TRIVIUM: CAPITULO 2 – AMBIGUIDADE DA LINGUAGEM (parte 10)
Alexandre Gomes - Iscas Conhecimento -Já que uma PALAVRA é um SÍMBOLO, um SIGNO ARBITRÁRIO ao qual é imposto um significado por convenção, é natural que esteja sujeita (a palavra) à AMBIGUIDADE. E isso pode surgir de alguns pontos:
- DO TEMPO: no curso do tempo, vários significados foram impostos à palavra. E essa ambiguidade pode ser tanto pelo som, como pela grafia. Por exemplo: road e rode tem pronúncia idênticas para quem ouve, mas cada uma tem um significado, e nasceram em períodos diferentes do tempo, pois o substantivo “road” é anterior ao verbo “rode”. Mesmo não sendo linguista, basta observar o vocabulário de uma criança evoluindo. As conjugações verbais não nascem espontaneamente!
- DA NATUREZA DO SÍMBOLO: desta natureza brotam as três imposições de uma palavra e as duas intenções de um termo. (irei explicar todos, tenha paciência guria!)
- DA NATUREZA DO FANTASMA: pois é daqui que a palavra é originalmente um substituto – do FANTASMA.
Detalhando melhor os três casos acima, com exemplos, temos:
- MUDANÇA NO TEMPO: Em 1936, o termo “QUINTA COLUNA” passou a também significar “grupo de traidores trabalhando dentro do território do inimigo”. Esse novo significado começou, por conta do que o General Emílio Mola declarou que iria certamente capturar Madri porque tinha uma coluna a mais, além das quatro que cercavam a cidade. Veja, se ele tivesse apenas três colunas, o novo termo que usaríamos até hoje seria “Quarta Coluna”. Outro exemplo: “marcha” é um termo que designa um passo medido e regular; muito comum entre militares. A mesma palavra (marcha), passou também a designar um tipo específico de composição musical, criada justamente para acompanhar o MARCHAR DOS SOLDADOS!
- DA NATUREZA DO SÍMBOLO: veja, o propósito último das palavras é TRANSMITIR A OUTREM IDEIAS ACERCA DA REALIDADE. Ocorre que entre a realidade como tal e como esta é apreendida e expressa, existem PASSOS INTERMEDIÁRIOS que unem esses dois pontos distintos, que são:
– a criação de um fantasma;
– a criação de um percepto;
– a criação de um conceito.
Note que o uso COMUM das palavras é para DESCREVER A REALIDADE COMO SE VÊ, este é o uso da palavra na PRIMEIRA INTENÇÃO: PREDICATIVA. A intenção predicativa é quando uma PALAVRA é dita sobre outra PALAVRA, em outras palavras: quando uma palavra se refere à outra. Perceba também que o uso predicativo é bem parecido com o que aprendemos no colégio, sobre estrutura de orações: sujeito + predicado. A PRIMEIRA INTENÇÃO é quando a palavra (predicado) se refere à realidade, ou algum aspecto da mesma (o sujeito).
LEMBRANDO QUE ainda há outros usos da palavra. Uma palavra pode ser usada para se referir a SI MESMA! Parece estranho para você? Talvez seja apenas incomum, mas esse uso REFLEXIVO é a SEGUNDA INTENÇÃO. Veja abaixo uns exemplos do uso nas Primeira e Segunda intenções:
– Juliana gosta de um HOMEM.
Nesta frase, “homem” é um exemplo de homem real, que existe como tal. Logo, a palavra é usa da PRIMEIRA INTENÇÃO, a PREDICATIVA. Uma vez que, além de representar um aspecto da realidade, retrata também sua relação com outro indivíduo: Juliana.
– HOMEM tem CINCO LETRAS.
Note que aqui, a palavra “homem” deixou de tratar da REALIDADE e se voltou para ela mesma. Ou seja, na frase acima o que vemos é a SEGUNDA INTENÇÃO, a REFLEXIVA. Você compreende que, neste exemplo, a palavra “homem” não se refere a um indivíduo, ou a algum elemento do mundo real? O que está sendo dito na frase é EXCLUSIVAMENTE referente ao conjunto de letras (em um idioma específico) que formam a palavra HOMEM.
Destaquei o detalhe do idioma para que você não se confunda e pense que o significado tem alguma importância quando o foco está na SEGUNDA INTENÇÃO. Perceba o seguinte; uma tradução correta para o inglês da frase acima é: HOMEM have five letters – e NUNCA (!) “MAN have five letters”, ou ainda, o tradutor maroto espertamente escreveria “MAN have three letters”.
Para concluir, se compararmos as duas frases:
– Juliana gosta de um HOMEM, e
– HOMEM tem cinco letras.
É CLARO QUE ESTAMOS FALANDO DE duas coisas diferentes. Ou você acha que Juliana gosta de cinco letras?
Em síntese, temos o seguinte: por conta da sua NATUREZA, as palavras (símbolos) nos permitem expor nossos PENSAMENTOS, nossas EMOÇÕES e nossas VONTADES, e podem ser utilizadas de três formas ou IMPOSIÇÕES.
– PRIMEIRA IMPOSIÇÃO: é a habitual. É a imposição PREDICATIVA. Nesta imposição, a palavra serve como REFERÊNCIA A ALGO DO MUNDO REAL – seja esse algo tangível ou intangível (aquilo que pode se tocar ou não).
– IMPOSIÇÃO ZERO: é o uso REFLEXIVO que falei antes desta síntese (note que eu regredi para zero, porque a palavra deixou de “apontar” para algo e se voltou para si mesmo. para reforçar essa ideia de retorno, a contagem regrediu para zero). Retornando… o uso REFLEXIVO é quando o objetivo é comunicar/expressar algo sobre a palavra em si – sem relação alguma com seu significado.
– SEGUNDA IMPOSIÇÃO: é também o uso REFLEXIVO, referindo-se a palavra em si, mas é MAIS ESPECÍFICA nesta imposição, pois a referência é tanto para o significado sensível (1ª. IMPOSIÇÃO) quanto ao significado da palavra livre do que representa (IMPOSIÇÃO ZERO). Este USO ESPECÍFICO está confinado à GRAMÁTICA. Afinal, não se pode classificar uma palavra pela Gramática. Exemplos, certo?
Pular é um verbo;
Bolo é o objeto direto de “ele está comendo o bolo”.
E agora, condensando em um exemplo só, as TRÊS IMPOSIÇÕES:
Friamente é um advérbio, e advérbio tem oito letras.
Na frase acima, “friamente” está na SEGUNDA IMPOSIÇÃO: a gramatical reflexiva, advérbio está na PRIMEIRA IMPOSIÇÃO – a habitual, pois está descrevendo um objeto da realidade (a palavra “friamente”). Por último, a segunda vez que a palavra adverbio aparece é na IMPOSIÇÃO ZERO, pois está sendo REFLEXIVA simples, pois contar as letras não é muito gramatical, não é? Ou seja, o aspecto REFLEXIVO é uma simples notação, uma vez que não importa o SIGNIFICADO da palavra, nem o IDIOMA em que está escrito. Só importa a quantidade de CARACTERES utilizados.
Lá no começo eu falei que a NATUREZA DA PALAVRA, ou SÍMBOLO, tem três imposições e duas intenções. A síntese das imposições está logo acima, vamos agora para uma melhor compreensão das DUAS INTENÇÕES juntando com o que foi dito sobre as TRÊS IMPOSIÇÕES:
– PRIMEIRA INTENÇÃO: corresponde exatamente a uma palavra na PRIMEIRA IMPOSIÇÃO. Ou seja, é o uso habitual (comum) da palavra.
– SEGUNDA INTENÇÃO: é semelhante ao uso REFLEXIVO da IMPOSIÇÃO ZERO. Porém, é limitada a referir-se a si mesmo como um termo ou conceito. Por isso, a SEGUNDA INTENÇÃO se restringe apenas à LÓGICA.
Agora… voltando lá para o começo deste tema, onde aponto que a escolha das PALAVRAS e seu SIGNIFICADO é arbitrário – ou seja, alguém, em algum momento, decidiu nomear algo. a partir de então AQUELA PALAVRA PASSOU A TER SIGNIFICADO. SENTIDO! Não se poderia mais tirar isso daquela palavra. Mas isso acontece. Através da ignorância e repetição. Exagero?
Então repita “jaca” umas sete vezes e perceba que estará ouvindo dizer “cajá”.