Banimento
Jorge De Lima - Iscas Olhos&Alma -Você já sofreu com a intolerância e com o preconceito? Consegue imaginar as consequências psicológicas de quem sofre com isto? Você já se sentiu excluído ou banido de um determinado grupo?
Era acadêmico de psicologia quando atendi meu primeiro caso, de uma jovem mulher que havia sido expulsa de casa por sua mãe, por que havia se assumido lésbica. A paciente havia sido abusada sexualmente pelo pai, um ébrio durante cinco anos. Virou homossexual e passou a ser a vergonha da família, que se rebelou em um motim, que se alastrou por toda família, avós, tios , primos. Era uma proscrita, banida, jogada no mundo e não podia voltar atrás. Era como o bode expiatório, no sacrifício descrito na antropologia clássica por Tylor e Frazer.
O abandono é uma ferida psíquica que maltrata muito quem a carrega. Um trauma. Todo preconceito machuca muito sua vítima. Os preconceitos são um tema ao qual venho me dedicando. Diariamente convivo com eles seja por ser deficiente, seja por tratar pessoas em sofrimento intenso. Problemas raciais, de gênero, classe evidenciam o quanto os preconceitos no Brasil são naturalizados, ou seja são comuns, fazem parte de uma construção cultural discursiva. O preconceito esta na legislação, na intolerância religiosa, na política, nas igrejas é a base do radicalismo, do fanatismo da violência urbana. Não aceitar o que é diferente. Diariamente vejo pacientes psiquiátricos que sofrem pelo preconceito.
Ao longo de minha vida como analista e psicólogo clínico atendi muitas pessoas com a personalidade destruída, com a auto estima baixa, sentindo se mal por serem humilhados ao longo da vida, por serem constitutivamente diferentes do padrão coletivo.
Certa vez atendi um rapaz que brigava com Deus. Era profundamente revoltado com a sociedade e com as religiões. Um outro ser banido que morava longe de sua família, que além de não aceitá-lo o excluiu. Por ser um exímio profissional superou as dificuldades financeiras iniciais, mas passou fome, sentia muita solidão, abandono, havia se tornado um ser errante. Por ser habilidoso com as artes se refugiou em uma igreja protestante. Era recluso em sua intimidade e seguia as normas da igreja com fidelidade. Até que um pastor o alicia, passa a abusá-lo sexualmente, e quando o escândalo aparece o expulsa da igreja, lhe chamando de satanás de vergonha divina. Duplamente banido primeiro da família agora por deus da igreja.
Vi em minha vida profissional várias histórias dramáticas deste estilo. Pessoas que começam a sofrer preconceito dentro da própria família, muitos vitima de pedofilia, de abuso sexual infantil, dentro do próprio núcleo familiar, e posteriormente banidos após se assumirem homoafetivos . E o que é esta família? Este é outro tema temido em nossa sociedade, pouco discutido, negado, abafado. No preconceito familiar para com as pessoas homoafetivas. Os traumas, o banimento familiar, intolerância, a vergonha, o evitar, descaso, negação que ocorre nas relações familiares junto as pessoas homoafetivas. O preconceito que inicia dentro da família.