazer você olha para fora, você precisa estar numa certa posição numa hierarquia, você olha para o que o outro está fazendo para ser melhor, olha para baixo para ver quem é pior do que você, olha para cima, está o tempo todo preocupado em projetar esse nomezinho teu dentro de uma hierarquia porque isso te traz satisfação e isso te traz reconhecimento. A ordem territorial é uma ordem que você olha para dentro, ele fala, por exemplo, uma pessoa que…. eu falei para você quando eu cheguei aqui: esse aqui é teu território? Se você tiver angustiado, triste, tenho certeza que você vem para cá, porque isso aqui te dá satisfação, isso aqui te dá reconhecimento….

Luciano          Meu templo, é meu templo.

Lúcia              … exatamente, aí você reconhece a si próprio, a tua identidade está aí, tem certas pessoas que se satisfazem reconhecendo a si próprios, não tem solidão, porque estão sempre num diálogo interno, taoísmo tem uma passagem que é linda, desculpem, mas hoje eu estou falando demais de taoísmo, estou nessa fase, que ele diz que um sábio, que ele tem um olhar profundo, quando você olha para os olhos dele, você vê lá dentro como se estivesse acontecendo um diálogo secreto, um diálogo entre um homem e um deus, você coloca aquele homem numa situação onde ele esteja no extremo deserto, onde encontra com muito poucas pessoas, ele é capaz de satisfazer a si próprio, ele tem uma ordem de ideias, de pensamentos, de emoções, de forma de atuar com o mundo que tudo lhe ensina, tudo faz com que ele possa fazer algo construtivo, tudo faz com que ele agregue e ele é feliz com isso, ele é feliz com o ser. A nossa é uma sociedade que tem uma ordem hierárquica e não é propriamente o dinheiro, se não fosse o dinheiro seria outra coisa, mas seja o que for, eu tenho que ter mais do que você…

Luciano          Poder.

Lúcia              … se a gente…

Luciano          É poder.

Lúcia              … uma certa hierarquia, uma certa posição dentro de uma hierarquia, porque não é propriamente poder, você há de convir que poder é poder ser,  é poder fazer, essas pessoas que ocupam um lugar na hierarquia são as que menos podem. Solta elas na floresta amazônica e vê como elas se viram, não sabem lidar com as adversidades, solta numa situação emocional difícil e vê como se viram, não sabem lidar com as perdas, elas não têm poder sobre as circunstâncias, elas simplesmente cumpriram um código social, às vezes muito medíocre e ocuparam uma certa ordem numa hierarquia.

Luciano          E por isso elas têm que lutar para manter esse contexto dessa forma, porque se o contexto mudar elas perdem a posição de poder que elas têm ali.

Lúcia              Pois é, mas chega a ser uma coisa, isso que eu estou tentando te mostrar, que para a filosofia chega a ser algo um pouco patético, chega a ser digno de pena. Imagina a seguinte situação: tem uma mesa de quatro pernas e em cima disso existe uma estátua e essa estátua tem um fio de nylon amarrado num ganchinho daquele de samambaia, lá no teto, aí eu venho e corto uma perna dessa mesa, a mesa treme, a estátua fica. Eu corto duas, a mesa tomba, a estátua fica, porque ela não está apoiada na mesa, ela está só roçando, ela está presa lá em cima. Agora, nós somos mais ou menos assim, você tem umas quatro pernas que te apoiam no mundo, é o que pensam de você, é a tua vida financeira, é o círculo social e o papel que você desempenha dentro dele, é um reconhecimento profissional, às vezes quando corta uma perna da mesa, a pessoa já desmorona, perdeu o emprego já desmorona. Agora, houve na história homens de quem se cortou as quatro pernas, você já ouviu falar de Giordano Bruno?

Luciano          Sim.

Lúcia              Um filósofo enfiado dentro de uma cela que ele nem cabia em pé lá dentro e saía de lá cada vez mais lucido, a vida corta as quatro pernas, elas ficam de pé, porque elas estão apoiadas acima, elas têm uma identidade profunda, têm valores, têm virtudes, têm sabedoria, isso dá a elas um sentido de estarem acompanhadas de si mesmas, não tem solidão e porque elas não dependem das circunstâncias, elas viram o jogo e as circunstâncias começam a depender deles, eles começam a escrever a história, diz que só tem duas possibilidades, o homem massa é produto da história, o homem individual escreve a história, o homem massa normalmente nem a lê, então são esses homens que começam a ter  alguma coisa de vida interior, de identidade profunda, de valores, de sentido de vida, começam a ter a possibilidade de abrir mão de coisas fora, essas pessoas são tão dependentes do lado de fora que não é uma questão que elas possam ser melhores, enlouquecem se você tira isso, foram criadas indicando apenas essa direção e não chegaram ao momento que viraram a mesa. Aí você diz bom, tem certas pessoas que são honestas, tem muitas pessoas honestas. Verdade, mas não necessariamente mais fortes às vezes frágeis também, apoiados em elementos circunstanciais. Tem um caráter que não os levaria talvez a um nível de marginalidade desse? Acredito nisso, mas os levaria a se desestruturarem muito, falta um eixo.

Luciano          Você consegue entender a situação que o Brasil vive hoje desse ponto de vista que você está me explicando aqui? O Brasil está num caos político que eu nunca vi, na minha vida inteira eu nunca vi uma confusão política como essa que está colocada aí. Eu defino como briga de balada, uma briga dentro da balada, todo mundo bate,  todo mundo apanha, ninguém sabe ais quem tem razão, virou uma bagunça sem tamanho e está muito claro para mim que parece que não tem um porto, perderam o norte, ninguém mais sabe para que lado ir, estão se arranjando e sei lá o que é que vai acontecer. Isso de certa maneira, acho que tem a ver com isso que você está dizendo aí, que a gente consiga entender que o Brasil está na situação que chegou aqui… se você olhar para o cenário econômico ele está andando, se você olhar para as pessoas, elas estão trabalhando, estão fazendo acontecer, estão construindo as suas vidas, mas lá em cima, os maestros que deviam estar conduzindo isso aqui, virou uma bagunça sem tamanho, é porque nós perdemos essas pessoas que podiam ter alguma capacidade de estar além dessa coisa mundana do troca-troca, da política mais rasa, você consegue entender assim também?

Lúcia              Olha, eu te falei que eu fiz relações internacionais achando que eu ia para algum lugar no mundo onde os homens eram perfeitos e que o dia que eu saí batendo perna pelo mundo, sorte que eu já tinha achado a filosofia, porque se não eu teria ficado arrasada, porque o que eu percebo, a gente está vivendo um caos mesmo. Parece que todas as máscaras caíram no Brasil, mas quando você anda pelo mundo afora dentro da nossa mentalidade atual de materialismo, dá a impressão de que lá só tem uma máscara, mas bem confeccionada, um adestramento mais bem feito, mas adestramento não é identidade humana, adestramento é uma película de muito pouca cobertura, quando acontece qualquer tremor circunstancial, essa máscara cai também e o que está por trás é um bicho também, então você percebe às vezes que a pessoa é perfeitamente educada ao subir numa escada rolante, em se colocar á direita para que os outros transitem, mas se você cai ou deixa alguma coisa cair, ela não tem o real interesse na tua dor, um real interesse, uma preocupação se você está se sentindo bem, não é um aspecto humano, é um know-how, um adestramento social que cria um verniz de cultura muito bonito, mas as pessoas estão pouco humanas em tudo quando é lugar. Bom, nós não tivemos um verniz tão bem feito, mas nesse sentido estamos na pré-história da manufatura de máscaras humanas, então essas máscaras caem mais fácil e agora caíram de uma maneira muito intensa, mas a verdade é que em lugar nenhum do mundo o homem é aquele homem que se fosse Robinson Crusoé e você colocasse numa ilha, continuaria sendo bom, porque ele é bom por si, é uma ética de convicção e não de coerção. Platão, ele conta uma história que você deve conhecer, que é o mito de Her, ele encontra um anel, perdão, não é o mito de Her, mito de Gigis, desculpe. Gigis, ele encontra um anel, ele era um pastor, estava pastoreando suas ovelhas, quando ele coloca esse  anel ele fica invisível e aí ele, que era um pastor muito honesto, começa a roubar, importunar as mulheres, aprontar tudo. Tira o anel volta a ser o Gigis, honesto do jeito que ele era e aí Platão coloca uma conclusão sobre isso que eu acho impressionante, porque ele diz imagine que o Gigis tivesse colocado esse anel e continuasse honesto do mesmo jeito e as pessoas soubessem disso, elas diriam ó que coisa maravilhosa, que homem bom, mas intimamente pensariam que idiota, como é que perde uma oportunidade dessa? Se fosse eu que achasse esse anel ia me dar bem, aí ele conclui, as pessoas não amam a justiça, elas têm um pacto social, eu vou ser justa com você, porque vai que você é mais forte que eu e os dois somos injustos e você sai ganhando, então eu não arrisco, nós temos um pacto social, os dois somos justos, mas dentro de mim o bom mesmo é que eu pudesse ser injusta sem nenhuma consequência, porque eu ia me dar bem. Ele diz enquanto as pessoas não amarem a justiça e enquanto as leis forem coerção, não existirá ética no mundo em lugar nenhum e honestamente, onde que as pessoas estão amando a justiça por ela mesmo, você é aquilo que você faz quando a última porta se fecha atrás de você. Eu sou justo porque eu amo a justiça e me realizo, me encontro e parece que aquilo de mais belo existe dentro de mim vem à tona, você fala da arte, de um concerto, um ato de honra também pode provocar a mesma coisa, a arte, a política, a religião, a ciência, todas elas são capazes de trazer à tona algo profundo do homem. Platão diz que o homem se reconhece nessas coisas, ele faz uma relação com o você disse, entre aquilo que está fora e aquilo que está dentro, mas ele tem que ter visualizado isso que está dentro. Então acredito, como eu te falei, que existe adormecido em todo mundo, tanto que ás vezes uma pessoa assiste uma aula  comigo hoje e me volta daqui a dez anos, olha aquilo não fez nenhum sentido naquele momento, mas agora faz, mas isso tem que ser um caso de amor com a natureza humana e não uma coerção externa, não faça porque é feio. Lembra aquela música do Roberto Carlos? “tudo o que eu gosto é ilegal, imoral ou engorda”, mas eu gosto, existe essa correção. Eu costumo comentar que uma vez eu entrei num toalete público e havia uma plaquinha dizendo “proibido roubar o papel”. Você precisa dizer para o ser humano que é proibido roubar o papel? Você percebe que aquilo que Platão falava, quando começa a haver muitos médicos é porque tem muitos doentes, muitas leis é porque tem muitos infratores, o homem perdeu o senso e o amor pela condição humana, eu amo a justiça, não interessa as facilidades que existam, vou ser justo por mim, por mim, porque se não for por você não vai ser por nenhuma outra coisa, isso é ineficaz.

Luciano          As leis estão no papel, a lei você interpreta, nós estamos tendo aulas de interpretação de leis, que é uma coisa maluca, mas a tua consciência não, não dá para você enganar a tua consciência e para muitas pessoas isso não quer dizer nada, quer dizer, dane-se consciência, não tem consciência, eu vou fazer o errado porque eu me dou bem. Eu tenho uma palestra que chama “Se tudo bem se me convém”, que fala você está se aliando a um bandido, você está fazendo um negócio aí que vai sacanear um monte de gente, isso é ruim, isso é feio e a resposta é tudo bem, me convém. Você fez um gol de mão, a bola veio e você meteu a mão na bola e fez o gol, não pode, isso está errado. Tudo bem, o juiz não viu, me convém, se me convém está valendo e cria uma sociedade onde se todo mundo quer tirar vantagem, todo mundo é trouxa. Tem uma tese interessante que diz que se todo mundo na sociedade fosse canalha, ela estava em equilíbrio, seria uma sociedade equilibrada, porque se eu já sei que você é canalha, você sabe que eu sou também, a gente se equilibra, o problema é que a maioria, tem muita gente que não é canalha e aí os canalhas acabam desequilibrando essa coisa toda. Eu botei um texto, eu fiz um podcast recente aqui onde eu conto uma história interessante. Teve a formatura da minha filha, eu fui lá no evento da formatura, aquela coisa bonita, os grupos lá, era uma escola de propaganda e promoção, etc e tal, então tinham quatro ou cinco grupos diferentes de estudantes lá no palco para fazer o momento da formatura e tinha a  leitura do juramento. Então um estudante ia lá, pegava o juramento e lia e todos eles repetiam, chegou num dos grupos lá, o garoto subiu e debochadamente pegou, em vez de ler frase por frase, ele leu o juramento inteirinho, terminou, ficou olhando para o povo esperando a turma repetir o juramento, impossível e aí a molecada…  deu aquele branco e de repente a molecada começou a rir e virou uma gritaria, uma palhaçada e aí o coordenador veio para o menino e falou escuta, lê frase por frase para todo mundo poder repetir as frases e aí o moleque mais debochadamente vai lá e começa, ele lê uma frase, espera e a turma toda repete a frase, virou uma bagunça aquilo. Quando terminou o vice reitor foi lá, pegou o microfone e falou escuta, isso aqui é o momento  em que vocês estão fazendo o juramento da profissão que vocês escolheram, do trabalho que vocês escolheram,  da vocação de vocês, é o momento em que vocês demonstram que vocês estão assumindo um compromisso com o futuro de vocês, não é um momento para bagunça, levem a sério isso aqui, o que vocês estão fazendo agora é uma demonstração de que vocês estão abraçando uma vocação, alguma coisa que vai durar para o resto da vida, levem isso aqui a sério, deu uma dura, deu um branco na plateia, algumas pessoas começaram a vaiar, mas a coisa passou, a coisa andou. Muito bem, terminou o evento aquela coisa toda, vamos no final para uma pizzaria, chega na pizzaria, eu sou o mais velho na mesa e aí surge o assunto na mesa e a molecada toda vocês viram? O cara não tinha nada que ter ido lá dar uma dura na turma, a gente estava festejando aquilo, para que o cara foi lá falar aquilo? Que cara escroto dar uma dura na gente naquela hora. Eu viro para a turma e falo escuta, ele está certo, aquele momento era o momento,… eu fui quase jogado fora da pizzaria, quase me botaram para fora, felizmente era a minha família, então não fui acusado de fascista, nazista, aquela coisa toda, porque eu estava defendendo que aquele era o momento em que as pessoas deveriam estar entendendo que isso aqui é um rito de passagem onde a minha demonstração de respeito por aquilo indica que eu estou levando a sério, estou com comprometimento, mas a molecada, na cabeça deles, aquilo era uma babaquice de gente velha que tem mais é que sacanear. Esse é um momento. Nesse texto eu coloco um outro momento  onde surge, numa dessas manifestações na rua, o povo todo na rua e aparece uma cena do povo queimando a bandeira brasileira, botando fogo na bandeira e aí eu vou e ponho um post no Facebook dizendo o cúmulo do absurdo é um sujeito botar fogo na bandeira brasileira, o que demonstra que ele não entendeu nada, ele está pegando um símbolo da nação e confundindo com o governo, o ódio que ele tem por dois ou três governantes, ele está botando fogo na bandeira, ele é um idiota que não entendeu nada do que está fazendo. Quase me demoliram no Facebook, tem mais é que botar fogo mesmo, isso é pedaço de pano pintado, esta merda tem que ser… mas foi uma confusão sem tamanho, no final das contas eu coloco aquilo, quando a gente perde a capacidade de perceber os símbolos que a gente cria para colocar o nosso compromisso com a vida que a gente ia seguir, quando eu consigo entender que aquilo não é um pano pintado, aquilo é um rito, aquilo é um mito que a gente cria que faz a nossa própria identidade. Acabou, não tem, então se tudo é sarro, se nada vale, eu não tenho mais esse modelo para seguir, eu não tenho mais o que o meu avô me ensinou não vale mais nada, tudo bobagem de gente velha, eu quero mais é tocar adiante aqui e não tenho mais norte, eu não tenho mais pontos de apoio, não tenho mais como seguir, tomar as decisões que seja boas para a comunidade na qual eu vivo, eu vou tomar a decisão que é boa para mim e dane-se os outros. O que de certa maneira explica o que nós estamos vendo por aí, quer dizer, meto a mão no dinheiro mesmo, não me enche o saco, não vem me dizer que as crianças estão sem comida porque o problema é deles e eu me virei e acabei resolvendo. Quer dizer, eu me preocupo com essa molecada toda que fez aquela bagunça e acha que está certo, me preocupo com essa molecada que pôs fogo na bandeira e acha que está certo, porque esses caras vão crescer e vão ser o quê lá na frente? Estou viajando?

Lúcia              Você está com toda razão. Você já leu Jung? Você adoraria. Essa ideia do símbolo, são realmente as estruturas emocionais sobre os quais o homem constrói a sua personalidade. Monsieur Ariad, que era um antropólogo do século passado, ele dizia que o sagrado é a função de dar sentido, todas as coisas quando fazem aquilo que lhes corresponde, são sagradas, são redimidas da banalidade para o sagrado. Você imagina o sol nascendo e se pondo todos os dias, faz o que corresponde ao sol, isso é sagrado. Uma flor desabrochando na primavera faz o que corresponde à flor, isso é sagrado. Um homem, quando busca a bondade, a justiça, a sabedoria, é sagrado e é tão bonito de se ver quanto o nascer ou o por do sol ou o desabrochar de uma flor na primavera, a grande arte do homem da Grécia era redimir a vida da banalidade para o sagrado e o sagrado é aquele momento onde você encarna um mito, ele se torna um símbolo e quando chega na tua vida vira um rito. Imagina, por exemplo, o mito do herói, o mito do herói diz que o homem é capaz de se sobrepor a todas as adversidades sem deixar de ser humano, isso é a essência do mito do herói, mas é claro que diante da adversidade isso é muito abstrato, então você encarna isso num herói, por exemplo sei lá, o Rei Arthur, do mito arturiano, é um símbolo que encarna esse mito numa encruzilhada de espaço/tempo, aí diante de uma adversidade eu penso o que o Rei Arthur faria, ele seria honrado e eu o imito, nesse momento a minha vida foi um rito, então eu trouxe o mito ao mundo através de um símbolo. Por isso Platão dizia que todo mundo devia ter um herói de estimação, porque num determinado momento ele aponta a direção com clareza e se eu não fui capaz, nesse momento, de fazer o que Arthur faria, pelo menos eu vi a direção e todo dia a minha consciência vai cobrar isso no espelho e um dia eu vou chegar lá. Então os símbolos são representações dos arquétipos,                                          dos mitos para situações concretas, quando o homem não tem símbolos, é aquilo que a gente chama de sem norte, ou sem oriente, desnorteado, desorientado, isso é caos, psicologicamente não há como construir, nós sabemos que um dia alcançaremos um certo patamar e talvez o símbolo seja esperado, mas enquanto você não chegou no teu destino, não joga o mapa fora, então você está perdido, está desnorteado, está desorientado, a vida fica sem enquadramentos que te verticalizem, que te humanizem, isso é o básico em várias tradições filosóficas, realmente vivemos isso, desrespeito a tradições religiosas do outro, protestos muito vulgares dentro de templos e pelo mundo a fora.

Luciano          Você está me trazendo uma lembrança do “Imperativo Categórico”, do Kant, não é?

Lúcia              Isso mesmo.

Luciano          Não faça para as pessoas aquilo que você não gostaria que elas fizessem com você, basicamente é isso, quer dizer, se eu sei que alguma coisa faz bem para todo mundo, é legal eu fazer isso. Se eu sei que faz mal para as pessoas, eu não vou querer repetir isso aí. Isso me parece que se perde em algum momento, se eu não consigo entender dessa forma e vou no tudo bem se me convém, eu já sei que eu estou num mundo de canalhas, eu tenho que ser mais um e a hora que eu  piscar, um canalha vai me sacanear, então não dá para viver numa sociedade desconfiada como essa aí que é o que parece que o Brasil virou, sociedade da desconfiança, eu não confio mais em ninguém porque alguém vai me dar um balão e esse desenho me aprece que está sendo o desenho do brasileiro, você olha, hoje em dia eu abro o jornal de manhã, eu estou assustado, todo mundo me sacaneia, até o estado me sacaneia, até o estado faz questão de criar mecanismos onde minha vida fica difícil a cada dia que passa é mais complicado, eu sou um pobre de um empreendedor tentando ganhar minha vida honestamente e o estado bota na minha frente todo tipo de encrenca possível para poder viver a ponto de me empurrar para a ilegalidade, ele me obriga a ser ilegal, nessa cadeira que você está sentada aí, eu já recebi setenta pessoas diferentes até agora, vários empreendedores que têm negócios que estão bem hoje e a maioria absoluta começa dando o nó em alguma coisa. Ele começou com uma empresa onde as pessoas não estavam registradas, contratava e não tinha registro, era tudo na ilegalidade, e o cara explicava, se eu fosse seguir a regra, a minha empresa não decolava, nem conseguia trabalhar,  era impossível, eu tive que encontrar caminhos para quebrar essa regra, comecei de forma ilegal e a hora que eu consegui ganhar tamanho e peso eu consegui legalizar tudo e hoje minha empresa está redondinha, mas eu vendi sem nota, eu trabalhei com gente que eu não podia contratar, eu deixei de pagar imposto e conscientemente, a gente fez isso conscientemente se não a gente não conseguis sobreviver. Conseguir sobreviver de forma onde você tenha como manter o teu caráter, como manter a tua integridade num ambiente como esse aí é complicado, eu falei olha vou seguir tudo como regra, as coisas, serei um cara íntegro e quebrei, o mês que vem eu estou quebrado, não conseguir seguir. O outro do meu lado que meio que deu um balão está lá na frente, está seguindo e está fazendo a coisa acontecer. Como é difícil manter essa coisa da visão ética moral do Kant, etc e tal  num ambiente, pelo que você está me dizendo aqui não é brasileiro, num ambiente de convivência do ser humano.

Lúcia              É, é muito complicado isso realmente, mas tem uma norma aí básica, existe uma ética atemporal, ser justo, ser nobre, ser íntegro, ser fraterno é uma coisa que não caduca nunca, existe uma aplicação disso numa encruzilhada de tempo e espaço, que são as normas temporais, a ideia é que essas normas fossem um reflexo perfeito das atemporais, mas nos momentos de decadência da humanidade elas são muito diferentes, muitas vezes. Então é lógico que o ideal seria que a gente pudesse se enquadrar nas duas, é o que se recomenda, mas é interessante a gente lembrar daquilo que Platão fala na “República”, ele passa o livro inteiro, basicamente, para te explicar, montando uma cidade ideal, na imaginação, a cidade perfeita onde tudo funciona perfeitamente, onde todos os seres humanos têm oportunidade, os mais justos governam, os menos justos estão sendo educados para se tornarem melhores, enfim, chega um determinado momento que ele diz para o seu discípulo: e aí Glauco? Interessante um bom modelo. E ele responde, porque era Sócrates, sempre Sócrates o antagonista dos diálogos platônicos. Sócrates diz: você acha que isso é viável? Glauco diz, viável é, só que não existe em lugar nenhum. Aí Sócrates diz: aquilo que é verdadeiro no plano das ideias, um dia será verdadeiro aqui, mas desde já você se sinta cidadão dessa cidade e obedeça as suas leis rigorosamente, chegou um determinado momento, bom, Sócrates foi morto, condenado à morte, bebeu cicuta. Mas não acredito que Sócrates tenha rompido com as leis da república ideal, ele rompeu com as leis de Athenas, entende? Não acredito que ele achasse que ele não era íntegro, porque de fato era. Há determinados momentos em que grandes heróis passaram por situações dificílimas e hoje a história os redimiu e sabe que todo mundo estava errado, o certo era ele. Não tem jeito, ao longo da história enquanto o ser humano não se tornar sábio, uma pessoa que é íntegra, de vez em quando tem um certo atrito, porque se ela não tivesse atrito, o mundo inteiro teria que ser íntegro e aí a virtude não seria nem dela, seria do mundo, a grande questão é você ser de outro num mundo que é de ferro. Imagina você uma aliança como essa: Platão falava dos homens de ouro, é uma aliança que já está no meu dedo há muitas décadas e ela não mudou de cor, porque é ouro. Platão dizia, o homem deve ser assim, que nenhuma influência do meio altere as suas características, porque o homem influencia tanto, a pele humana influencia tanto que até os metais mudam de cor, mas o ouro é fiel a si mesmo, independente do meio. Se eu tiver que esperar que tudo esteja bem para que eu seja bom, é mérito do meio, não meu.

Luciano          Você falou uma coisa aí que eu vou ter que voltar ao Olavo de novo, porque o Olavo é o cara que está batendo, ele fala o seguinte, a situação dos brasileiros é tão maluca que eles colocaram o seguinte: vamos esperar ficar bom, para aí a gente melhorar as coisas, entendeu? Vamos esperar consertar e aí a gente melhora as coisas. Ele fala não é assim, você tem que começar a melhorar antes de querer consertar as coisas. Deixa eu te fazer uma provocação: você chegou na Nova Acrópole e vai encontrar um primeiro grupo, um grupo que vai começar a primeira, eu não sei se você chama módulo, aula, não sei qual o nome que você dá lá, mas…

Lúcia              Primeiro nível.

Luciano          … chegou lá, tem um grupo e a hora que você entra na sala, você tem uma surpresa porque você vê sentada na sua frente Renan Calheiros, Michel Temer, Lula, Aécio Neves, toda a curriola está sentada lá esperando a sua primeira aula. Qual é a matéria que você começa. É matéria? Não sei se é matéria, mas qual é a matéria que você, quando você entrou e você viu aquela plateia, você falou opa, espera um pouquinho que eu vou ter que calibrar minha aula aqui, como é que você ia começar?

Lúcia              Na verdade eu não alteraria absolutamente nada, num determinado momento você percebe quando a pessoa tem dentro de si alguma coisa ou não, isso não tem, se você está em busca de algo que eu não tenho para oferecer, vai se desinteressar e vai embora. Agora vou te devolver a provocação, uma vez eu estava dentro de uma livraria e não sei porque, cargas d’água peguei um livro que era o “Diário de Marilyn Monroe”, ficou quase que um arquétipo de uma coisa assim superficial, coquete, quando eu abro o diário da Marilyn Monroe, lá pelas tantas ela dizia assim: as pessoas dizem que me amam, mas elas não me  amam porque elas nem sabem quem eu sou, aliás nem eu sei quem eu sou, eu vou morrer sem saber direito quem eu fui. Eu fiquei chocada, eu falei, se eu passasse por uma mulher igual à Marilyn Monroe na rua e eu estivesse entregando um folheto de filosofia, será que eu não teria preconceito? Não acharia que ela não está interessada nisso? E olha que está?

Luciano          Porque no fundo sim, no interior dela, tanto que acabou como acabou, ela acabou do jeito que acabou.

Lúcia              Tem algum nível de angústia existencial, eu tenho que tomar como princípio que dentro de qualquer ser humano tem algum nível de angústia existencial que pode despertar a qualquer momento, porque se não eu não acredito na humanidade, quem não acredita na humanidade não é filósofo. Agora se vai despertar ou não vai despertar, depende muito do solo, mas que eu vou jogar a semente, eu vou, para qualquer pessoa que me apareça eu vou jogar a semente, se isso vai repercutir agora ou daqui a dez anos, ou nunca, sinto e pode ser responsabilidade dele, pode ser eu que não joguei direito, não transfiro para os outros a responsabilidade, sempre é dual, mas semear, é o que me foi dado eu vou jogar a semente. Sabe aquela história de vou lambuzar o selo, se colar colou? Para qualquer um que me apareça lá.

Luciano          Quando você entra num hotel e vai se hospedar no hotel e bota um papelzinho ali e tá escrito assim profissão, o que você escreve ali?

Lúcia              Professora, é o que eu sou.

Luciano          Mas professora, você está…. o que é que te satisfaz como professora? Você chega em casa a noite vai dormir e na hora que você bota a cabeça no travesseiro fala pô, hoje foi, hoje eu estou feliz, o que aconteceu que te satisfez.

Lúcia              Tem muitos detalhes, mas o geral eu costumo usar uma expressão que eu gosto muito, que é o “sono dos justos”, eu dei a minha batalha, é uma delícia, você se abraça com o travesseiro e dorme que é uma maravilha, vou dormir o sono do justo, se eu morresse hoje, eu tive um dia que eu gostaria, que poderia ser o último dia da minha vida, porque eu dei a minha batalha, da hora que acordei até a hora que eu dormi, eu dei o meu recado, não sei quantos ouviram, talvez nenhum, mas eu fiz a minha parte, então durmo o sono do justo. Acho que de uma certa maneira, a maior parte das insônias devem ser insatisfação consigo mesmo e com o dia que você teve.

Luciano          E muita gente transforma isso num pensamento de injustiça, o mundo é injusto comigo, estou aqui, não sou compreendido, não sou entendido, eu sou tão bom, eu sou tão legal, eu sou tão bom e o mundo não me entende, isso é uma grande injustiça, eu estou aqui perdendo da injustiça.

Lúcia              Isso é uma coisa que se chama vitimização, os estoicos, eles tinham uma coisa chamada teoria da responsabilidade, Marco Aurélio falava muito sobre isso.Quando acorda de manhã pensas que encontrarás um mentiroso, um falsário, um manipulador, se entrar em conflito com eles, a culpa não é deles, mas será tua que não estavas preparado, porque o mundo é dual por definição, você vai sair na rua pode ter sol, pode ter chuva, pode ser o falsário, pode ser o honesto, pode ser o bom, pode ser o mau, ele é dual por definição, se você não está preparado para interagir com a dualidade, despreparo teu, porque a dualidade não vai deixar de existir, porque é das condições básicas do universo, é claro, escuro; macio, resistente; é alto, baixo, você vai esperar que o mundo seja uno para que não te fira? Vai demorar um pouquinho.

Luciano          E esse preparo não é criar uma couraça que leva para aquela sociedade da desconfiança. Eu boto uma couraça onde eu desconfio de qualquer pessoa que chegar diante de mim e não vou abrir essa couraça de jeito nenhum, cria essa situação que nós estamos vivendo aí.

Lúcia              É, responder inadequadamente porque você colocou uma couraça que não distingue o que é macio, o que é resistente, o que é chuva, o que é sol. Está fazendo um sol tremendo e você com a couraça, isso é querer te poupar do discernimento, olha isso é um negócio sério. Quantas pessoas chegam para mim achando que vai ler, sei lá, um Tao Te King, que eu estou lendo agora, as pessoas chegam e dizem: professora, esse livro é legal, mas não tem um livro menorzinho que explique o que tem aí dentro? Não, o jantar não é grátis, não existe fast food intelectual, vai ter que ler, vai ter que analisar cada frase e chegar a uma conclusão sobre cada uma, ninguém vai te botar um selo de qualidade que te diga é bom, você é que vai ter que distinguir, ou seja, a facilidade, querer as coisas mastigadas, fast food.

Luciano          Com aquela história do tenho pressa. Tem uma coisa interessante que acontece com podcast e provavelmente está acontecendo agora enquanto nós estamos, tem alguém nos ouvindo aqui e está fazendo isso, o cara pega um podcast que tem uma hora, uma hora e pouco, e acelera a velocidade, então ele escuta nós dois conversando com uma vozinha para ele poder ouvir mais podcasts em menos tempo isso me lembra uma coisa que o Rubem Alves, que você deve conhecer, o Rubem dizia um negócio que é uma delícia, ele conta uma história que ele estava uma vez andando na rua e dois caras chegaram para ele,  se aproximaram,  seu Rubens, a gente veio oferecer para o senhor aqui um método de leitura dinâmica, o senhor vai conseguir ler um livro de 300 páginas em 15 minutos e o Rubem falou mas como assim? Ele fala eu não consigo entender como é que alguém pode acelerar uma obra de Beethoven, botar acelerado, ouvir aquilo mais rápido,  ou então pegar um livro de 300 páginas… ele fala a sabedoria exige o prazer, exige o tempo da leitura, você tem que ler aquilo, mas saboreando, não dá para você atropelar aquilo tudo e essa á a coisa do Facebook, que já tem até um termo no Facebook que  é o “textão”, as pessoas odeiam,  lá vem “textão”, o que é “textão” é alguém que escreveu alguma coisa grande e a  pessoa olha… e eles compartilham pedindo desculpa: estou compartilhando um texto aqui, é grande, é um “textão”, mas  vale  a pena  ler como se… só vale coisa que sejam drops e pequenininhos, fragmentos de informação que a pessoa, depois tem que fazer as conexões e ela não consegue conectar aquilo de jeito nenhum. Então esse é o mundo que nós estamos vivendo agora, seja rápido, seja objetivo, seja rápido, seja superficial e não mergulhe fundo, então quando você chega para mim e fala o seguinte: vou te dar uma aula sobre Platão, eu quero sair correndo, porque isso vai demorar, vai exigir que eu pense, eu vou ler três vezes e não vou entender, vou ter que ler de novo e eu não tenho mais tempo para isso, eu estou ocupado demais trabalhando. Qual é a idade média do povo que frequenta a Nova Acrópole, que vai lá para aprender?

Lúcia              Ah é muito variado, você não faz ideia, a gente dá aula para a partir de crianças, quatro anos.

Luciano          Que loucura.

Lúcia              A gente tem filosofia para crianças de 4 a 7 anos, depois um grupo de 8 a 13, depois de 14 a 17 e depois para adultos em geral, é uma coisa que não tem relação nenhuma, você não faz ideia, as pessoas às vezes têm um corpo jovem e uma alma velha, tão interessadas, tão inquietas, às vezes a pessoa mais velha já está muito enquadrada e muito alienada, às vezes o contrário, pessoas mais velhas chegam no contraste numa situação de vida, contraste gera consciência e desperta e quer ouvir, então não dá para você enquadrar, não existe uma relação direta entre idade do corpo e nível de lucidez, eu já encontrei lucidez extraordinária em meninos de 14, 15 anos e às vezes você não vê essa mesma lucidez num homem adulto que já se enquadrou muito, é muito variável.

Luciano          E é bastante gente que faz? Quando você fala assim são 100 pessoas por ano, são 1000 pessoas por ano, é um volume bom que procura vocês?

Lúcia              Os grupos são sempre pequenos porque na verdade fica impossível você ter um grupo, sei lá, de mais de 10, 15 pessoas fazer algum diálogo, não termina nunca, mas há unidades com uma maior quantidade de grupos e outras que são mais novas, estão começando agora, que tem pequeno número de grupos, mas em geral alguns grupos com essa média de alunos, a escola começa de uma maneira muito simples, improvisada, porque é um trabalho voluntário, tem uma salinha com vinte cadeiras de plástico onde a pessoa vai lá, fala e ás vezes tem uma escola que só tem aqueles vinte alunos, não tem nem onde colocar mais, à medida que vai crescendo, ela vai conquistando mais possibilidades.

Luciano          Você tem uma posição, todo professor tem uma posição privilegiada, ele tem uma janela onde ele enxerga um grupo interessante, no teu caso é ainda mais interessante porque não é a molecada que foi obrigada a ir na aula, mas é gente que optou por ir lá, então você tem na rua frente um monte de gente que foi lá voluntariamente, foi porque quis e só isso já cria um universo diferente e você passa pela tua mão um monte de gente aí. Você olha para esse povo todo aí, no final do dia o que fica na tua cabeça? Há esperança? Temos esperança… aquele país que você imaginava que existia que ia ser lindo e maravilhoso, eu não sei se vai existir um dia, mas quando você olha esse povo todo, o que sobra? Vale a pena o que eu faço todo dia, vale a pena soltar tanta semente, olha quanta gente tem brotando? Ou então essa é uma luta inglória que meia dúzia que sai daqui vai perder dos 2000 que estão lá fora, dos 2000 canalhas que estão lá fora, como é que você vê isso?

Lúcia              Sabe uma coisa que é interessante? Você olhar tuas fotos de 10, 20 anos atrás e perceber que você mudou em algumas coisas, porque se você mudou, significa que isso é possível, então nós não somos uma obra pronta, não estamos congelados, o ser humano é um ser em construção, é o grande problema do homem atual, eu costumo brincar, que é síndrome de Gabriela, “eu nasci assim, eu cresci assim, sou mesmo assim e vou ser sempre assim”, não, nós podemos mudar, essa percepção é de um poder que você não faz ideia, eu posso praticamente construir na minha imaginação o ser humano que eu quero ser e caminhar para lá nem que seja um pouquinho e se eu posso isso, é sinal de que todo mundo pode. O ser humano tem polaridades, você olha para esse caos que a gente está vivendo, mas olha também para, sei lá, o Nelson Mandela, olha para uma MadreThereza de Calcutá, olha para um artista como Mozart, o ser humano tem algo de divino dentro dele e se ele tinha, é sinal de que todo mundo tem potencial, é a condição humana, é fundamental para um filósofo trabalhar com a condição humana, mas é condição fundamental também que não seja ansioso, que não tenha fantasias, nós não chegamos a crises rápido, é uma crise que é construída historicamente, é um buraco de materialismo que vem sendo construído há séculos, o ser humano tem mania de polarizar, ele fanatiza no brinquedo que ele tem nas mãos, a idade média fanatiza na religião, agora fanatiza no materialismo e o pêndulo nunca para no meio, mas disso se trata que viemos ao mundo para construir a nós mesmos como seres humanos e através de nós sermos um exemplo de que o homem pode mudar, pode ser humano e que a felicidade humana reside em ser aquilo para o qual fomos construídos, não existe um ser humano mais feliz do que aquele que dorme e acorda do sono dos justos, aquele que está coerente consigo mesmo, aquele que está em paz com seus princípios, aqueles que têm um referencial para passar, porque do meu de opções da humanidade, tem que ser um ali que seja o ser humano, senão as pessoas não têm nem o que escolher, elas ficam sem nenhuma oportunidade, você tem que dar pelo menos uma mão para que seja base sólida, porque pode ser que ali no meio tenha um que queira voar e  o um é um ser humano, não é pouco. A história não é construída por quantidade, mas por qualidade, olha para trás e vê se não foram grandes homens, nobres, justos, altruístas que dobraram a história, não é massa, e a massa segue e o seguir desce um pouco.

Luciano          E ela será impactada exatamente pela qualidade dessa meia dúzia que são aqueles que pela qualidade vão surgir. Eu tenho feito um trabalho bastante grande de estudar essa questão como é que funciona, porque nós estamos aqui no mundo do podcast, há uma discussão muito grande de como é que você monetiza isso aqui, como é que eu faço um podcast e ganho dinheiro com podcast para poder sobreviver para continuar fazendo podcast. É diferente da mídia tradicional onde eu vou lá na Folha de São Paulo, alugo um pedaço da FSP, boto uma propaganda e consigo pagar o aluguel para a FSP para falar para o público da FSP, eu alugo espaço na Rede Globo para botar anúncio lá. O podcast não tem esse poder, ele chega na gente, publicidade nem existe, que não está nem aí para o podcast, então como é que eu monetizo, como é que eu ganho dinheiro? Pô, vamos tentar fazer com que o ouvinte pague o podcast e são sempre números pequenos que quando você tromba com a mídia social que está por aí, o pessoal bota na tua frente aquele youtuber que tem dez milhões de seguidores, o blogueiro que tem um milhão e meio de seguidores e que são pessoas que estão conectadas no volume de gente que nos acompanha, que é  a  mesma maldição que gere a televisão, então qual é o volume de audiência teu? 30% de audiência, então legal, 35 milhões de pessoas estão ouvindo esse programa, vale a pena anunciar nesse programa, ninguém pensa da qualidade dessa audiência, em quantidade, então se eu vou vender shampoo ou sandália, eu vou anunciar num programa que tem 35 milhões porque 1 milhão vão receber a mensagem, vou vender lá e a gente está pregando aqui que é o seguinte, eu não falo para 1 milhão, eu falo para 100 mil e desses 100 mil tem 2 mil que são teu target e é a qualidade desse público que interessa e ainda existe uma incapacidade muito grande das pessoas entender, vale muito mais a pena eu falar para 10 caras de qualidade do que para 100 mil que estão me ouvindo porque querem ver eu cair da cadeira e fazer uma baixaria ali e eu prego muito para o pessoal, faça parte dessa turma da qualidade, você está num grupo, não importa que só tem quatro aqui, são os  quatro que tem qualidade suficiente para se mexer, para entender, par fazer acontecer e talvez implementar as mudanças que vêm pela frente aí. Olha, uma hora e vinte que nós estamos conversando aqui, dá para ficar 26 horas falando aqui porque você é da minha praia.

Lúcia              Obrigada, é ótima a sua praia.

Luciano          Escuta, como é que a gente faz para encontrar o teu trabalho? Você tem uma série de vídeos que estão circulando por aí que são muito legais, eles estão num canal, como é que a gente acha isso?

Lúcia              Basta entrar no Youtube, você digita “Canal da Nova Acrópole”, ou digitando meu próprio nome, Lúcia Helena Galvão, você vai dar em uma série de palestras, todas elas são francas, não existe nenhum pagamento e nós também atendemos pedidos, às vezes as pessoas colocam lá: gostaria de ouvir algum tema. Esse Tao Te King que eu estou fazendo agora, que é um desafio, inclusive, ele foi pedido pelos que são inscritos no nosso canal.

Luciano          Tem um site da Nova Acrópole que eu possa entrar no site…

Lúcia              Tem, www.acopole.org.br, lá você encontra link pra tudo quanto é lugar.

Luciano          Encontra, inclusive, eu não sei como é que você chama, templo, escola, como é que chama?

Lúcia              Escola. Escola de filosofia.

Luciano          É uma escola de filosofia.

Lúcia              Aqui mesmo em São Paulo, nós temos várias, temos no Brasil inteiro. Espero te encontrar lá um dia para a gente fazer um bom bate papo.

Luciano          Eu vou ter que ir porque eu me alimento dessa inquietação filosófica aí, eu fico enlouquecido porque é aquilo que eu te falo, eu fui encontrar a base teórica para o trabalho que eu fazia nessas coisas que estão aí a 2000, 3000 anos, você vai pensando num jeito de ver a vida, um belo dia você encontra um livro, quando você lê o livro fala mas esse cara está falando aquilo que eu faço e eu não sabia que o que eu fazia seguia a linha kantiana ou etc e tal, mas está escrito aqui e isso é uma descoberta fabulosa, porque eu fico arrepiado cada vez que eu encontro e cada vez que eu encontro alguém que não é o garotão da moda que está lançando livro hoje, é alguém que viveu há 2000 anos e que tinha uma inquietação, esse cara não tinha Ipad, não tinha cellular, não tinha internet, não tinha nada disso, mas ele estava numa inquietação genuína que acho que você falou logo no começo, que é aquela coisa do iceberg, que tem uma pontinha fora da água e uma coisa muito grande por baixo. Essa pontinha é imutável, não matarás, isso vale em qualquer lugar do mundo, isso não é relativo, eu não posso relativizar, roubar outra pessoa, não dá para relativizar, isso é relativo, lá na China pode, no Brasil não pode, eu não consigo relativizar coisas tão básicas como não matar, como respeitar as pessoas e tudo mais. O que está embaixo da água até dá para relativizar, dependendo de onde você está, da condição que você vive aí, dá para relativizar, tem coisas que acontece no interior da Índia que jamais aconteceria aqui em São Paulo e que lá tem toda a consciência que aconteceu, eu vou até botar uma pimentinha aqui, eu tenho um patrocinador do Café Brasil, é a DKT, esses caras fabricam, eles distribuem preservativo, gel lubrificante, uma série de produtos relacionados ao sexo e fazem um trabalho maravilhoso que eles chamam de marketing social, isso é uma história muito legal, é um maluco, um visionário dos EUA que encontrou um jeito de causar impacto nas pessoas pobres do mundo, então o que ele fez? Ele montou um esquema de venda de produto, descobriu que o sexo ganha muito dinheiro e começou a fazer, até uma produtora de vídeo pornográfico, onde o dinheiro que ele ganha disso aí, ele pega e vai para o interior da Índia, o interior do Afeganistão, interior da África, pega as comunidades mais carentes que tem ali, bota um programa maravilhoso de controle de doenças transmissíveis, planejamento familiar, é muito legal o trabalho que eles fazem lá e uma parte desse trabalho que eles executam na Índia, tem a ver com a questão do aborto, então eles constroem clínicas de aborto e eles vendem produtos voltados para o aborto, lá na Índia, aqui no Brasil nem se toca no assunto, porque se você botar o assunto aqui vira um belzebu gigantesco e eu vou assistindo um desses vídeos deles, o fundador estava discutindo esse assunto lá e a pessoa colocou para ele essa questão moral, como é que você lida moralmente com essa questão do aborto e etc e tal e a resposta dele é genial, ele fala o seguinte, nós estamos atuando num lugar onde 160 milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia, é um caos social de uma forma tão brutal que você tem que parar de perpetuar essa miséria, essa miséria ela cresce de uma forma tão grande que não há o que fazer, não adianta mandar comida que a comida não vai chegar, tudo o que você fizer não dá resultado ali por causa do volume tão grande de miséria que existe ali, discutir o aborto numa condição dessa não tem moral nessa história, você tem que parar aquilo lá e uma forma de parar é educar as pessoas para não ter 16 filhos, pegar o miserável tem 16 filhos porque ele não tem nenhuma educação, ele não sabe como é que faz aquilo, ele não vai usar camisinha porque ele tem resistência cultural a isso, ele vai mais fazer o sexo com a major quantidade de mulher que puder e vai nascer miséria para todo lado e ele fala, o aborto surge como uma ferramenta que se para nós aqui é uma indignidade, lá é uma ferramenta de interromper esse ciclo. Eu não consigo fazer uma discussão moral num lugar onde 160 milhões vivem com menos de 1dólar, eu consigo fazer aqui, onde eu vivo tranquilamente, nós estamos aqui discutindo, estão resolvidos os principais pontos. E o dia que eu li, que eu assisti esse filme, eu falei é verdade, se eu não tiver no sapato do cara, eu não posso criticar as decisões que ele está tomando ali, se ele for um cara como eu, parecido comigo aqui do meu lado no seu dia a dia, eu consigo até comparar comigo, mas quando eu desloco isso e vou pra uma região onde… vou para  o interior do Ceará, o interior do Brasil, lá no nordeste, um lugar onde tem a seca, onde a pessoa é miserável, ela está morrendo, vê os filhos morrendo, ela vai tomar atitudes que eu não posso discutir do ponto de vista moral, só que você chegar  nesse ponto de poder se colocar nesse de olhar e falar o seguinte que legal, eu consigo criticar até determinado ponto, eu não posso  passar além disso porque eu não estou vivendo o que essa pessoa vive, é complicado, tem que ter um nível de compreensão de falar dá para criticar até aqui, até a quarta página eu consigo criticar, dali para a frente eu não posso mais. Quando você traz isso para uma realidade de mídia social, onde você bota um post ali e embaixo entram 35 comentários onde o primeiro comentário é de um moleque de 22 anos, está tudo errado, não é assim que funciona, é tudo superficial, não existe mais nada, você não consegue passar da superfície. Isso te angustia?

Lúcia              Sim, mas também considero que não é… dá para você passar para um nível mais elevado, ficar um pouquinho mais acima, mais para o atemporal, existe um livro chamado “Voz do Silêncio”, que se inspira numa obra tibetana, o livro dos preceitos de ouro que diz que o maior mal do mundo é a heresia da separatividade, que por trás de qualquer mal do mundo você vai encontrar uma única coisa, que é o egoísmo, então para você julgar se isso, nessa cisrcunstância é bom ou mal, esse espírito daquele cidadão é egoísta ou altruísta? O taoísmo ele diz que existem duas coisas na vida, que é você chegar à unidade como objetivo e você vencer o egoísmo. Qualquer avanço que você faça na vida, se esse avanço não te fez vencer um pouco o egoísmo dentro de você, isso não é uma virtude, isso é um vício com manto de púrpura, entende?  Então se você considera que o ser humano está fazendo isso porque naquela circunstância ajuda a humanidade, ele não está fazendo porque uma clínica ali é o melhor “negócião” do mundo, você tem que julgar sobre o aspecto de estar de aproximando da unidade, está te ajudando a vencer o egoísmo, isso é muito universal. E eu acho sensacional essa capacidade do taoísmo de levar as coisas à última instância, eu desafio você, Luciano, encontre um problema no mundo, um, tanto pessoal ou social, que o egoísmo não esteja escondido atrás, isso é heresia da separatividade. O mundo tibetano diz que todos os males surgem daí, então se a gente sai de circunstâncias concretas, sobre um degrau, você vai perceber que tem determinados princípios que te dão uma visão muito lúcida de tudo, porque se não a gente não teria como se locomover pelo mundo, tem que ter princípios universais que onde você desça, funciona, cadê o altruísmo? Cadê a humanidade? Cadê o uno? E cadê o egoísmo? bom, esse é  meu objetivo, esse é meu inimigo e se você está bem com essas duas coisas, as ações vão ser muito variadas, porque é assim mesmo, o ser humano é multifacetado, as culturas, as civilizações, masse eu tenho essas duas coordenadas, eu me encontro e estou tranquilo, você entende? Aí você tem que ir para trás e ver o que está movimentando as pessoas, não pode ficar na fachada,  isso é encontrar a essência das coisas, isso é a busca da filosofia, busca da sabedoria.

Luciano          Muito bem. Filosofia no LíderCast. Obrigado pela tua visita, adorei estar aqui e eu acho que eu vou ter que incomodar um pouquinho mais, sabe? Vou querer  e aproximar e sem dúvida nenhuma eu vou atrás de conhecer a Nova Acrópole, você abriu para mim aí uma janelinha que estava fechada aqui, que eu não conhecia por ignorância, absoluta ignorância, eu vou cutucar um pouquinho, vou atrás para saber um pouco mais, convido você que está nos ouvindo aí a dar uma sondada, deve ter uma Nova Acrópole perto da tua região aí, vai lá cara, não custa nada lá, você vai investir um pouco do teu tempo aí para ter contato com ideias e uns caras aí que já pensaram muito além dessa nossa vidinha aqui e talvez aquilo te ajude a abrir um pouco a consciência.

Lúcia              Muito obrigada, Luciano e realmente foi, não é nem conhecer, é reconhecer você, o pessoal não sabe que a gente se conhece há muito tempo

Luciano          Obrigado.

 

                                                                    Transcrição: Mari Camargo.